O globo, n. 30113 , 17/01/2016. País, p. 7

Divisão impede esquerda de ter candidato único

Fernanda Krakovics

Marco Grillo

Dividida, a esquerda deve lançar pelo menos dois candidatos na eleição para a prefeitura do Rio: o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) e o deputado federal Alessandro Molon (Rede-RJ). Apesar da disputa pelo mesmo eleitorado, integrantes dessas forças políticas apostam na profusão de candidaturas para levar a disputa para o segundo turno. Nesse caso, seria formada uma “frente anti-PMDB”.

Aliados de Molon lembram que, em 2012, Freixo foi o único candidato representando a esquerda, e a eleição foi vencida pelo prefeito Eduardo Paes (PMDB) já no primeiro turno.

O deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) afirmou que o partido está debatendo com movimentos sociais um programa mínimo para a candidatura de Freixo e, a partir daí, discutirá eventuais alianças. Já Molon, que trocou o PT pela Rede em setembro, enfrenta resistência em parte do eleitorado de esquerda pelo fato de Marina Silva, criadora do partido, ter apoiado o senador Aécio Neves (PSDB-MG) no segundo turno das eleições presidenciais de 2014. Aliados do deputado, no entanto, minimizam a questão e apostam na conquista do eleitorado de centro.

Já petistas que não concordam com a aliança com o PMDB tentam convencer a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) a concorrer. PT e PCdoB têm cargos na prefeitura.

— A gente considera que precisa ter uma candidatura no campo da esquerda, mas não há definição ainda — disse Jandira.

Em outra frente, o PSB já decidiu que terá candidatura própria. A legenda corre agora em busca da definição de um nome e negocia a filiação do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ). As conversas estão adiantadas, mas não deverá haver definição antes de março. Para o comando da sigla, é uma candidatura com força para chegar ao segundo turno — Crivella já disputou a prefeitura e chegou ao segundo turno contra o governador Luiz Fernando Pezão em 2014.

Os dirigentes do PSB acreditam que a mudança será benéfica para Crivella, que poderá ampliar sua votação para além dos setores evangélicos. Internamente, o partido já descartou a candidatura do senador Romário (PSB-RJ), e há quem acredite que ele deverá se desfiliar em breve. Romário foi retirado da presidência estadual da sigla após a revelação de que um de seus assessores é acusado de quatro homicídios. 

 

Pré-candidatos no Rio
 
MARCELO CRIVELLA. O senador do PRB tem conversas adiantadas com o PSB e boa chance de ser o candidato dos socialistas à prefeitura do Rio. O PSB busca um nome, após o desgaste do senador Romário (PSB-RJ), candidato natural, com a direção nacional do partido. Bastante conhecido do eleitorado — disputou a prefeitura em 2004 e 2008 e o governo do estado em 2006 e 2014 —, o senador é visto pelo PSB como um candidato com potencial para chegar ao segundo turno.

MARCELO FREIXO. O deputado estadual do PSOL alcançou 28% dos votos em 2012, mas a falta de outras candidaturas competitivas e a boa avaliação da gestão de Eduardo Paes fizeram com que a eleição fosse definida no primeiro turno. O partido ainda não discute abertamente alianças e está debatendo com movimentos sociais os principais pontos da proposta de governo a ser apresentada. A partir daí, outros segmentos da esquerda serão chamados a conversar.

ALESSANDRO MOLON. O deputado federal, que deixou o PT recentemente, é o pré-candidato da Rede. Aliados minimizam uma possível insatisfação do eleitorado de esquerda com o fato de Marina Silva, criadora do partido, ter apoiado o senador Aécio Neves (PSDB-MG) no segundo turno das eleições presidenciais de 2014. O grupo próximo a Molon acredita que o pré-candidato poderá se aproximar de um eleitorado mais ao centro do espectro ideológico.

JANDIRA FEGHALI. O nome da deputada federal do PCdoB é defendido por uma ala dissidente do PT, que é contra a manutenção da aliança com o PMDB. Sem descartar uma nova campanha à prefeitura — já concorreu ao cargo em 2004 e em 2008 —, Jandira defende que haja uma candidatura do “campo da esquerda”. PT e PCdoB estão à frente de secretarias na administração municipal — o PT tem ainda o vice-prefeito, Adílson Pires.

HUGO LEAL. Fora do campo da esquerda, o presidente estadual do PROS e deputado federal é um dos nomes que surgem no cenário. O pré-candidato angariou o apoio do Solidariedade e manteve conversas com o PSB, enquanto o senador Romário (PSB-RJ) aparecia como provável nome do partido. Com Romário fora da cena, PROS e PSB se distanciaram, e o partido não deverá mais apoiar o candidato dos socialistas à prefeitura do Rio.

ÍNDIO DA COSTA. Outro nome fora do campo da esquerda, o deputado federal já recebeu o aval do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab. Nas previsões mais otimistas, aliados estimam alcançar uma base de 186 deputados, o que garantiria 36% do tempo de televisão — ponto considerado essencial para enfrentar o PMDB. PSDB, PPS, PROS e Solidariedade são alguns dos partidos que já foram procurados. Índio e o senador Aécio Neves (PSDB-MG) trataram do assunto. As chances de uma aliança aumentaram depois que as conversas entre Aécio e o senador Romário (PSB-RJ) esfriaram.