Título: Maluf vira réu por lavagem de dinheiro
Autor: Abreu, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 30/09/2011, Política, p. 3

No terceiro processo contra o deputado do PP, Supremo apura supostos desvios da época em que ele era prefeito de São Paulo

O Supremo Tribunal Federal (STF) abriu ontem uma ação penal contra o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) e mais sete pessoas da família do político pelo crime de lavagem de dinheiro. De acordo com o relator do processo, o ministro Ricardo Lewandowski, o grupo teria movimentado no exterior uma quantia de quase US$ 1 bilhão. Os ministros, porém, rejeitaram a denúncia contra o parlamentar e sua esposa, Silvia, pelo crime de formação de quadrilha, uma vez que ambos têm mais de 70 anos. Os demais parentes e doleiros que supostamente enviaram recursos para o exterior responderão por ambos os crimes.

Com a decisão tomada em plenário, por sete votos a um, Maluf passa a ser réu pela terceira vez em processos que tramitam no Supremo. Ele já responde por crimes contra o sistema financeiro e corrupção passiva. De acordo com a denúncia do Ministério Público Federal (MPF), o dinheiro teria sido desviado da obra de construção da Avenida Águas Espraiadas, entre 1993 e 1996, época em que Maluf era prefeito de São Paulo. Na gestão da ex-prefeita Marta Suplicy (PT), a avenida foi rebatizada de Jornalista Roberto Marinho.

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, detalhou que o crime ocorria em três diferentes etapas. Segundo ele, na primeira, havia a captação e a ocultação de recursos. Depois, doleiros transferiam o dinheiro para Nova York. Na terceira fase, os dólares eram investidos em fundos constituídos em paraísos fiscais. Gurgel destacou que o processo de lavagem do dinheiro era concretizado por meio do reinvestimento na empresa Eucatex, da família Maluf.

Primeiro a votar, Lewandowski disse que a denúncia está fundamentada em um crime antecedente de corrupção passiva, que não foi alvo da análise de ontem, mas que também será julgado pelo STF. "Essa corrupção passiva tem origem não apenas naquela obra (da avenida). A família Maluf movimentou no exterior quantia superior a 900 milhões de dólares, valor superior ao PIB de países como Guine Bissau, Gâmbia, Timor Leste e Ilhas Salomão", comparou Lewandowski.

Todos os ministros presentes à sessão seguiram o voto do relator, com exceção de Marco Aurélio Mello, para quem os crimes já prescreveram. A defesa de Maluf e de seus familiares negou envolvimento dos réus com as práticas ilícitas. Se condenado, ele pode pegar de três a 10 anos de cadeia.

Em março do ano passado, o parlamentar foi incluído na lista de pessoas procuradas pela Interpol, a polícia internacional. Com isso, se viajar ao exterior, poderá ser preso. À noite, Maluf divulgou nota à imprensa na qual afirma que "provará sua inocência".