Correio braziliense, n. 19.227, 16/01/2016. Brasil, p. 5

O adeus a Sigmaringa

Corpo do advogado, conhecido por sua oposição à ditadura militar, foi sepultado no Cemitério Campo da Esperança

Por: NATALIA LAMBERT e NÍVEA RIBEIRO

 

Gerações de juristas prestaram as últimas homenagens a Antônio Carlos Sigmaringa Seixas, ex-procurador da República que faleceu na última quinta-feira, aos 94 anos. O sepultamento ocorreu ontem, às 16h30, no Cemitério Campo da Esperança. O advogado, que deixou a mulher, Carmen Arroio, e sete filhos, foi procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro, conselheiro e presidente da seccional DF da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) na década de 1970.

“Convivi com ele desde quando chegou a Brasília. Em tempos difíceis, éramos minoria e batalhamos juntos pelo Ordem. E ganhamos. Era um dos advogados mais apaixonados que eu conheci. Sempre manteve a verticalidade, a lealdade, a luta e a paixão no que fazia. Desde os tempos da faculdade, sempre com o mesmo vigor”, comentou Sepúlveda Pertence, ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal. Sigmaringa, nascido em Campos dos Goytacazes (RJ), veio para Brasília em 1964, depois de preso pelo regime militar.

Sigmaringa atuou intensamente contra a ditadura. Abrigou, em seu escritório de advocacia no Setor Comercial Sul, alunos da Universidade de Brasília (UnB) perseguidos pelo governo, em 1977, ano em que a universidade foi invadida pelos militares.

Anos depois, em 1983, o advogado lutou contra a invasão da OAB-DF, determinada pelo regime. Maurício Corrêa, então presidente da seccional, foi orientado por ele a não receber a notificação da Polícia Federal. De braços dados, eles se posicionaram em frente ao prédio da entidade.

“Ele presidiu a OAB em um momento muito difícil para o país e lutou nesse período de adversidade. A luta dele teve uma importância muito grande”, resumiu Luís Inácio Adams, advogado-geral da União.

Em nota, o presidente nacional da OAB, Marcus Vinicius Furtado Coêlho, disse que “a advocacia brasileira perdeu um grande defensor da democracia e do Estado de Direito”. Juliano Costa Couto, presidente da OAB-DF, também lamentou a morte, que classificou como uma grande perda para a advocacia do DF, “tendo em vista o homem que representava com a maior qualidade e talento possível a alma de advogado”.

 

“Vida que segue”

O filho Luiz Carlos Sigmaringa Seixas, advogado e ex-deputado federal pelo Distrito Federal, lembra que o pai ainda estava lúcido e que, mesmo fazendo diálise desde o ano passado, ainda ia para o escritório duas vezes por semana e gostava de se reunir para almoçar com os funcionários às sextas. “É isso. Vida que segue. É o meu pai indo e minha neta chegando”, disse Luiz Carlos Sigmaringa, cuja neta, Júlia, nascerá próxima semana.

Membros da política também lamentaram a perda. O ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff enviaram coroas de flores à família. O governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, foi prestar condolências. “Ele foi um exemplo para todos nós pela sua conduta ética, correta, e teve uma participação muito importante na formação da democracia no Brasil.” Em nota, Rollemberg afirmou que ele fez parte da história da capital do país. “Antônio Carlos Sigmaringa Seixas é uma referência para os advogados e para todos que lutaram por um país mais democrático e mais justo.”

 

"Era um dos advogados mais apaixonados que eu conheci.

Sepúlveda Pertence, ministro aposentado do STF

 

"A luta dele teve uma importância muito grande

Luís Inácio Adams, advogado-geral da União

 

"Ele foi um exemplo para todos nós pela sua conduta ética, correta

Rodrigo Rollemberg, governador do Distrito Federal