Correio braziliense, n. 19.240, 29/01/2016. Brasil, p. 6

Zika deve contaminar 4 milhões de pessoas

SAÚDE » OMS prevê 1,5 milhão de casos no Brasil e crescimento %u201Cexplosivo%u201D de contaminações

Por: NÍVEA RIBEIRO

NÍVEA RIBEIRO

ESPECIAL PARA O CORREIO

 

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou ontem que quatro milhões de pessoas nas Américas serão infectadas pelo vírus zika. Desse total, 1,5 milhão de casos devem se dar no Brasil. A expansão é considerada “explosiva” pela Organização, que realizou na manhã de ontem um encontro com os países-membros em Genebra, na Suíça, para discutir a epidemia.

A expansão das infecções no Brasil repercutem no exterior principalmente em função das Olimpíadas, que ocorrem em agosto, no Rio de Janeiro. O jornal norte-americano New York Times, publicou ontem em seu portal na internet que há risco de o zika se espalhar para o mundo a partir do evento, que deve trazer ao país até de 500 mil pessoas, segundo estimativa da Embratur.

Na próxima segunda-feira, um comitê de emergência da OMS se reúne para discutir a epidemia de zika. A OMS analisa se a epidemia do vírus se configura como emergência em saúde pública de importância internacional, como foi a do ebola no ano passado.

Segundo a Organização Pan-americana de Saúde (Opas), desde o ano passado, 23 países e territórios americanos notificaram circulação autóctone do vírus — o Aedes aegypti só não está presente no Chile e no Canadá.

“O vírus irá para todos os lugares onde o mosquito está”, afirmou Marcos Espinal, diretor do departamento de doenças transmissíveis da Opas. De acordo com a diretora-geral da OMS, Margaret Chan, o perfil de risco do vírus passou de uma ameaça leve para uma de proporções alarmantes. Preocupam também a falta de imunidade da população ao zika, a falta de vacinas, de tratamentos específicos e de testes rápidos.

Uma das maiores preocupações com o zika é a correlação da infecção do vírus com a microcefalia — malformação congênita que pode resultar em comprometimentos neuromotores em diferentes graus. Até 23 de janeiro, foram notificados no Brasil 4.180 casos suspeitos da condição em 24 unidades federativas.

 

Demora

“Desde que o Ministério da Saúde identificou o aumento de casos de microcefalia na Região Nordeste, em outubro de 2015, o evento foi reportado imediatamente à Organização Pan-americana de Saúde (Opas), mesmo que ainda não soubéssemos a causa, justamente para que o mundo pudesse acompanhar e ajudar nas investigações”, disse o diretor do departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch, que acompanhou o evento em Genebra por videoconferência.

A pasta considera que a disseminação do zika nas atuais proporções é inédita e que é de “fundamental importância” o envolvimento da OMS. “Este reconhecimento internacional vai facilitar, por exemplo, a busca de parcerias em todo o mundo, reunindo todos os esforços de governos e especialistas para enfrentar a situação”, disse o ministério em nota. “A ideia é buscar soluções tanto para melhoria nas medidas de prevenção e combate ao Aedes aegypti quanto na busca de novas tecnologias, como o desenvolvimento de uma vacina contra o vírus.”

O New York Times, no entanto, em editorial, acusou a OMS de lentidão nas ações de controle da epidemia de zika. Para o infectologista Dalcy Albuquerque Filho, a OMS reagiu a tempo, já que a doença era considerada simples até o aumento no número de casos de microcefalia, em outubro. O especialista afirma que a organização deveria agora concentrar esforços no controle do surto da malformação e de outros desdobramentos neurológicos relacionados ao zika.

“As medidas preventivas de zika já existem em boa parte do países das Américas, pois, na maioria, já há dengue. Neste momento, não temos armas melhores para combater o Aedes do que as que já utilizamos há décadas. Para eliminar o mosquito de fato, temos que investir em novas ferramentas de combate”, alertou Albuquerque.

O New York Times publicou, ainda, que a expansão do zika pelo mundo a partir das Olimpíadas no Rio preocupa particularmente os Estados Unidos. “Cerca de 200 mil americanos devem viajar ao Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos em agosto. Quando eles retornam para o Hemisfério Norte, que estará no calor do verão, muito mais mosquitos poderão transmitir o vírus nos Estados Unidos”, publicou o veículo.

 

Frase

“O vírus irá para todos os lugares onde o mosquito está”

Marcos Espinal, diretor do departamento de doenças transmissíveis da Opas

_______________________________________________________________________________________________________

Dilma participa de "faxinaço"

Por: Naira Trindade

Naira Trindade

 

No intuito de travar uma batalha para combater o mosquito transmissor do zika vírus, da chicungunya e da dengue, a presidente Dilma Rousseff participa hoje da primeira ação de um faxinaço que pretende fazer em todos os ministérios e autarquias, eliminando possíveis focos do mosquito. Ao lado dos ministros da Saúde, Marcelo Castro, e da Integração, Gilberto Occhi, Dilma vai tratar medidas de combate ao transmissor com ministros e governadores, via videoconferência, na sala Nacional de Coordenação e Controle de Enfrentamento à Microcefalia.

Na ação, prevista para as 10h, no Setor Policial Sul, a presidente vai mostrar que o governo federal está disposto a dar o exemplo e fazer o dever de casa limpando os prédios públicos federais para impedir a proliferação do Aedes aegypti. Preocupada com o avanço no número de casos de microcefalia, a presidente tem se empenhado em fazer reuniões com ministros para defender maior atuação no combate à epidemia. A presidente está disposta a pedir ajuda a líderes religiosos para conscientizar o maior público possível em favor de controlar a proliferação.

Na semana passada, numa reunião emergencial no Palácio da Alvorada, a presidente discutiu a elaboração de campanhas informativas nas escolas públicas e privadas para ter início com a retomada das aulas, logo após o Carnaval. Além disso, o Exército Brasileiro também entrou no circuito para atuar contra o Aedes em regiões com maior número de casos, como nos estados do Nordeste.

Cerca de 220 mil homens e mulheres das Forças Armadas devem fazer um mutirão em mais de 300 cidades brasileiras, incluindo todas as capitais e os municípios com mais casos de contaminação.

 

220

Número de integrantes das Forças Armadas que devem participar de mutirão em 13 de fevereiro para combater proliferação do Aedes aegypti