Correio braziliense, n. 19.240, 29/01/2016. Cidades, p. 19

ENTORNO QUER DINHEIRO DO DF

Governador reúne-se com prefeitos de cidades goianas e oferece equipamentos e pessoal na luta contra o Aedes aegypti, mas vizinhos pedem ajuda financeira. Em casa, Renato Santana critica combate feito em Brasília e Rollemberg se irrita

Por: Otávio Augusto

 
» OTÁVIO AUGUSTO
 
 
Pelo menos sete municípios do Entorno estão em alerta para o alto índice de contaminação de dengue. Luziânia (656), Valparaíso de Goiás (376), Padre Bernardo (188), Santo Antônio do Descoberto (166) e Águas Lindas (133) lideram o ranking de infecções — a Secretaria Estadual de Saúde de Goiás colocou as duas primeiras cidades em situação de alto risco de contágio, devido à incidência do Aedes aegypti. As autoridades sanitárias não conseguem entrar em 40% das casas nos municípios vizinhos do DF. O governador Rodrigo Rollemberg (PSB) defende que o combate não tenha fronteiras e aposta em uma ação conjunta entre a capital e Goiás para debelar a crise. Entretanto, tem que lidar com os problemas de casa. Ontem, o vice-governador, Renato Santana, criticou o combate exercido na cidade, o que desagradou ao titular do Buriti.
 
O Executivo local quer atenuar os problemas que o avanço do inseto no Entorno possa causar na capital federal. Das residências visitadas em Valparaíso de Goiás, a 37km do Plano Piloto, por exemplo, 72,54% estavam fechadas. Isso significa que, a cada 100 casas, os agentes fiscalizaram apenas 28. Ontem, Rollemberg se reuniu com prefeitos para estabelecer critérios de trabalho. O socialista está disposto a oferecer equipamentos, como carros fumacês, e agentes de vigilância epidemiológica. Contudo, os goianos querem dinheiro. “Por enquanto, não haverá nenhum tipo de repasse financeiro. Precisamos reforçar a necessidade de uma integração cada vez maior no combate ao mosquito da dengue. As equipes vão definir na semana que vem os detalhes”, explicou o governador.
Santo Antônio do Descoberto, a 40km de Brasília, recebeu do GDF dois carros fumacês para o controle da praga. Mas o prefeito da cidade, Itamar Lemes do Prado (PDT), quer reforço no cofre público. “A ajuda com recursos financeiros seria maravilhosa. É difícil, para o município, manter com dinheiro próprio a gasolina dos veículos, a manutenção e o veneno. Não temos como pagar a folha dos agentes ambientais”, reclamou o prefeito, ao dizer que fez diversas solicitações ao DF, mas ainda aguarda resposta.
 
“Faltam equipamentos, insumos, pessoal e recursos (dinheiro). Na divisa, não temos muita atenção. A parceria é importante, mas é preciso entender que, dependendo do que vier, não vai resolver os problemas do município. Tem que se analisar o que já temos e o que precisamos”, ressalta a prefeita de Valparaíso de Goiás, Lucimar Nascimento (PRB), ao explicar que, na cidade, é preciso reforçar a limpeza urbana.
 
O secretário estadual de Saúde de Goiás, Leonardo Vilela, adianta que o planejamento financeiro é discutido entre os governos. “A situação é de alto risco, mas trabalhamos para conter o avanço da dengue. Sabemos que o DF vai disponibilizar agentes comunitários de saúde, maquinário e ajuda no recolhimento do lixo, mas outros esforços não estão descartados”, afirma Vilela.
 
 
Alerta
Os números mais recentes de dengue em Goiás mostram que, até ontem, as autoridades sanitárias notificaram 9.355 casos. O estado é líder nacional em registro de dengue por habitante em 2015. Dados do Ministério da Saúde mostram que os vizinhos do DF registraram 2,5 mil casos de dengue a cada 100 mil habitantes — alta percentual de 74,3% em relação à taxa alcançada em 2014, de 1,4 mil infecções a cada 100 mil pessoas.
 
Até o momento, 1,1 milhão de domicílios goianos receberam a visita dos vigilantes ambientais. Desses, 25 mil tinham focos de Aedes. A estimativa da Secretaria Estadual de Saúde é que 4% das casas goianas estejam infestadas pelo mosquito. “Nós nos encontramos diante de uma epidemia, e o período chuvoso acentua isso. O trabalho integrado é importante por causa da nossa fronteira. Há um grande tráfego de pessoas e veículos. Vamos erradicar o Aedes, essa é a nossa intenção”, acrescenta Vilela.
 
