Correio braziliense, n. 19.234, 23/01/2016. Economia, p. 6
O aumento dos juros, a redução na confiança, a perda na renda e a inflação em dois dígitos reduziram a demanda por consumo e, consequentemente, derrubaram a produção e o emprego na indústria. O número de vagas no setor encolheu 7,2%, em novembro ante o mesmo período de 2014, levando o nível de pessoas ocupadas no segmento ao menor nível desde o início da série histórica, em 2000. Trata-se do 50º recuo consecutivo nesse tipo de confronto, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Especialistas do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) consideram que o resultado significa a dissolução da indústria brasileira. “O fechamento de postos de trabalho é justamente um dos sintomas mais evidentes da desindustrialização. A comparação do nível atual de pessoas ocupadas com o último pico histórico (queda de 15% ante agosto de 2011) sugere o tamanho do problema em que nos encontramos”, avalia a entidade.
O Iedi chama atenção também para o fato de que existe um agravante: “esse processo está em pleno progresso”. Após recuar 3,2% em 2014, o emprego industrial foi piorando mês a mês e acumula retração de 6% no ano de 2015 até novembro. Será o pior resultado da pesquisa.
Em meio a quedas generalizadas, o segmento de meios de transporte, cuja redução de pessoal foi de 14,1%, em novembro, é o mais afetado pela conjuntura desfavorável. “Nesse resultado, sobressaem as montadoras de veículos. Automóveis e caminhões são os dois carros-chefes das demissões, puxando para baixo tanto o emprego quanto o salário”, disse Rodrigo Lobo, pesquisador do IBGE.
Ao mesmo tempo em que demite, a indústria reduz o número de horas pagas aos funcionários, sinal de que a situação ainda não se estabilizou. O indicador de horas é considerado um antecedente: quando sobe de maneira consistente, pode indicar abertura de vagas, mas sua queda pode preceder dispensas. “A sequência de resultados negativos (no número de horas pagas) permite dizer que o mercado de trabalho continua se ajustando”, afirmou Lobo.