Título: Carros à venda na ilha de Raúl Castro
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Fonte: Correio Braziliense, 29/09/2011, Mundo, p. 24

Após 50 anos de espera, os cubanos finalmente poderão comprar e vender carros entre particulares ou transferir a propriedade do veículo para parentes, com a publicação do decreto que coloca em vigor uma das reformas econômicas mais ousadas propostas pelo presidente Raúl Castro e aprovadas em abril último pelo 6º Congresso do Partido Comunista. O texto, publicado ontem pela Gaceta Oficial, não chega a instituir um mercado livre, mas oficializa um negócio que era feito de maneira encoberta.

Desde a revolução comunista de 1959, os carros particulares eram um tabu em Cuba, limitados quase exclusivamente a funções públicas, inclusive pela oferta praticamente inexistente. Os cidadãos só podiam comprar e vender os almendrones, como são chamados os carros americanos das décadas de 1940 e 1950, herança do período pré-revolucionário.

Carros novos eram reservados para taxistas e médicos, que deviam inscrever-se e esperar anos até que houvesse disponibilidade. Na prática, porém, tanto a posse de um veículo particular quanto o uso (privado) da frota pública tornaram-se objeto de um mercado clandestino movido por tráfico de influência.

A fim de combater a clandestinidade, o governo de Raúl Castro aprovou a "transmissão da propriedade de veículos por compra e venda ou por doação". As operações podem ser realizadas entre cubanos que vivem na ilha e estrangeiros residentes, seja em caráter permanente ou temporário. Embora tenha sido liberada, a atividade depende de uma autorização que será dada "uma vez a cada cinco anos". Ainda assim, o cidadão só poderá comprar um carro novo se comprovar que a renda a ser usada na transação foi obtida com "seu trabalho em funções designadas pelo Estado e no interesse deste".

Os que compraram veículos da antiga União Soviética, antes de 1990, também podem negociar com qualquer residente. Estão incluídos os carros modernos, que nos últimos anos só puderam ser importados e comprados da mão de artistas e atletas, assim como de médicos que cumpriram missões oficiais em outros países. É o caso, por exemplo, dos profissionais em missões de saúde na América Latina. Os cubanos que emigrarem poderão vender o carro ou transferi-lo para algum parente, antes de viajar.

Obama cobra liberdades O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, voltou a sugerir que poderia mudar a política em relação a Cuba, em especial o embargo econômico imposto desde 1962, desde que o regime da ilha adote reformas políticas e econômicas "efetivas". "Se ocorressem essas transformações, prestaríamos atenção e, obviamente, reexaminaríamos nossa política em seu conjunto", afirmou o presidente em diálogo com internautas. Obama cobrou de Havana uma "intenção séria" de "dar liberdades ao povo".