O globo, n. 30109, 13/01/2016. Opinião, p. 17

A fábula de perto

Paulo Melo 

O ciclo de crescimento econômico vivenciado pelo Estado do Rio entre 2007 e o primeiro semestre de 2014 não ocorreu por acaso. A economia fluminense chegou ao fim de 2013 ostentando uma sensível melhora nos indicadores de emprego, renda e produção da indústria, assim como de participação no Produto Interno Bruto (PIB) do país, como resultado de um esforço governamental de diversificação da economia e atração de investimentos.

A grave crise financeira que assola o estado neste momento não é, como argumenta o deputado estadual Luiz Paulo em artigo publicado no GLOBO dia 7, resultado de falta de planejamento, num tempo de bonança, para enfrentar um futuro de carências. As turbulências atuais refletem uma desaceleração brutal da economia do país, além da queda do preço do petróleo e a crise do setor de óleo e gás.

Não haveria como prever a eclosão desta que talvez seja a maior crise da economia nacional desde os anos 30. A despeito da impossibilidade de antevisão desse grave momento da História, ao contrário do que diz o deputado, muito foi feito para garantir uma evolução estrutural da economia do estado.

O governo Sergio Cabral criou um Fundo de Previdência que libertará o Rio, no caso específico da Previdência — para onde, atualmente, vai quase a totalidade dos royalties e participações especiais —, da dependência do petróleo. Estamos num momento de transição entre o total desequilíbrio previdenciário do passado para um equilíbrio que foi, e está sendo, detalhadamente planejado.

A arrecadação de ICMS cresceu de forma sustentada por mais de sete anos, puxada não apenas pelo petróleo, mas por diversos segmentos econômicos, cujos bons desempenhos refletiam a pujança da economia fluminense.

O forte peso do petróleo na economia fluminense não é uma questão de escolha e determinação da administração pública, mas reflete uma vocação natural ditada pelas suas enormes reservas de óleo e gás.

Reconhecemos, é claro, que a crise é também uma oportunidade de aprendizado e, por isso, o governo está estudando uma série de medidas estruturais para tornar o estado mais forte. A administração pública, como bem sabe o deputado, que teve decisiva participação no governo Marcello Alencar, é plena de espinhosos desafios que impossibilitam o alcance da perfeição. Há muito a ser feito, o que não significa que não tenha sido feito muito.

A fábula da cigarra e da formiga é, acima de tudo, moralista. A formiga é o exemplo da correção. A cigarra, ao contrário, encarna a fanfarrice e a preguiça, digna de desprezo.

Pouco se presta atenção, porém, na crueldade da formiga que, diante da cigarra fragilizada, acusa e sentencia que ela é merecedora de todos os castigos.