Título: Prejuízo com paralisações
Autor: Alcântara, Manoela; Bonfanti, Cristiane
Fonte: Correio Braziliense, 30/09/2011, Cidades, p. 23

Brasilienses enfrentam greve dos bancários, dos agentes de saúde, dos Correios e, para piorar, professores fizeram ato público e deixaram 300 escolas sem aula. Servidores do Detran, por sua vez, aceitam proposta do governo local e voltam ao trabalho

Irritados com a má qualidade do atendimento dos serviços públicos, os brasilienses viram a sua situação piorar ontem com a paralisação de cinco categorias. Não bastasse a greve dos bancários, que começou na terça-feira, e dos funcionários dos Correios, que há 17 dias não entregam correspondências e encomendas regularmente, cerca de 2 mil professores de escolas públicas do DF realizaram um ato público para reivindicar melhorias e deixaram cerca de 300 escolas sem aulas. Parados há 11 dias, os agentes comunitários de saúde também não executaram serviços básicos, como o de prevenção da dengue e da leishmaniose, além de não entregar remédios na casa dos pacientes.

O Departamento de Trânsito (Detran), que não abria as portas há três dias, só encerrou o movimento ontem, às 15h, após aceitar parcialmente uma proposta do governo. Para piorar, trabalhadores do Metrô ameaçam endurecer o discurso contra o Executivo. No domingo, eles se reúnem em assembleia para discutir a possível paralisação.

As manifestações na praça em frente ao Palácio do Buriti começaram cedo ontem. Os professores subiram no carro de som para cobrar a nomeação de 1.104 aprovados em concurso público no ano passado, plano de saúde e reajuste do auxílio-alimentação. Eles marcaram uma assembleia para o próximo dia 18. "O ato foi uma forma de pressão", disse a diretora do Sindicato dos Professores (Sinpro) Maria Augusta Ribeiro.

A greve pode prejudicar alunos como Guilherme Augusto Lopes, 17 anos. Estudante do 1º ano do ensino médio, no Centro Educacional nº 3 do Guará, ele acordou cedo ontem para ir à instituição de ensino. No caminho, foi avisado por um amigo que não haveria aula devido ao ato da categoria. "Acho ruim. Estou em plena preparação para o Programa de Avaliação Seriada (PAS) e não posso perder aulas", lamentou.

Se para a educação a paralisação é apenas uma ameaça, para a saúde é uma realidade. Cerca de 1,8 mil agentes comunitários estão parados. Ontem, 400 deles cobraram que o acordo assinado pelo secretário de Saúde, Rafael Aguiar, em 7 de junho, seja encaminhado para votação na Câmara. "Queremos as gratificações prometidas. Os gastos estão autorizados", disse a agente de vigilância ambiental Lidiane Pires. Essa é a primeira greve da categoria em 12 anos. Sobre as cobranças feitas pelas duas categorias, a assessoria de imprensa da Secretaria de Governo informou que o órgão não iria se pronunciar.

Situação normalizada Depois de três dias de greve, os servidores do Detran-DF encerraram o movimento. Em assembleia, eles decidiram aceitar parcialmente as propostas do governo. Antes disso, motoristas paravam a todo o momento em frente à agência do Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) para saber quando o atendimento voltaria ao normal. A dentista Sofia Camelo, 31 anos, conta os transtornos que teve com a paralisação da categoria. "Meu carro foi roubado e encontrado. Precisava de algumas autorizações do Detran para conseguir rodar com ele, mas não consigo nada desde segunda-feira", lamentou.

Com o filho de 10 meses em um carro emprestado, ela contou a saga que tem enfrentado desde então. "Tentei o cancelamento das multas pela internet, fui ao Detran três vezes, fiz de tudo. Estou sem alternativas. Preciso do carro", detalhou. Depois de saber que a greve havia acabado, a dentista ficou embaixo de uma árvore com o bebê esperando para um possível atendimento.

Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Detran-DF (Sindetran), Eider Marcos Almeida, a principal reivindicação da categoria é a realização de concurso público para os cargos de agente e analista de trânsito. Em 10 dias, um edital para a seleção de agente deve ser lançado no Diário Oficial do DF. A expectativa é que sejam abertas 400 vagas. "Essa é uma das vitórias. Não conseguimos aumento salarial e esperamos a organização do certame para analista", ressaltou Almeida.

O que diz a lei A Lei nº 7.783, de 1989, que regulamenta as greves no país, impõe limites às paralisações. Um dos artigos estabelece que, mesmo com os funcionários de braços cruzados, os órgãos responsáveis por serviços essenciais à população têm a obrigação de garantir pelo menos 30% da prestação da atividade. Entram nesta categoria, por exemplo, os trabalhadores que fazem controle de tráfego aéreo, compensação bancária e assistência médica-hospitalar.