O Estado de São Paulo, n. 44656, 22/01/2016. Economia, p. B1

PAÍS FECHA 1,5 MILHÃO DE VAGAS EM 2015 E MERCADO VÊ RISCO DE PIORA ESTE ANO

Emprego. Resultado do mercado de trabalho com carteira assinada no ano passado é o pior dos últimos 24 anos, reflexo direto da deterioração econômica; para analista, só os setores de comércio e de serviços podem perder este ano mais 2 milhões de vagas
Por: Bernardo Caram

Bernardo Caram / BRASÍLIA

O mercado de trabalho brasileiro registrou forte retração em 2015, com o fechamento de 1,5 milhão de vagas de emprego com carteira assinada.

O resultado do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) é o pior dos últimos 24 anos, conforme informou ontem o Ministério do Trabalho e Previdência Social. E o mercado já espera que 2016 tenha um desempenho semelhante, com alguns analistas prevendo até um ano ainda pior.

O economista – chefe da Icatu Vanguarda, Rodrigo Melo, avalia que a tendência é de um maior número de dispensas, à medida que a crise econômica se acentua. “O desemprego vai aumentar e podemos ver a taxa chegar aos dois dígitos já nos dados da Pnad (Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios do IBGE) de março”, disse.

Em 2014, o mercado brasileiro havia gerado 420 mil vagas formais. Com o dado negativo do ano passado, no entanto, o estoque de empregos no País – que vinha em crescimento contínuo até 2014– caiu 3,7%,retrocedendo ao patamar observado em 2012.

Segundo o ministro do Trabalho e Previdência Social, Miguel Rossetto, o resultado de 2015 foi pior que o esperado pelo governo, mas “não foi capaz de destruir as conquistas dos trabalhadores dos últimos anos”. Mesmo contra as projeções de mercado, ele disse esperar uma reversão do quadro negativo da economia ainda neste ano e a retomada das contratações.

O ministro afirmou que a melhora no quadro será possível com os efeitos positivos da redução da inflação, que dinamiza a demanda, da desvalorização do real, que beneficia os exportadores, e da ampliação do crédito, fortemente defendida pelo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa.

 

Setores. A indústria foi responsável pelo maior número de cortes de vagas em 2015. No total,o setor fechou 608,9 mil postos de janeiro a dezembro. A construção civil ficou com o segundo pior desempenho, com menos 417 mil vagas.

Para o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção( CBIC),José Carlos Martins, a construção civil deve perder ainda mais empregos em 2016. “Não tem obra começando, só acabando. Terminou a obra, dispensa o trabalhador”, afirmou, se referindo ao ritmo lento de programas como o Minha Casa Minha Vida.

O setor de serviços, por sua vez, fechou 276 mil empregos, enquanto o comércio teve, em 2015,menos218,7 mil postos.O analista econômico da RC Consultores Everton Carneiro, avalia que os dois setores podem ter um desempenho ainda pior neste ano e fechar até dois milhões de postos. “O comércio e os serviços empregam 27 milhões de trabalhadores.

Caso esses setores sofram o mesmo ajuste que a indústria está sofrendo, podemos chegar a 2 milhões de desempregados em 2016”, disse Carneiro.

O único setor que apresentou abertura de vagas no ano passado foi a agricultura, com um saldo positivo de 9,8 mil postos. O líder do PPS na Câmara dos Deputados, Rubens Bueno (PR), disse que o resultado do Caged mostra que “o desespero bate à porta do trabalhador”, com o número recorde de empregos fechados no ano passado.

Em nota, Bueno diz que os números são alarmantes, “um desastre do ponto de vista social”, já que se trata de desemprego afetando milhares de famílias./ COLABORARAM LUCAS HIRATA, MATEUS FAGUNDES E DAIENE CARDOSO

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