Correio braziliense, n. 19239, 28/01/2016. Brasil, p. 6

Operação de guerra

Notificações de microcefalia já chegam a 4.180 casos. Governo anuncia ação das Forças Armadas

O governo anunciou ontem mais um avanço no número de casos de microcefalia no país, que já chegam a 4.180, confirmando tendência de crescimento registrada desde outubro do ano passado. Em relação ao boletim anterior, divulgado há uma semana, 287 novas notificações foram feitas pelas secretarias de saúde. As ocorrências foram registradas em 830 municípios de 24 unidades da federação. O aumento do número de bebês nascidos com a condição, relacionado à infecção pelo vírus zika, levou o Ministério da Defesa a mobilizar 220 mil soldados do Exército para ajudar no combate ao mosquito Aedes aegypti.

Do total, 270 casos já tiveram o diagnóstico de microcefalia confirmado e 462 foram descartados. Seguem sob investigação 3.448 suspeitas. Dos 68 óbitos informados, 51 continuam sendo estudados. A Região Nordeste, onde primeiro se identificou o problema, concentra 86% dos casos. O estado de Pernambuco tem 1.125 suspeitas em análise, seguido por Paraíba (497), Bahia (471), Ceará (218), Sergipe (172), Alagoas (158), Rio Grande do Norte (133), Rio de Janeiro (122) e Maranhão (119).

Benefício

O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) anunciou que as crianças com microcefalia têm direito a receber um salário mínimo mensalmente. O Benefício de Prestação Continuada (BPC) é oferecido a idosos com mais de 65 anos e a pessoas deficientes de qualquer idade cuja renda familiar por pessoa seja menor que um quarto do salário mínimo — R$ 220. O auxílio, assegurado desde 1988 pela Constituição Federal, exige avaliação médica e social junto ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Em todo o país, 4,2 milhões de pessoas são beneficiadas, representando um total de R$ 48,3 bilhões no orçamento deste ano.

Batalha

O Ministro Aldo Rebelo divulgou, na tarde de ontem, as ações do Ministério da Defesa no plano nacional de enfrentamento ao mosquito, estabelecido pelo Ministério da Saúde no final de 2015. Rebelo informou que a meta é visitar 3 milhões de residências em ação que se realiza no sábado 13 de fevereiro. Segundo o ministro, o orçamento disponível para a ação é de R$ 115 milhões.

Um contingente de 220 mil homens emulheres das Forças Armadas foi disponibilizado para integrar as equipes de agentes comunitários em 300 municípios de todas as unidades da Federação — todas as capitais e 115 cidades consideradas endêmicas.

Os militares atuarão nas visitas a domicílios e na aplicação de larvicida, composto químico que impede o nascimento das larvas do Aedes. A meta é visitar 3 milhões de residências. Em outra etapa, marcada para 15 a 18 de fevereiro, 50 mil soldados vão distribuir larvicidas. Os militares farão, ainda, campanhas educativas dentro das escolas de ensino público, sem data fixa para acontecer, já que dependem do calendário da rede de ensino.

Dilma

A presidente Dilma Rousseff defendeu, também nesta quarta-feira, o ministro da Saúde, Marcelo Castro (PMDB), e disse estar “bastante satisfeita” com ele. Castro afirmou duas vezes, nos últimos seis dias, que o Brasil está “perdendo feio” a batalha contra o mosquito Aedes aegypti “há pelo menos uns 30 anos”, mas, para Dilma, ele “domina” o assunto e foi mal interpretado.

“A batalha não está perdida, não. Isso não é o que ele está pensando nem o que ele disse. O que ele disse é que, se nós todos não nos unirmos, e se a população não participar, nós perdemos esta guerra”, afirmou a presidente, em Quito, onde participou da IV Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).