O globo, n. 30109, 13/01/2016. País, p. 6

Depois de 23 anos, ascensão meteórica

Bruno Rosa

Condenado pela Justiça por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o economista Nestor Cerveró entrou na Petrobras em 1975, após passar em um concurso público. Mas foi a partir de 1999 que sua carreira começou a ganhar fôlego, quando Delcídio Amaral assumiu o cargo de diretor de Gás e Energia. Até então, com 23 anos de Petrobras, Cerveró tinha chegado a coordenador da assessoria de Novos Negócios e Parcerias da estatal, em 1998.

Em 1999, tudo mudou, observou uma fonte na estatal. Cerveró passou a ser gerente de Projetos em Termelétricas. Já no ano seguinte, em 2000, foi promovido a gerente da Unidade de Geração de Energia. De acordo com outra fonte, Delcídio foi o grande nome por trás do projeto de construção de termelétricas, medida que visava aumentar a segurança energética do país. Em 2001, um novo salto: assumiu como gerente executivo de Energia.

— Delcídio considerava Cerveró seu braço direito, tanto que ele passou de gerente de projeto para gerente executivo em pouco tempo. O Cerveró ficou encarregado das térmicas, um projeto polêmico na Petrobras que acabou acarretando em perdas para a empresa na época. Mas Delcídio saiu da Petrobras em 2002, quando decidiu se afastar do PSDB e se filiou ao PT para concorrer ao Senado. E aí, tudo mudou novamente — recorda a fonte, destacando que Delcídio despachava direto com Cerveró e com Paulo Roberto Costa, que era gerente geral da área de Logística.

 

EMPURRÃO NA CARREIRA

Eleito, Delcídio decidiu dar um novo empurrão na carreira de Cerveró. E em 2003, primeiro ano de Lula no poder, Cerveró assumiu como diretor da área Internacional. No comando da área, segundo a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, Cerveró teria cobrado propina em vários contratos com a Petrobras. Dois casos ganharam destaque. Primeiro, ele foi um dos responsáveis pela polêmica compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, que, segundo a Controladoria Geral da União, teria causado prejuízo de US$ 659 milhões. Foi dele o famoso resumo executivo da operação que foi submetido ao Conselho de Administração da Petrobras, em 2006 — presidido pela agora presidente Dilma Rousseff, que na ocasião era ministra da Casa Civil. Em 2014, ao ser questionada sobre os motivos de ter aprovado o negócio, Dilma afirmou que aprovara a aquisição porque se baseou em um relatório “falho e incompleto”.

Outro caso polêmico envolveu a contratação da Schahin Engenharia para o fornecimento do navio-sonda Vitoria 10.000 por US$ 616 milhões. Em sua delação, Cerveró afirmou que a contratação da empresa ocorreu após a Schahin ter emprestado dinheiro para José Carlos Bumlai, amigo de Lula, e preso pela Lava-Jato.

— Cerveró foi um agente do esquema de propina. E, em março de 2008, Cerveró foi para a área financeira da BR Distribuidora. Isso ocorreu por conta de um acerto político do governo Lula — diz a fonte.

Na BR, Cerveró montou novo esquema de corrupção envolvendo vários partidos, conforme sua delação premiada. Foi José Eduardo Dutra, que na época era presidente da subsidiária, quem apresentou o nome de Cerveró ao Conselho de Administração da Petrobras.

Mas a trajetória de Cerveró acabou em 21 de março de 2014, três dias após Dilma revelar que aprovara a compra da refinaria de Pasadena com base no tal relatório e em meio à turbulência com a prisão de Costa, ex-diretor de Abastecimento.