Correio braziliense, n. 19.241, 30/01/2016. Brasil, p. 5

"ESTAMOS PERDENDO A LUTA"

Presidente admite que o país sofre derrota na batalha contra o mosquito transmissor do zika. Em telefonema a Obama ontem, Dilma e o colega norte-americano combinaram trabalho conjunto

Por: NAIRA TRINDADE

 

NAIRA TRINDADE

 

A proliferação do mosquito Aedes Aegypti e o avanço no registro de casos de zika, dengue e chikungunya fizeram com que a presidente Dilma Rousseff assumisse ontem que o país está perdendo a batalha para o transmissor.  “Nós estamos perdendo a luta contra o mosquito, porque enquanto o mosquito se reproduzir, todos nós estamos perdendo. Nós temos de nos mobilizar para ganhar a luta. Então, perguntarei a vocês: em quantos vasos vocês botaram areia? Cada um de nós precisa fazer isso”, disse a presidente depois de videoconferência que deu início ao “faxinaço” que o governo promoveu em prédios públicos.

Na largada da limpeza geral que o Executivo faz “dentro de casa”, foram distribuídos panfletos em órgãos como ministérios, autarquias, estatais e agências. Com o lema “Um mosquito não é mais forte que um país inteiro” e a hashtag #zikazero, a presidente encampa uma força tarefa de mobilização e conscientização para que as pessoas tentem barrar a multiplicação do Aedes. “Não tem vacina. Diante disso, o que os governos responsáveis e cidadãos têm de fazer? Erradicar o criadouro do mosquito”, cobrou a presidente.

“Os governos, as igrejas, os times de futebol, os sindicatos, cada um de nós temos de eliminar água parada, de piscina, de vaso de flor, nos depósitos de resíduos sólidos, dentro de um pneu, numa tampa de refrigerante, porque ali é o criadouro do vírus”, frisou Dilma, ao fazer um apelo a líderes comunitários. Sem controle do contágio do zika, o governo se empenha em tentar cortar o mal pela raiz. “Esse é o momento em que a fêmea do mosquito põe 400 ovos, que se transformam em larvas e, durante dois meses, será um processo que pode levar à contaminação de muita gente”, disse.

Dados do Ministério da Saúde mostram a gravidade do problema que o país enfrenta por causa do descontrole com o mosquito. A quantidade de infectados pelo vírus da dengue saltou de 589 mil, em 2014, para 1,6 milhão, em 2015. Os casos notificados de bebês com microcefalia chegam a 4.180, em 24 unidades da Federação, segundo o último boletim divulgado pelo Ministério da Saúde. Apesar de os números mostrarem o avanço da doença, o governo evitava aceitar que não tinha o controle da situação.

O ministro da Saúde, Marcelo Castro, acabou reprimido pelo Planalto quando admitiu que o governo não estava conseguindo impedir a multiplicação do mosquito. “Para quê criar um problema com a constatação da realidade? Dizer que nós estamos perdendo é porque nós queremos ganhar. Estamos dizendo que, se não nos mobilizarmos, nós vamos perder isso”, emendou a presidente, após reunião de mais de uma hora, por videoconferência, com cinco governadores e ministros.

Os chefes dos executivos estaduais de Pernambuco — estado com maior incidência de microcefalia — Paraíba, Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo participaram da discussão e traçaram estratégias de combate ao mosquito nos estados. Como ainda não há vacina, o governo enxergou na campanha de combate à larva a única saída para tentar conter o avanço. “A boa notícia — que nos foi dada pelo governador (Geraldo) Alckmin — é que ns segunda-feira eles já começam os testes para a vacina da dengue, que está sendo desenvolvida lá no Instituto Butantã”, afirmou. A vacina teve a última fase para testes em humanos liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em dezembro do ano passado e será testada em 13 cidades, entre elas São Paulo, Manaus, Belo Horizonte e Recife. Ao todo, 17 mil pessoas de todo o País devem participar do estudo em 14 centros de pesquisa. A estimativa é de que a vacina seja distribuída na rede pública em 2017.

 

“Enquanto o mosquito se reproduzir, todos nós estamos perdendo”

Dilma Rousseff, presidente da República

 

“Os governos, as igrejas, os times de futebol, os sindicatos, cada um de nós temos de eliminar água parada”

Dilma Rousseff, presidente da República