Título: PMDB ensaia traição
Autor: Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 29/09/2011, Política, p. 10

Ala do partido pretende manter a presidência do Senado em 2013 e estuda forma de evitar que o próprio líder, Henrique Eduardo Alves, assuma o comando da Câmara

A cabeça do presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), Flávio Dino, está na mesa de negociações que PMDB e PCdoB estão travando com o objetivo de encontrar a solução para a candidatura de Renan Calheiros (PMDB-AL) à presidência do Senado em fevereiro de 2013. A fim de evitar a regra do rodízio e manter o comando do Senado, uma ala da cúpula do PMDB mais afinada com Renan inicia o movimento de desidratação da pré-candidatura do deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), prometendo apoio ao deputado Aldo Rebelo (PCdoB) na disputa pela presidência da Câmara quando a gestão de Marco Maia (PT-RS) chegar ao fim.

O PMDB já acenou com o apoio a Aldo para enfraquecer de antevéspera o atual líder do partido, pois a legenda não pode presidir as duas Casas ao mesmo tempo e a preferência da cúpula partidária é pelo Senado, mais especificamente por Renan. O senador José Sarney (PMDB-AP) exerce segundo mandato consecutivo de presidente e não pode concorrer em 2013. "Perderemos o anel para não perder os dedos", resume um parlamentar do PMDB ao Correio.

Para apoiar Aldo, no entanto, os peemedebistas pedem um "bônus" aos comunistas. A negociação envolve a "devolução" da Embratur, comandada por Dino, ao PMDB. Os aliados de Renan alegam que o partido deve assumir o instituto para "amarrar o Ministério do Turismo", entregue a Gastão Vieira após a saída do correligionário Pedro Novais, afastado por denúncias de irregularidades. A presença de Flávio Dino em um órgão estratégico da pasta capitaneada pelo PMDB do Maranhão incomoda a cúpula do partido. O atual presidente da Embratur foi adversário de Roseana Sarney (PMDB) na disputa pelo governo maranhense no ano passado. Dino é considerado o nome mais forte para vencer o PMDB no estado em futuras eleições e fez sua carreira política como oposição ao partido no Maranhão. Questionado sobre a suposta pressão do PMDB, o líder do PCdoB no Senado, Inácio Arruda (CE), desconversa. "O Flávio Dino está fazendo um excelente trabalho na Embratur, não há porque falar isso."

Campanha Assim como Renan, Aldo Rebelo está com a campanha na rua. Na próxima semana, ele deve se reunir com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), para conversar sobre a eleição da deputada Ana Arraes (PSB-PE) para o Tribunal de Contas da União (TCU). Aldo e Ana ¿ mãe de Campos ¿ se enfrentaram pelo cargo de ministro da Corte. O apoio do PSB à candidatura do comunista na Câmara poderia funcionar como compensação.

Mas o histórico de Aldo com o PSB não ajuda. Em 2005, quando o então presidente da Câmara Severino Cavalcanti deixou o cargo após denúncias, o então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, convocou reunião para decidir quem o governo apoiaria para a sucessão. Lula mostrou preferência por Campos, então deputado, mas o socialista afirmou que tinha a intenção de disputar o governo de Pernambuco e indicou Aldo. A gentileza, no entanto, não foi retribuída nas disputas futuras pelo comando da Casa e o comunista mantém dívida com o PSB.

Colaborou Paulo de Tarso Lyra

Bancadas As duas maiores bancadas do Congresso, PT e PMDB, têm um acordo para revezar o comando da Câmara. No início deste ano, os peemedebistas apoiaram a candidatura do deputado Marco Maia (PT-RS) e receberam dos petistas o compromisso de que indicariam o presidente no próximo biênio, que tem início em 2013. Também faz parte do acordo que um dos partidos não acumule a presidência das duas Casas no mesmo biênio. Assim, pelo acordo, o PMDB não continuaria com o comando do Senado no próximo mandato.