O Estado de São Paulo, n. 44650, 16/01/2016. Política, p. A4

Dilma defende aumento de impostos e se diz ‘preocupada’ com desemprego

 

Crise. Petista, em encontro com jornalistas, afirma que volta da CPMF é necessária para equilibrar contas públicas e retomar ritmo de crescimento; ‘não se pode tirar um presidente (do poder) porque não está simpatizando com ele’, diz ela sobre pedido de impeachment

Por: Tânia Monteiro / Carla Araújo / Daiene Cardoso / Isadora Peron / Rachel Gamarski

BRASÍLIA

Em um café da manhã com jornalistas, a presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que o retorno da CPMF, cuja proposta tramita no Congresso com resistência da base aliada e da oposição, e o combate ao desemprego serão as bandeiras do governo neste ano.

"Para reequilibrar o Brasil em um quadro em que há queda de atividade implica necessariamente, a não ser que façamos uma fala demagógica, ampliar impostos. E eu estou me referindo à CPMF. Acho que o fundamental, para o País sair mais rápido da crise, é aprovar uma CPMF, que é um imposto que se dissolve e se espalha por todos, de baixa intensidade, ao mesmo tempo permite o controle de evasão fiscal", disse.

A presidente também apontou o combate ao desemprego como uma das prioridades. "Todo esforço do governo é para impedir que no Brasil nós tenhamos um nível de desemprego elevado. Para mim é a grande preocupação, é o que nós olhamos todos os dias. É aquilo que mais me preocupa e aquilo que requer mais atenção do governo. E é por isso que achamos que algumas medidas são urgentes", afirmou Dilma, em resposta uma questão sobre os dados divulgados ontem mesmo, que apontam uma taxa de 9% de desemprego no terceiro trimestre do ano passado.

No encontro, Dilma falou abertamente do impeachment e, pela primeira vez, vocalizou algo que tem sido dito por seus auxiliares: que a impopularidade não deve ser motivo para a destituição de um presidente. "Não se pode tirar um presidente (do poder) porque não está simpatizando com ele. Isso não é nem um pouco democrático", declarou, classificando os gestos da oposição de "golpistas".

 

Investigações. A presidente também respondeu às denúncias recentes envolvendo seu nome e seu governo, dizendo que elas são "repetições" e fruto de "vazamentos".

Além disso, colocou à disposição para responder "qualquer coisa, em qualquer circunstância". Nesta semana, foi divulgado que, em delação premiada, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró disse ter ouvido do senador Fernando Collor (PTB-AL) que tinha negociado com Dilma, diretamente, as indicações para os cargos de chefia na BR Distribuidora, subsidiária da estatal.

Para assessores de Dilma, Collor fez uma "interpretação" de conversas que os dois tiveram, sem citar quando elas ocorreram. Além disso, segundo eles, o entendimento do senador foi "um exagero".

Sobre as pedaladas fiscais, que é base para o processo de impeachment que tramita na Câmara contra ela, a presidente voltou a dizer que o governo não cometeu ilegalidade. Ela comparou a manobra - que consiste no atraso de repasses do Tesouro para bancos - feita no ano passado, ao período em que os brasileiros não tinham a obrigatoriedade, por lei, de usar cinto de segurança, lembrando que elas também não cometiam irregularidade porque não havia lei com tal exigência. Dilma acrescentou que, após cobrança do Tribunal de Contas da União, o governo pagou tudo" que o órgão apontou que era devido às instituições de crédito.

Juros. A presidente não quis falar sobre o aumento das taxas de juros na próxima reunião do Copom, na semana que vem, mas deixou clara a sua posição sobre a relação do Banco Central e o Planalto. "Para o meu governo, o BC não é uma instituição independente", justificando que independentes são apenas os Poderes. Para ela, o BC é "autônomo" e deve explicações inclusive ao Congresso.

Dilma falou da sua preocupação com Petrobras e a queda do preço do petróleo no mercado internacional. Ao ser questionada se a empresa poderia receber ajuda da União para capitalizá-la, a presidente não quis descartar a hipótese de que isso possa acontecer, explicando que todo mundo está preocupado com petróleo a US$ 30.

Ela admitiu que poderá ser feita uma avaliação em caso de deterioração do cenário internacional. Dilma disse ainda que o pré-sal "em princípio, é viável", mas admitiu que não é intenção do governo fazer leilão com o petróleo a US$ 30. "Ninguém faz leilão de bloco de exploração em US$ 30 o barril, a não ser que você queira dar para alguém", declarou.

Temer. A presidente falou que está vivendo uma boa relação com o vice-presidente Michel Temer e lembrou que não se encontrou com ele, ainda, porque foi visitar seu neto, Guilherme, nascido na semana passada.

E aproveitou para elogiar o neto, dizendo que ele é "lindo". Dilma, que estava mais impaciente desta vez do que no encontro com os jornalistas, na semana passada, tossiu em vários momentos, alegando que se tratava de problemas em decorrência do ar-condicionado.

‘Prioridades’

“Todo esforço do governo é para impedir que no Brasil nós tenhamos um nível de desemprego elevado. Para mim é a grande preocupação, é o que nós olhamos todos os dias. E é por isso que achamos que algumas medidas são urgentes”

“Para reequilibrar o Brasil em um quadro em que há queda de atividade implica necessariamente, a não ser que façamos uma fala demagógica, ampliar impostos. E eu estou me referindo à CPMF”

Dilma Rousseff

PRESIDENTE DA REPÚBLICA