Em Brasília, os números apresentados pelo governo local mostraram crescimento de 153% no caso de dengue, entre 2014 e 2015. No Cruzeiro, por exemplo, a reportagem acompanhou uma inspeção na qual foram encontrados vários focos do mosquito. “A população tem que colaborar, deixar os agentes entrarem nas casas. Isso diminui o risco a todos”, aponta Alex Castro, 47 anos, motorista.
 
 
 
 
 
 
Sua parte
 
Confira o que você pode fazer para combater o Aedes aegypti
 
» Tampe os tonéis e caixa d’água
» Mantenha as calhas sempre limpas
» Deixe garrafas sempre viradas com a boca para baixo
» Mantenha lixeiras bem tampadas
» Deixe ralos limpos e com aplicação de tela
» Limpe semanalmente ou preencha pratos de vasos de plantas com areia
» Limpe com escova ou bucha os potes de água para animais
» Retire água acumulada na área de serviço, atrás da máquina de lavar roupa
 
 
 
Área externa de casas e condomínios
 
» Cubra e realize manutenção periódica de áreas de piscinas e de hidromassagem
» Limpe ralos e canaletas externas
» Atenção com bromélia, babosa e outras plantas que acumulam água
» Deixe lonas usadas para cobrir objetos bem esticadas, para evitar formação de poças d’água
» Verifique instalações de salão de festas, banheiros e copa

Fonte: Ministério da Saúde
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Mal-estar no Buriti

O mais recente Boletim Epidemiológico divulgado pela Secretaria de Saúde aponta que houve, até 25 de janeiro, 562 notificações — dessas, 487 são de residentes do DF e 75, do Entorno. O desempenho dividiu o Palácio do Buriti. Ontem, o vice-governador Renato Santana criticou o combate ao Aedes aegypti realizado na capital federal. Atualmente, 11 carros fumacê circulam pela cidade. A reportagem revelou, na edição de quarta-feira, que os estoques de testes para dengue estão baixos. Além disso, só há inseticida para apenas dois meses.

 
Para o número dois do governo, as autoridades sanitárias gerem mal os recursos e atuam pouco no combate. “Esta é uma operação de guerra que só vamos vencer com trabalho. Tem que se diminuir a quantidade de reuniões e aumentar o combate ao mosquito com o que temos agora. É preciso agir mais em vez de se fazer 50 reuniões para definir o que se vai fazer. O que temos que fazer é óbvio”, disse Renato Santana ao Correio.
 
A declaração veio após a morte de sua cunhada, a enfermeira Maria Cristina Natal, 42 anos, vítima de dengue hemorrágica. Antes, Renato usou uma rede social para reclamar da atuação do controle do Aedes. “Quantas Cristinas morrem todos os dias pela economia equivocada, em alguns momentos, de dinheiro na crise, enquanto alguns tecnocratas persistem em não se mexer para ver que o mundo real é muito diferente da bolha de gabinetes?”, escreveu.
 
O governador Rodrigo Rollemberg não gostou nada da atitude do subchefe. “Achei desagradável. É preciso ter cuidado com as palavras”, afirmou o governador Rodrigo Rollemberg. “Não sei a quem ou a que ele se referiu. O que eu sei é que há um trabalho intenso de combate à dengue, com centenas de servidores nas ruas, além de homens do Exército. Tenho acompanhado esse trabalho pessoalmente”, acrescentou, ao ressaltar que “ainda é cedo para avaliar as ações este ano”.
 
A Secretaria de Saúde, em nota, garantiu que há 3.932 testes para detectar dengue disponíveis na cidade, adquiridos por meio Programa de Descentralização Progressiva de Ações de Saúde (PDPAS), que disponibiliza orçamento às unidades (Veja quadro). A quantidade atual representa menos de 130 itens para cada uma das 31 regiões administrativas. O Ministério da Saúde, em nota, informou que o Distrito Federal recebeu 80 quilos de larvicida e 600 litros de adulticida (inseticida) em janeiro.
 
Colaborou Helena Mader
 
"Achei desagradável. É preciso ter cuidado com as palavras"
Rodrigo Rollemberg (PSB)
governador do DF, sobre críticas do vice Renato Santana ao combate à dengue