O Estado de São Paulo, n. 44662, 28/01/2016. Política, p. A5

Operação Triplo X apura negócios de familiares de Vaccari

RICARDO BRANDT, FAUSTO MACEDO E ANNA CAROLINA PAPP - O ESTADO DE S. PAULO

 

Suspeitas envolvem imóveis adquiridos por mulher e cunhada do ex-tesoureiro do PT em condomínio no litoral paulista; investigação tem como eixo empresa com sede no Panamá

No despacho em que autorizou a Operação Triplo X da Polícia Federal, o juiz Sérgio Moro – que conduz as ações da Lava Jato na 1.ª instância – destacou que, durante a apuração da força-tarefa em Curitiba, surgiu a suspeita de que a empreiteira OAS teria utilizado o condomínio Solaris, no Guarujá, no litoral paulista, para o “repasse disfarçado de propina a agentes envolvidos no esquema criminoso” na Petrobrás. 

Publicidade

O juiz Sérgio Moro destaca na decisão que Giselda Rousie de Lima, mulher do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto – preso preventivamente e já condenado na operação –, declarou à Receita Federal ser proprietária de um apartamento no empreendimento (43-A), mas o Ministério Público Federal identificou que na matrícula do imóvel figura como proprietária Sueli Falsoni Cavalcante, uma funcionária da OAS. 

A primeira suspeita apontada pelos investigadores surgiu com a cunhada de João Vaccari, Marice Correa de Lima, que chegou a adquirir por R$ 200 mil um apartamento (44-A) no condomínio, no fim de 2012. No ano seguinte, ela desistiu do imóvel e recebeu como devolução da OAS Empreendimentos Imobiliários R$ 430 mil. A investigação vê “possível fraude” na negociação porque, em dezembro daquele ano, a empreiteira vendeu o mesmo apartamento por R$ 337 mil.

Offshores. As investigações referentes ao condomínio Solaris têm como eixo principal a empresa Mossack Fonseca & Corporate Services, apontada como uma “grande lavadora” de dinheiro por meio da abertura de offshores. Três investigados ligados à empresa, sediada na cidade do Panamá e com representação na Avenida Paulista, em São Paulo, foram presos temporariamente ontem: Nelci Warken, Ricardo Honório Neto e Renata Pereira Britto.

Entre os apartamentos do condomínio cuja titularidade está sob suspeita, chamou a atenção dos investigadores também o Triplex 163-B, em nome da offshore Murray Holdings, registrada pela Mossack em 2005, em Las Vegas, Estados Unidos. O apartamento que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e familiares tinham a opção de compra é o Tríplex 164-A, na torre vizinha.

A publicitária Nelci Warken, presa temporariamente na operação, é considerada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal uma peça-chave para descoberta dos verdadeiros proprietários de imóveis adquiridos em um suposto esquema de ocultação patrimonial e lavagem do dinheiro desviado da corrupção na Petrobrás.

Nelci é ex-funcionária da área de marketing da Bancoop e dona de uma empresa de panfletagem, a Paulista Plus. Junto com Eliane Pinheiro de Freitas – também ligada a Bancoop e madrinha de uma de suas filhas –, as duas são apontadas pela força-tarefa da Lava Jato como “testas de ferro” no esquema.

Sócios. Para o procurador regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima, integrante da força-tarefa da Lava Jato, o aprofundamento das investigações sobre a atuação da empresa Mossack Fonseca pode abrir novas frentes de investigação na operação.

Consta como sócio da Mossack Fonseca o nome de Ricardo Honório Neto, mas quem administra a empresa, de acordo com investigações da Polícia Federal, é Maria Mercedes Riano Quijano, conforme se apurou na interceptação telefônica autorizada judicialmente.

A Polícia Federal investiga ainda um advogado panamenho (Edison Ernesto Teano Rivera) e dois venezuelanos (Fernando Hernandez Rivero, que não foi localizado ontem, e Andres Cuesta Hernandez).

Defesas. A advogada Aparecida Célia de Souza, que representa Nelci Warken, afirmou que a defesa da publicitária está coletando documentos sobre o caso. “Ela é totalmente inocente”, afirmou a advogada.

O Estado não conseguiu contato com a representante brasileira da Mossack Fonseca. Procurada, a empreiteira OAS informou que não iria comentar o caso. A reportagem não conseguiu contato com a representante da Murray Holdings nem com as defesas dos outros citados na operação desencadeada nesta quarta-feira.