Correio braziliense, n. 19.227, 16/01/2016. Política, p. 4

Brasil tem recorde de dengue

Levantamento do Ministério da Saúde aponta mais de 1,6 milhão de casos em 2015. O Distrito Federal registrou redução.

 

O Brasil bateu recorde no número de casos de dengue em 2015. Foram 1.649.008 — o maior registrado pelo Ministério da Saúde em 25 anos. O levantamento foi divulgado ontem. O estudo também aponta que 863 pessoas morreram vítimas da doença no mesmo ano. A região que lidera o ranking dos óbitos é o Sudeste, com 563 mortes. A região teve 1.026.226 casos ao longo do ano, o equivalente a 62% do total. Nordeste e Centro-Oeste completam as três regiões com maiores registros da doença, com 311.519 e 220.966 casos, respectivamente.

O infectologista Dalcy Albuquerque explica que o vírus da dengue apresenta um processo cíclico de ocorrência. Para o médico, o maior problema que o levantamento aponta é a falta de combate ao mosquito, que não surte tanto efeito quanto poderia. “No frigir dos ovos, as políticas públicas de combate ao Aedes não são eficazes, já que há aumento no número de casos. Precisamos de um plano de contingência nacional que seja operante.”

Albuquerque ainda reitera que a dengue não é um problema exclusivo do Brasil e que a facilidade de reprodução do vetor e a forma de vida humana contribuem muito para a incidência da dengue. “O nosso modo de vida facilita muito a reprodução do mosquito. Muito plástico, coleta de água da chuva que não é tratada devidamente, tudo isso contribui para esse aumento”, disse.

Ainda na tarde de ontem, o governo federal destinou recursos extras para o combate ao mosquito. De acordo com o Ministério da Saúde, além dos 1,27 bilhão destinados a ações de vigilância em saúde no Orçamento de 2016, foram aprovados pela presidente Dilma Rousseff R$ 500 milhões extras para o combate ao Aedes e à microcefalia, que, de acordo com o último boletim epidemiológico do Ministério, já registram 3.530 casos.

O órgão ainda afirma que, nesta semana, foram repassados aos estados R$ 143,7 milhões extras, para que as políticas de combate ao mosquito fossem intensificadas. Em nota, o Ministro da Saúde, Marcelo Castro, reiterou a importância da conscientização da sociedade e de um combate coletivo ao Aedes. “É preciso que todos se mobilizem para combater esse mosquito. É muito importante sempre verificar o adequado armazenamento de água em suas casas, o acondicionamento do lixo e a eliminação de todos os recipientes sem uso, que possam acumular água e virar criadouros”, afirmou o ministro.

 

Distrito Federal

 

O Distrito Federal (DF) registrou redução nos casos de dengue em 2015, junto com Acre, Amazonas, Piauí e Roraima. Na Região Centro-Oeste, o Goiás é o estado que recebe destaque, registrando cerca de 2.000 casos a cada 100 mil habitantes.

Dalcy Albuquerque afirma que não existe explicação para o DF apresentar reduções nos casos, mas reitera que não existem muitos motivos para comemoração nas áreas que não ascenderam. “Uma coisa é reduzir a incidência, outra é eliminar”, disse.

 

Estado de emergência

A prefeitura de Barretos, no interior de São Paulo, decretou estado de emergência ontem, por epidemia de dengue com riscos de chikungunya e zika vírus. Neste mês de janeiro, o município já registrou 174 casos suspeitos de dengue. O prefeito, Guilherme Ávila (PSDB-SP), justificou a decretação do estado de emergência como forma de facilitar as políticas de combate ao mosquito. “Barretos não tinha muitos casos, mas, como recebe muitos visitantes de cidades onde as doenças estão aparecendo com mais força, a contaminação dos mosquitos é inevitável” afirmou o prefeito.

 

Carnaval cancelado

O prefeito de Nova Odessa, também em São Paulo, Benjamim Bill Vieira de Souza (PSDB), cancelou a realização do carnaval deste ano para usar a verba no combate à dengue. A quantia de R$ 80 mil que seria utilizada nas festas será destinada às campanhas de conscientização e prevenção da doença, operações cata-treco, fumacê e contratação de temporários para ajudar nas medidas. Em 2015, Nova Odessa registrou 3.205 notificações da doença, de acordo com dados do Centro de Vigilância epidemiológica do Estado de São Paulo (CVE). O prefeito afirmou que ainda não tem um planejamento estrutural das campanhas. “Ainda estamos fazendo o planejamento das ações, mas a prioridade é evitar novos casos e intensificar a campanha nas regiões que tiveram mais registros”, afirmou Bill.