Título: Movimentos se misturam
Autor: Alcântara, Manoela; Bonfanti, Cristiane
Fonte: Correio Braziliense, 30/09/2011, Cidades, p. 23

Os brasilienses que precisarem de serviços postais e bancários vão continuar enfrentando dor de cabeça nos próximos dias. Os Correios apresentaram ontem uma nova proposta para que os funcionários encerrem o movimento. A estatal ofereceu um aumento de R$ 80 a todos os empregados, reajuste salarial e dos benefícios de 6,87% e abono imediato de R$ 500. A empresa propôs ainda o parcelamento do desconto dos dias parados, na proporção de um dia de greve por mês. Os trabalhadores vão discutir a continuidade da paralisação hoje em assembleia. O comando nacional de negociação, porém, adiantou que vai orientar a categoria a rejeitar o acordo.

"A empresa continua intransigente. Não vamos aceitar que os dias parados sejam descontados. O que nós colocamos na mesa é a possibilidade de trabalharmos duas horas a mais por dia e, se preciso, nos fins de semana até colocarmos toda a demanda em dia", afirmou Cláudio Roberto de Oliveira e Silva, integrante do comando grevista. A categoria quer um aumento de R$ 200 e reposição da inflação de 7,16%, entre outras melhorias.

Segundo o Sindicato dos Correios do Distrito Federal, a greve atinge 80% da área operacional na capital. Ao menos 2,5 mil funcionários do total de 3 mil do setor, entre carteiros, motoristas e atendentes comerciais, estão de braços cruzados. Os empregados só conseguiram reabrir as negociações com a direção da estatal ontem após uma manhã de protestos. Por volta das 6h, eles organizaram uma manifestação, em parceria com os bancários, em frente ao edifício-sede, no Setor Bancário Norte, para impedir a entrada dos colegas que não participavam do movimento. Para evitar embates, 70 policiais militares se revezaram no local, mas nenhuma ocorrência de violência foi registrada.

Agências fechadas A greve dos bancários, iniciada na última terça-feira, já fechou 95% das agências no Distrito Federal, segundo o sindicato da categoria. O Banco de Brasília (BRB) é o único que mantém o atendimento normal. Em todo o país, a paralisação atingiu ontem 7.672 agências e centros administrativos em 25 estados e no DF ¿ um aumento de 3.481 unidades fechadas a mais do que no primeiro dia do movimento. Único estado que ainda estava fora da mobilização, Roraima aprovou ontem a paralisação a partir de segunda-feira.

Enquanto os impasses não são resolvidos, os brasilienses enfrentam transtornos. A secretária Isabel Cristina Nunes, 32 anos, que o diga. Por volta das 13h, ela foi ao Banco do Brasil para verificar se o salário já estava na conta. Quando tirou um extrato, levou um susto. "O dinheiro entrou, mas foi todo utilizado para pagar encargos do próprio banco. Não tenho mais nada em conta", disse. Sem entender o que aconteceu, ela tentou procurar ajuda, mas havia somente sindicalistas no local. "Eles deveriam deixar pelo menos 30% dos empregados trabalhando. Como vou fazer? Estou de férias, vim da Ceilândia só para ver isso e nada", reclamou.

Carlos Cordeiro, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), afirmou que os protestos devem ser intensificados nos próximos dias. A ideia é unir cada vez mais a mobilização dos bancários com a dos funcionários dos Correios. "O silêncio do governo aumenta a indignação dos trabalhadores", diz. (MA e CB)

Eu acho...

"Sei que a greve é um direito constitucional, mas meu prejuízo e aborrecimento estão sendo grandes. Devido à paralisação dos Correios, a conta do meu cartão de crédito não chegou. No início do mês, tentei ir a uma agência pegar as contas, mas já havia uma desorganização e não conseguiram achar meus documentos. Como não tenho conta corrente em nenhum banco, também não posso pagar em caixas eletrônicos. Na casa lotérica, não conseguiram validar o código de barras. Temo pelos juros que serão descontados no mês que vem. Todos os dias a empresa do cartão me liga fazendo cobranças." Eliana de Souza, 40 anos, autônoma, moradora do Guará