Correio braziliense, n. 19.223, 13/01/2016. Cidades, p. 20

20 anos de luta contra o Aedes

SAÚDE » O primeiro surto de dengue na capital foi registrado em 1996. De lá para cá, os problemas continuam. Autoridades temem nova epidemia

Por: OTÁVIO AUGUSTO

 

Há duas décadas, o Aedes aegypti avançou pela capital federal. Em 1996, começaram a ser registrados os primeiros casos de dengue e febre amarela na cidade. Ontem, a Secretaria de Saúde iniciou uma nova frente de luta na guerra contra as doenças transmitidas pelo mosquito, após a confirmação do primeiro caso de infecção por zika vírus dentro do Distrito Federal. Ao todo, 10.338 pacientes tiveram o diagnóstico de dengue confirmado em 2015. Hoje, a pasta divulga novo Boletim Epidemiológico que traz os primeiros casos da doença este ano.

Vinte anos depois das primeiras infecções, o problema continua a ser o mesmo: falta de vigilância. O Correio mostrou, em junho de 1996, na reportagem “O bicho vai pegar”, os riscos que o inseto trazia à capital. À época, os focos de dengue superavam o limite de 5% tolerados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No Gama, a taxa era de 16% de infestação do Aedes. Em Planaltina, 15%, e em Taguatinga, 7%. A Secretaria de Saúde estimava que as doenças poderiam contaminar 400 mil pessoas. O surto era atribuído a Santo Antônio do Descoberto, distante a 40km do Plano Piloto. Lá, 11% do território do município, que não tinha asfalto, esgoto, água encanada e coleta regular de lixo, tinha focos do mosquito. De lá para cá, o cenário não mudou: o município goiano já registrou três casos de zika, a partir de dezembro, e tem 9% do território infestado pelo Aedes.

O mais recente surto de dengue confirmado pelo Executivo local ocorreu em 2013. Naquele ano, a doença atingiu mais de 12 mil pessoas. Os casos aumentaram 733% na época. As chuvas acentuam a problemática. E o medo das autoridades sanitárias é que ocorra uma explosão ainda maior de mosquitos este ano. “O nosso maior trabalho é o da educação sanitária e de conscientizar a população do risco coletivo. Queremos promover uma mudança de hábito nos moradores. Apenas uma fêmea é capaz de produzir 280 ovos”, explica o diretor de Vigilância Ambiental em Saúde, Divino Valero Martins. Cento e quarenta homens do Exército, 30 do Corpo de Bombeiros, além de agentes da Vigilância Ambiental e servidores das administrações regionais, começaram ontem a vistoriar o Lago Norte, o Lago Sul, a Asa Norte, a Asa Sul, o Varjão e Águas Claras. A taxa de infestação atual da cidade deve ser divulgada em meados de fevereiro, segundo a Secretaria de Saúde.

Na casa do analista de sistemas Renato Galvão, 52 anos, na QL 5 do Lago Norte, a peleja é diária. A piscina fica tapada e, mesmo com um pouco de água sobre a lona, ele coloca cloro toda semana. Todos os vasos estão limpos e, quando tem prato, é furado para não encher de água. “No início de dezembro, um vizinho pegou dengue. Depois, fomos eu e minha esposa, além de outros vizinhos. Senti muita dor durante cinco dias. Antes da contaminação, já tínhamos a preocupação, mas a reforçamos depois de adoecer”, conta o morador do Lago Norte, cidade onde a dengue recuou 32,4% em dois anos. Até o momento, 18 mil domicílios do DF foram vistoriados.

 

De volta ao passado

O Aedes aegypti começou a ser estudado no DF em meados de 1997, com a implantação do laboratório da Gerência de Controle de Zoonoses. Autoridades sanitárias passaram a monitorar o comportamento do mosquito na capital. O diagnóstico era o pior possível. Havia infestação nos quatro cantos da cidade. O Ministério da Saúde liberou, em fevereiro daquele ano, R$ 3,1 milhões para o treinamento de agentes de vigilância. No mesmo mês, 500 voluntários das Forças Armadas e da Defesa Civil iniciaram a campanha em caráter emergencial. No ano passado, a Secretaria de Saúde lançou o Plano de Enfrentamento às doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, para conter o avanço descontrolado do inseto.