Correio braziliense, n. 19.221, 10/01/2016. Política, p. 4

Protestos rendem 19 prisões

Em São Paulo, Rio e Belo Horizonte, estudantes se mobilizam contra aumento nas tarifas de ônibus
Por: HÉDIO FERREIRA JÚNIOR

 

Depois de um dia de depredações de agências bancárias e oito ônibus destruídos em São Paulo e no Rio de Janeiro, começou a vigorar ontem a nova tarifa do transporte público coletivo. Em Belo Horizonte também houve um pequeno protesto. As passagens de ônibus, três e metrô subiram de R$ 3,40 para R$ 3,70 na capital mineira, e R$ 3,80 nas duas outras cidades.

A manifestação começou pacífica durante a tarde de sexta-feira. Mas só terminou à noite, com conflito e enfrentamento de manifestantes e a Polícia. Um clima de guerra foi instaurando nas regiões central de São Paulo e do Rio de Janeiro. Mascarados, os vândalos obrigaram passageiros a descer dos coletivos e com pedaços de paus e pedras quebraram vidros das janelas e portas.

Dos 17 detidos acusados de participarem de atos de vandalismo na capital paulista, quatro foram presos pela Polícia Militar por crimes de roubo, dano ao patrimônio qualificado e posse de material explosivo. De acordo com a PM, duas pessoas foram presas por tentar roubar um policial militar que acompanhava o protesto, uma por destruir uma viatura da corporação e a última por estar com material explosivo na mochila.

No Rio, a confusão terminou com dois homens presos, quatro agências bancárias depredadas e dois policiais feridos. Os detidos foram liberados após prestarem depoimento.

A prisão do manifestante em São Paulo, que supostamente estaria com um artefato, é contestada por participantes do ato. Na página de Facebook “Jornalistas Livres”, há um vídeo que mostra a ação de um grupo de policiais revistando manifestantes. Um deles encontra o explosivo atrás de uma árvore e o coloca no chão. Em seguida, os demais PMs abrem as mochilas dos manifestantes e tiram cadernos e outros materiais. No fim, um dos policiais coloca o material explosivo na mochila e todos vão para o 78.º DP, nos Jardins.

Segundo a Secretaria Municipal de Transportes de São Paulo, oito ônibus foram depredados durante o protesto. No centro, ao menos duas das três agências bancárias atacadas por black blocs tinham tapumes, vidros quebrados e caixas eletrônicos fora de operação.

Vendedora de uma loja de roupas na Rua Martins Fontes, no centro, Caroline Santos concorda com a mobilização contra o aumento da tarifa, mas com ressalvas. “A passagem está cara. É bom protestar, mas sem quebradeira”, disse, ao lado de restos de lixo queimado.

 

Vinte centavos

Em 2013, uma série de manifestações motivadas inicialmente pelo aumento das passagens do transporte público espalhou-se por diversas cidades do país. Houve um reajuste de 20 centavos — de R$ 3 para R$ 3,20 — em São Paulo. Os atos fizeram as prefeituras de todo o país recuarem nos aumentos. Em Brasília, os atos contra a corrupção tomaram conta da Esplanada dos Ministérios, inclusive com a ocupação do teto do Congresso Nacional. Os manifestantes reivindicavam melhorias na saúde e na educação, contra a corrupção, os gastos do governo com a Copa do Mundo de 2014 e a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 37, que limita os poderes de investigação do Ministério Público.

 

Frase

“A passagem está cara. É bom protestar, mas sem quebradeira”

Caroline Santos, vendedora de loja em São Paulo

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