Correio braziliense, n. 19.241, 30/01/2016. Política, p. 3

Dirceu reconhece "culpa"

Em depoimento a Sérgio Moro,o ex-ministro admite que lobista pagou reforma do apartamento e da casa dele

O ex-ministro chefe da Casa Civil José Dirceu “admitiu suas culpas” em depoimento prestado, na tarde de ontem, ao juiz federal Sérgio Moro. Réu em ação penal por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, o petista está preso desde 3 de agosto. Ele respondeu a todas as perguntas na audiência. “Esclareceu tudo, disse que é verdade que o Milton Pascowitch (lobista e delator) pagou a reforma do seu apartamento e da sua casa”, contou o advogado Roberto Podval, defensor de Dirceu, após o depoimento.

Dirceu negou ter indicado o engenheiro Renato Duque para a Diretoria de Serviços da Petrobras. Duque, apontado como cota do PT na Petrobras, também é réu da Lava-Jato porque sob seu controle teria operado um dos principais focos de corrupção na estatal.

“Não indiquei Renato Duque, eu não o conhecia, não o conhecia antes desses fatos (investigação da Lava-Jato). Havia um pedido do PSDB (para uma diretoria da estatal), uma indicação absolutamente legítima. Eu já tinha uma indicação do PSDB por conta de Furnas e havia uma outra pessoa indicada pelo PT. Eu preferi indicar porque já tinha PSDB para Furnas. Eu não tinha nenhum interesse pessoal com Renato Duque. Como ministro da Casa Civil, assinei. A última palavra era minha para todas as pessoas, todos os ministérios. Eu não tiro a minha responsabilidade”, respondeu Dirceu, de acordo com o seu advogado.

O ex-ministro admitiu ter usado um jatinho de outro lobista e delator, Julio Camargo. Segundo Podval, ele falou: “Os aviões me foram cedidos. A vida inteira me foram cedidos. Foram cedidos por ele (Júlio Camargo), foram cedidos por outros. Eu sempre voei e sempre me deram”.

O advogado de Dirceu informou que esse fato nunca foi escondido. “Ou seja, nunca ninguém escondeu isso. Até então era bacana ser amigo do Zé Dirceu. Era bacana oferecer o avião para o Zé Dirceu. Claro, nas costas dele estavam ganhando dinheiro em cima disso”, declarou.

 

Delação premiada

“Os seus pecados, o Zé Dirceu admitiu”, afirmou o criminalista, referindo-se ao relato do ex-ministro ao juiz Moro. “Tentou ser o mais claro possível, o mais correto possível. É só olhar as propriedades, o dinheiro que ele (Dirceu) tem para saber qual é a verdade disso. Muitos delatores devolveram muito dinheiro, 80 milhões, ficaram com 40, estão soltos e dando risada por aí. O Zé está preso”, disse.

Antes de ter início o depoimento do ex-ministro José Dirceu, os advogados do petista descartaram qualquer possibilidade de ele firmar acordo de delação premiada. A defesa de Dirceu afirmou que a delação não é uma opção para Dirceu, porque ele tem caráter. Os advogados também afirmaram, antes do interrogatório, que o empresário ligado ao PT Fernando Moura, um dos delatores da Operação Lava-Jato, não tem credibilidade para ser ouvido como colaborador da Justiça. Quatro advogados de Dirceu pediram ao juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações penais da Operação Lava-Jato, que seja indeferido o pedido do Ministério Público Federal para novo interrogatório de Moura.

Na noite da quinta-feira, a procuradoria requereu a Moro que ordene novo interrogatório de Moura em razão de “flagrante contradição” no depoimento que ele prestou há uma semana e um trecho de sua colaboração premiada, firmada em agosto de 2015. O pedido foi subscrito por 11 procuradores da República que compõem a força-tarefa da Lava-Jato. Eles destacam “a prova falsa produzida por Fernando Moura em juízo”.

“Ou seja, nunca ninguém escondeu isso. Até então era bacana ser amigo do Zé Dirceu. Era bacana oferecer o avião para o Zé Dirceu”

Roberto Podval, advogado do ex-ministro José Dirceu

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