Correio braziliense, n. 19.227, 16/01/2016. Economia, p. 6

Economia sob escombros desafia o Banco Central

Atividade encolhe pelo nono mês seguido, o que aumenta a expectativa de o PIB ter caído quase 4% em 2015. Pelos cálculos do BC, entre janeiro e novembro, o país encolheu 3,85%. Ainda assim, juros podem subir na próxima quarta-feira
Por: MARIANA AREIAS

 

A perspectiva de a economia ter encolhido quase 4% em 2015, índice só comparável ao resultado de 1990, quando o então presidente Fernando Collor de Mello confiscou a poupança dos brasileiros, ficou mais forte. Foi o que informou ontem o Banco Central, ao divulgar o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) de novembro, que registrou queda de 0,52% ante outubro — a nona retração seguida. Com isso, no acumulado do ano, o tombo chegou a 3,85% e, em 12 meses, a 3,53%. Na avaliação de analistas do Bradesco, a economia do país “está sob escombros”.

Apesar desse quadro assustador, são grandes as chances de o BC elevar a taxa básica de juros (Selic) na próxima semana. As apostas de parte do mercado apontam para alta da Selic dos atuais 14,25% para 14,75% ao ano, como resposta à inflação que se mantém acima de 10%. O economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, disse, porém, em relatório, não ver motivos para mais arrocho. No entender dele, além de a atividade doméstica estar no atoleiro, a economia mundial está em franco processo de desaceleração, puxada pela China.

Para Julio Sergio Gomes de Almeida, professor da Universidade de Campinas (Unicamp), o que se assiste hoje é reflexo da desordem política e econômica provocada pelo governo. “Erramos muito na política econômica. Estamos vivendo uma crise desnecessária. O que vemos é uma recessão por erros e ineficiência”, disse. Na avaliação dele, não há economia que resista a uma onda de desconfiança tão grande, que destruiu a confiança de empresários e consumidores. “Ao mesmo tempo em que os investimentos privados desabarem, assistimos a um encolhimento de 35% nos investimentos públicos”, frisou.

 

Indefinição

Segundo Almeida, o mais preocupante é que não há luz no fim do túnel. É muito provável que, depois do declício de 4% no ano passado, o PIB de 2016 retroceda pelo menos mais 3%. “Ou seja, a atual crise nos custará dois anos de recessão, a maior que se viu desde o início dos anos 1930”, comparou. Ele ressaltou ainda que o desemprego é o lado mais cruel da depressão na qual o Brasil mergulhou. As demissões ainda não no meio do caminho. Em 2015, foram fechadas quase 2 milhões de vagas. Neste ano, outros 2 milhões de postos devem desaparecer. “É muito grave a situação”, afirmou.

No entender de Flávio Serrano, economista-sênior do banco Haitong, não é possível prever quando o país voltará a crescer, devido à indefinição do governo em relação à política econômica. Não há sequer um ajuste fiscal em andamento. “Por isso, os níveis de confiança estão tão baixos, os investimento das empresas caindo, o mercado de trabalho ruindo e o rendimento médio da população recuando”, assinalou. Para ele, tudo isto leva a um baixo nível de consumo e a uma menor rotatividade da economia. “Ou seja, retração”, explica.

A saída do atoleiro, acredita Serrano, só virá quando o governo se conscientizar da necessidade de adotar medidas que deem maior competitividade à economia, o que passa por reformas estruturais, cujos resultados só aparecerão a longo prazo. “É preciso levar adiante a promessa de se fazer as reformas tributária e da Previdência Social. Não há mais como adiá-las”, disse. Ele destacou que estímulos como os quais o governo quer dar à atividade — a ampliação do crédito, por exemplo — são ineficazes e só trarão mais distorções.

 

Nordeste

As esperanças passam a ser depositadas em 2017. Segundo Almeida, da Unicamp, será o ano “do início das soluções dos problemas”, se não houver atropelos no meio do caminho. “Os investimentos produtivos estão caindo muito rápido, mas isso também produz a semente para que a economia retome a força futuramente, pois as empresas não querem perder espaço no mercado e vão começar a tirar projetos da gaveta”, afirmou. “Quando o empresário se tornar mais confiante e o consumidor, menos temeroso, a economia voltará a girar de forma saudável”, emendou.

Conhecido como “PIB do BC”, o IBC-Br despencou 3,84% no Nordeste na comparação de novembro do ano passado com o mesmo mês de 2014. Também apresentaram quedas regiões Sudeste (-0,86%) e Centro-Oeste (0,27%). As altas registradas nas regiões Sul (0,51%) e Norte (0,32%) foram insuficientes para deixar o indicador no terreno positivo. Nessa mesma base de comparação, o IBC-Br tombou 6,14%. “O que vemos é uma retração disseminada da economia, sem perspectivas de recuperação tão cedo”, frisou Serrano.

 

Indústria no limbo

A indústria brasileira registrou em novembro de 2015 um agravamento do quadro negativo apresentado ao longo do ano, com retração em todos os indicadores se comparado ao mesmo mês de 2014. Levantamento realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que o emprego e as horas trabalhadas registraram queda pela décima vez consecutiva.  O nível de utilização da capacidade instalada atingiu 77% contra 80,8% de novembro de 2014. Segundo a CNI, o resultado explicita a forte ociosidade do setor.

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