O Estado de São Paulo, n. 44653, 19/01/2016. Economia, p. B5

Mercado já prevê IPCA a 7% este ano
 
Economistas ouvidos pelo BC no Boletim Focus mantêm aposta de aumento de 0,5 ponto porcentual na taxa de juros na reunião do Copom
Por: Célia Froufe

Célia Froufe / BRASÍLIA

 

Em semana de decisão do Banco Central sobre o rumo dos juros básicos da economia, o mercado financeiro piorou suas estimativas para a inflação deste e do próximo ano, aumentou a expectativa para o patamar da Selic em 2017 e fez poucas alterações em relação ao desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) de 2016 e do ano que vem. A boa notícia é que, pela primeira vez, passou a contar com um superávit fiscal, ainda que pequeno, para 2017.

Segundo o Relatório de Mercado Focus, divulgado semanalmente pelo BC com as estimativas de cerca de 120 instituições financeiras, a inflação deste ano não só romperá o teto da meta de 6,5%, como deverá ficar mais alta (7%) que o previsto na pesquisa anterior (6,93%). Para 2017, a projeção também subiu, de 5,2% para 5,4%. Entre os economistas que mais têm acertado as expectativas, denominados Top 5, o IPCA deve ficar ainda mais elevado do que o apontado pelo consenso.

Para 2016, esperam uma taxa de 7,54% e, para o ano seguinte, de 5,50%. Outro indicador que surpreendeu ontem foi o IGP-DI, que tem forte influenciados preços do atacado.

A previsão para 2016 disparou de 6,18% para 6,48% – para 2017, foi mantida em 5,3%. Com a inflação em alta, os analistas mantiveram a aposta de que o Comitê de Política Monetária (Copom) elevará a taxa básica dos atuais 14,25% ao ano para 14,75% ao ano na reunião de hoje e amanhã. Também não houve alteração da estimativa da Selic para o final deste ano, de 15,25%. O que ficou na berlinda no boletim Focus foi a previsão para o encerramento de 2017. Até a semana passada, a projeção era a de que o juro básico ficasse em 12,75% no período, mas, ontem, o documento mostrou uma divisão do mercado, com metade dos participantes prevendo taxa de 13% ao ano – isso levou à marca de 12,88% ao ano da Selic na pesquisa.

E, mais uma vez, o grupo Top 5 segue mais pessimista que o consenso. Para esses economistas, a Selic fechará 2016 em 15,38% – o que de nota uma divisão entre os que esperam taxa de 15,25% e os que projetam variação de 15,5%. Para 2017, a estimativa desses profissionais foi de 12,75% para 13% ao ano.

Recessão. A expectativa de atuação do colegiados e dá mesmo com o consenso de que a economia continuará em recessão. Para este ano, o Focus aponta para uma queda de 2,99% do PIB, como já contava na semana passada. Para 2017, o ponto central do boletim voltou para a expansão de 1% vista há duas semanas e que foi interrompida pela previsão menor, de 0,86%, na edição anterior.

Pela primeira vez, a pesquisa apontou um resultado positivo para relação fiscal/PIB no ano que vem. Nos últimos levantamentos, o Focus apontava para uma taxa neutra das contas públicas ante a atividade do País (0%), mas agora mudou o rumo e projeta uma variação de 0,20%. Para este ano, o cálculo segue negativo em 1% do PIB.

Outros dois itens citados pela autoridade monetária foram o câmbio e os preços administrados, como gasolina, tarifa de água e de luz. Para o dólar, os economistas não fizeram alteração sobre a cotação prevista ao final deste ano, de R$ 4,25. Para um ano depois, no entanto, o ponto central da pesquisa subiu de R$ 4,23 para R$ 4,30. Em relação às tarifas públicas, a projeção do mercado subiu de 7,5% para 7,55% no caso de 2016 e manteve em 5,5% para 2017.

 

Selic

15,25% ao ano é a previsão dos analistas ouvidos pelo Banco Central para a taxa de juros básica ao final deste ano. Hoje, a taxa está em 14,25% ao ano

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Governo espera alta de 0,25 ponto na Selic
 
Cúpula do PT, porém, promete reagir e fazer duras críticas ao governo se o BC elevar os juros
Por: Vera Rosa e Tânia Monteiro

Vera Rosa

Tânia Monteiro / BRASÍLIA

 

O governo trabalha comum cenário de uma alta de 0,25 ponto porcentual na taxa básica de juros (Selic), menor do que a esperada pelo mercado, na primeira reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para hoje e amanhã.Se a expectativa for confirmada, a Selic, que hoje está em 14,25%, subirá para 14,50%. A cúpula do PT promete reagir e fazer duras críticas ao governo, caso os juros subam.

A presidente Dilma Rousseff conversou ontem com o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, mas a reunião não constou da agenda oficial. Tombini está sob forte pressão política e enfrenta divisões na diretoria do Banco Central sobre a conveniência do aumento da Selic.

Dirigentes e parlamentares do PT dizem, nos bastidores, que a recessão e o desemprego vão se aprofundar se a política monetária continuar nesta toada.

Para auxiliares de Dilma, porém, comentários assim podem causar “efeito contrário”, porque o Banco Central tende a mostrar total autonomia na próxima reunião, para dar um sinal de que não cede a pressões do PT.

No Palácio do Planalto, assessores da presidente também estão divididos sobre a eficácia da alta dos juros, mas há quem diga que um ligeiro aumento pode, sim, ter efeito sobre o combate à inflação e as expectativas de ajuste da economia.

A Executiva Nacional do PT vai se reunir no próximo dia 26, em Brasília, para avaliar o cenário político e econômico. Agora, há no partido quem defenda até mesmo a saída do presidente do Banco Central – considerado um contra ponto ao ministro da Fazenda, Nelson Barbosa –, caso os juros voltem a subir.

Novo alvo. Tombini entrou na mira do PT e virou uma espécie de Joaquim Levy, alvejado por várias correntes da sigla. Então ministro da Fazenda, Levy foi bombardeado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por vários petistas até cair, em dezembro.

Para Lula, ele estava com “prazo de validade vencido” porque “só falava em ajuste fiscal” e se recusava a apontar uma “direção de crescimento” ao País.

“A presidente Dilma disse que está preocupada, mas ela tem de passar da preocupação à ação. Num ambiente de desemprego e angústia social, não podemos aceitar o aumento dos juros”, afirmou o secretário de Formação Política do PT, Carlos Henrique Árabe.

Em conversas reservadas, dirigentes do partido dizem, ainda, que a queda do emprego e da renda pode ser fatal para a legenda neste ano de eleições municipais.

“No Brasil, o mandato do BC está exclusivamente centrado no combate à inflação e sem preocupações com o nível de atividade e emprego. Incorporar a questão social e do emprego requer a utilização de outros instrumentos de política monetária para a obtenção simultânea destes objetivos”, diz um trecho do documento “Por um Brasil Justo e Democrático”, produzido pela Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT.

O texto destaca que o aumento dos juros, a longo prazo, pode causar a “desindustrialização” e “estagnação” da economia, como o “consequente flagelo” do desemprego. “Nessa situação, se o governo pretende construir um melhor caminho para a travessia, não pode deixar de rever a sua política de juros comandada pelo Banco Central, e dar início o quanto antes à sua redução”, observa o documento.