Correio braziliense, n. 19.232, 21/01/2016. Política, p. 4

MPF quer afastar parentes

CONGRESSO » Ministério Público Federal deu 30 dias para parlamentares exonerarem parentes. Caso foi denunciado pelo Correio em maio

Por: Marcella Fernandes

 

O Ministério Público Federal (MPF) recomendou aos presidentes da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, que tomem providências para acabar com casos de nepotismo nas duas Casas. O pedido é para que os dirigentes determinem a destituição de cargos em comissão, de confiança ou, ainda, de funções gratificadas, de todos os parentes até quarto grau dos parlamentares. As medidas são parte de um inquérito civil instaurado em maio de 2015, a partir de reportagens publicadas pelo Correio.

Levantamento publicado entre 17 e 19 de maio pelo jornal mostrou casos de parlamentares que contrataram primos, sobrinhos-netos e outros parentes de quarto grau para receberem altos salários. Entre centenas de correspondências de nomes, o Correio selecionou 10 casos na Câmara de parentes que trabalhavam até março. Somados, eles ganhavam pouco mais de R$ 55 mil mensais em salários e gratificações, líquidos. No Senado, a reportagem encontrou ocorrências em seis gabinetes.

O MPF enviou, ainda, recomendações aos senadores Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), Flexa Ribeiro (PSDB-PA) e Telmário Mota (PDT-RR). De acordo com investigações preliminares, os três mantém parentes de até quarto grau em seus gabinetes. Nesses casos, o MPF pede que os familiares sejam exonerados. As recomendações estabelecem, ainda, que familiares de servidores em cargo de direção, chefia ou assessoramento não devem ocupar postos de livre nomeação. Foi concedido o prazo de 30 dias para que os parlamentares informem sobre o acatamento das recomendações.

A investigação do MPF verificou que parlamentare estariam se aproveitando de brechas da Súmula Vinculante nº 13, que impede titulares de cargos públicos de nomearem parentes de até terceiro grau. No entendimento do MPF, embora a norma determine a proibição em relação a parentes até terceiro grau, a contratação de familiares de quarto grau também configura nepotismo.

“Não existem impedimentos à determinação do quarto grau de parentesco para se confirmar a ocorrência de nepotismo, já que a Súmula Vinculante nº13 almeja impedir, de forma absoluta, o nepotismo, bem como conferir plena eficácia ao princípio da impessoalidade”, ressalta a procuradora Marcia Brandão Zollinger.

O gabinete do senador Temário Mota aguarda análise da consultoria jurídica do Senado para decidir quais providências tomar, uma vez que considera haver conflito de entendimentos entre o MPF e o STF. Telmar Mota de Oliveira Neto, sobrinho-neto do parlamentar, trabalha como motorista. O senador Cássio Cunha Lima, que emprega o primo Flávio Romero Moura da Cunha Lima como chefe de gabinete, afirmou que irá exonerá-lo. “Não concordo, mas vou acatar a sugestão do MPF”, afirmou.

O senador Flexa Ribeiro informou, em nota, que está examinando a questão. O tucano emprega como comissionada a prima Roseanne Flexa Medeiros. O presidente da Câmara informou, por meio da assessoria de imprensa, que a Casa já toma medidas há alguns anos para evitar essa prática e que ainda não recebeu a recomendação do MPF. Procurado pela reportagem, a Presidência do Senado não respondeu até o fechamento desta edição.

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