Correio braziliense, n. 19.223, 12/01/2016. Economia, p. 8

Reajuste de 11,28% a aposentado

Correção do benefício para quem recebe mais do que salário mínimo fica acima da inflação oficial, mas representantes dos segurados dizem que não repõe perda desde 1994. Impacto na Previdência com essa parcela de beneficiários será de R$ 21,5 bilhões

Por: Rodolfo Costa

 
Os cerca de 10 milhões aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) que recebem benefícios acima de um salário mínimo — reajustado para R$ 880 — terão aumento de 11,28%, o que elevou o teto para R$ 5.189,82. O percentual equivale ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) de 2015, e ficou acima da inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 10,67%. O impacto nos gastos com aposentadorias para essa parcela de contribuintes foi calculado pelo Ministério do Trabalho e Previdência em R$ 21,5 bilhões este ano.
O gasto com o reajuste de quem ganha acima do salário mínimo para a Previdência Social será maior do que os R$ 19,6 bilhões de despesa a mais neste ano para dar o aumento de 11,68% para os mais de 22 milhões de segurados que ganham um salário mínimo por mês. Mensalmente, a pasta desembolsa R$ 35,7 bilhões em benefícios. Esses reajustes agravam a situação já deficitária da Previdência, cujo rombo gira em torno de R$ 82,6 bilhões por ano.
Para especialistas, o agravamento do rombo obrigará o governo a ser mais firme na tentativa de equilibrar as contas. Para equacionar as despesas, acreditam que a equipe econômica vai seguir apostando as fichas no retorno da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) que, segundo estimativas, renderia R$ 70 bilhões por ano aos cofres públicos.
Em um cenário de mais um ano de retração da economia, a expectativa é de que o setor produtivo continue reduzindo o quadro de funcionários e, em alguns casos, até fechando as portas. Com menos pessoas trabalhando e menos empresas abertas, a tendência é de que as receitas provenientes das contribuições com o INSS caiam, efeito que fatalmente elevará o deficit na Previdência.
O quadro recessivo do país, segundo o professor de adminstração pública da Universidade de Brasília (UnB), José Matias-Pereira, manterão aposentados e pensionistas sem motivos para comemorar. O presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos da Força Sindical, Carlos Ortiz, defende a mudança na forma como são calculados os benefícios com valores acima do salário mínimo para compensar o que chama de “achatamento” das aposentadorias. “Os aposentados são obrigados a continuar trabalhando para complementar a renda”, afirma.
Pelos cálculos da Confederação Brasileira de Aposentados (Cobap), a diferença entre as correções de quem ganha o mínimo e os benefícios acima do piso já acumula, desde 1994, perda de mais de 80% para o segundo grupo. A distância ficou maior com a implementação da política de valorização do salário mínimo, a partir de janeiro de 2010, no segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.
Para Matias-Pereira, os números da Previdência são, efetivamente, muito preocupantes. Do ponto de vista de gestão, as perspectivas são as piores possíveis. “O deficit ficará acima dos R$ 110 bilhões. O Tesouro Nacional já está trabalhando no vermelho. E isso só tem um significado: será o contribuinte que vai ser chamado para pagar essa conta”, disse.  Ele considera urgente uma reforma estrutural na Previdência.
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Injeção de R$ 57 bilhões este ano

Circularão pela economia brasileira este ano R$ 57 bilhões a mais devido o aumento do salário mínimo de R$ 788 para R$ 880. Os cálculos são do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que estima a existência de 48,3 milhões de pessoas com rendimentos baseados no mínimo — 22,5 milhões beneficiários do INSS, 13,4 milhões empregados, 8,1 milhões de autônomos, 3,9 milhões de trabalhadores domésticos e 169 mil empregadores. A entidade projeta um ganho de R$ 40,7 bilhões em arrecadação de impostos.
No caso dos beneficiários da Previdência que recebem até um salário mínimo, o aumento de R$ 92 injetará R$ 26,9 bilhões na economia e o incremento na arrecadação tributária será de R$ 14,5 bilhões, segundo o Dieese. No caso dos trabalhadores domésticos, o incremento na economia será de R$ 4,7 bilhões.
Apesar do Dieese admitir o impacto de R$ 26,960 bilhões nas contas da Previência Social, uma vez que 69,2% dos beneficários tem rendimentos baseados nesse valor, defende a atual fórmula de aumento do salário. Para a entidade, essa política de reajuste “é reconhecida como um dos fatores mais importantes para o aumento da renda da população mais pobre”.
A valorização do mínimo, de acordo com a entidade, “induz a ampliação do mercado consumidor interno e, em consequência, fortalece a economia brasileira”. Pelos cálculos do Dieese, este ano, o salário mínimo terá o poder de compra de 2,14 cestas básicas (atualmente em R$ 412,15), o mais alto desde o início da série, em 1979.
O estudo da entidade mostra que mesmo sendo pouco expressivo o número de trabalhadores do setor público que recebem até um salário mínimo na administração federal e estaduais, em grande parte dos municípios, principalmente do Nordeste e do Norte, a participação cresce, impactando na massa de remuneração e no dinheiro injetado nas economias locais.