Banco Central já prevê recessão de 3% neste ano

Alex Ribeiro 

17/02/2016

O Banco Central piorou a sua previsão para a recessão deste ano, que deverá ficar em 3%, em vez de 1,9% antes estimados, segundo uma fonte da equipe econômica. O desempenho mais fraco do Produto Interno Bruto (PIB) já foi incorporado nas projeções de inflação apresentadas na reunião de janeiro do Comitê de Política Monetária (Copom), que preveem uma variação do índice de preços ligeiramente acima da meta, de 4,5%, em 2017.

Mesmo com a revisão, o Banco Central segue mais otimista do que o mercado sobre o desempenho da economia neste ano. A mediana das projeções de analistas econômicos coletadas pelo Boletim Focus para a queda do PIB em 2016 está em 3,33%. Os analistas mais pessimistas apontam retração de 4,6%.

O fraco desempenho do PIB foi um dos fatores apontados pela ala mais moderada do Copom para se colocar contra a alta da taxa básica de juros, hoje em 14,25% ao ano. Para eles, a desaceleração econômica vai seguir pressionando a taxa de desemprego, provocando maior moderação nos reajustes de salários e contribuindo para desacelerar a inflação de serviços.

Na ata do Copom de janeiro, o BC já havia indicado a revisão de sua projeção para a expansão da economia em 2016. Nesse documento, está escrito que, na avaliação do comitê, a "expansão da atividade doméstica será inferior ao previsto anteriormente".

Mas o Copom não havia revelado, em detalhe, qual é sua projeção atual para a expansão da economia. O colegiado só costuma abrir os números no seu Relatório Trimestral de Inflação. Na mais recente edição do documento, de dezembro, a expansão do PIB era estimada em 1,9%. Em março, quando sai o novo relatório, a projeção para o PIB será atualizada - e, em tese, poderá ser uma recessão de 3%, igual à usada na reunião do Copom de janeiro, ou superior a isso.

Em dezembro, o Banco Central ainda previa um desempenho mais favorável da economia porque acreditava que o consumo das famílias, favorecido pelo reajuste do salário mínimo e pela queda da inflação, iria dar uma sustentação mínima ao PIB.

O colegiado também acreditava que a demanda externa poderia contribuir para formar uma espécie de piso para a queda do PIB neste ano, com a recuperação da economia americana.

Desde então, porém, a inflação se mostrou mais alta do que o esperado, contribuindo para corroer a renda real. A expansão das economias avançadas também tende a ser mais fraca.

Um dia antes da reunião do Copom de janeiro, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, deu indicações de que a projeção para o crescimento do PIB seria revista, ao divulgar nota comentando as estimativas sobre o desempenho global feitas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). O organismo multilateral reviu de 1% para 3,5% a projeção para a retração do PIB.

A ala mais moderada do Copom vem citando outros fatores para não subir os juros - entre eles, a perspectiva de reajustes mais suaves de energia elétrica, os efeitos defasados das altas de juros sobre a economia e, sobretudo, as chances de que uma onda deflacionária global. O lado negativo é que, mesmo admitindo um PIB mais fraco, as projeções de inflação do BC seguemdesconfortáveis, próximas do teto de 6,5% em 2016 e acima do centro da meta em 2017.

 

Valor econômico, v. 16, n. 3944, 17/02/2016. Brasil, p. A3