Correio braziliense, n. 19.238, 27/01/2016. Cidades, p. 19

Construção de ciclofaixa em Águas Claras causa divergência entre moradores

Apesar de projeto pronto e aprovado, ciclistas, motoristas e administradores regionais divergem quanto à eficácia das pistas exclusivas para bicicletas na cidade. Especialistas defendem que a comunidade deve ser educada para usar as ciclofaixas

 Luiz Calcagno
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press

Os irmãos Lucas e Paulo Mateus Navarro já circulam sobre duas rodas em parte da pista separada por cones: "O projeto melhorará a mobilidade e estimulará o uso da bicicleta"

 
A mobilidade urbana virou polêmica em Águas Claras. Projeto de implementação de ciclovia e ciclofaixas para integrar o metrô com as vias da cidade é ponto de discórdia entre moradores e administração regional. Enquanto administradora da cidade, Patrícia Veiga Fleury, que deixou o cargo em 6 novembro do ano passado, disponibilizou técnicos do órgão para auxiliar nos estudos das faixas exclusivas e compartilhadas. O Departamento de Trânsito (Detran) aprovou o levantamento em 3 de dezembro, e as pistas da cidade estão prontas para receber parte da sinalização horizontal. O atual administrador, Manoel Valdeci Machado Elias, no entanto, convocou uma segunda consulta pública e o Detran colocou cones nas ruas, causando dúvidas e confusão.
 
De acordo com o Projeto Mobilidade Ativa, a nova ciclovia não diminuirá o número de faixas nas principais vias de Águas Claras. Mas elas serão diminuídas para a marcação da pista exclusiva de bicicletas. A velocidade máxima também cairá de 60km/h, nas principais pistas, para 50km/h. Nas internas, a velocidade será de 30km/h ou menos. Apesar de adiantada, a iniciativa também divide a população. Os irmãos Lucas e Paulo Mateus Navarro, de 27 e 22 anos, concordam com as mudanças. “O governo precisa informar melhor os motoristas para que funcione. É preciso conscientizar, pois passamos por muitos apertos”, alerta Lucas. “O projeto melhorará a mobilidade e estimulará o uso da bicicleta. Certamente, diminuirá o número de carros nas ruas”, completa Paulo.
 
O estudante Victor Yamada, 21, e a empresária Lorrayna Barbosa Leita, 24, são contra o projeto. “Vai atrapalhar o trânsito na região, principalmente nas vias mais importantes. O governo deveria fazer a implementação apenas em alguns pontos da cidade, integrando parque e metrô, por exemplo. Não acredito que as pessoas deixarão o veículo na garagem”, diz Yamada. “Eu acho a iniciativa válida, mas é inviável para as vias principais da cidade, por causa da falta de espaço. Aqui, o trânsito é sempre caótico”, relata Lorrayna.
 
Responsável pela aplicação do Mobilidade Ativa em Águas Claras, o subsecretário de Áreas Temáticas da Secretaria de Gestão do Território e Habitação, Vicente Correa Lima Neto, reconhece que o andamento do projeto ficou mais lento com a mudança de gestão na administração, mas ameniza o problema. “A aprovação do Detran só saiu em dezembro. Logo depois, veio o período de fim de ano, quando as coisas caminham mais devagar, e as chuvas também atrapalham a execução”, explica. Mas Vicente prevê que o projeto fique pronto até o fim de setembro. “Toda a parte burocrática foi tocada com a gestão anterior da administração regional. Uma rediscussão é algo natural. O governador já deu a ordem para implementarmos.”
Segundo o subsecretário, a primeira etapa será implantada na Avenida das Araucárias. A segunda alcançará a Avenida Castanheiras, até que todas as vias estejam sinalizadas. Apesar de não citar números, Vicente afirma que as duas principais vias de Águas Claras são as campeãs em acidentes com ciclistas nos últimos quatro anos. “Na última consulta pública, apresentamos novamente o projeto para a comunidade. Temos um responsável técnico e um projeto aprovado. Não faremos nada à revelia da norma e não causaremos um ambiente inseguro para os ciclistas, que, hoje, transitam entre os carros. Nós estamos organizando o espaço público”, argumenta.