O globo, n. 30.127, 31/01/2016. País, p. 5

Lava-Jato investiga venda de outros imóveis pela Bancoop

Aquisição de apartamento por presidente da CUT é um dos alvos

Por: THIAGO HERDY
thiago. herdy@ sp.oglobo.com. br

 

Além do condomínio Solaris, no Guarujá, onde o expresidente Lula já teve um apartamento, a força-tarefa da Lava-Jato investiga outros empreendimentos que eram da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop) e foram assumidos pela OAS. Os investigadores apuram crimes de sonegação e ocultação patrimonial, além de indícios de que parte dos imóveis tenha sido usada para repasse de propina. Um dos apartamentos investigados é o do presidente da Central Única dos Trabalhadores ( CUT), Vagner Freitas, dono de imóvel registrado em nome da empreiteira OAS em bloco do Residencial Altos do Butantã, na Zona Oeste de São Paulo.

O apartamento tem área total de 100,6 metros quadrados e está situado no segundo andar do bloco B do residencial, no bairro Butantã. Por meio de sua assessoria, Freitas negou qualquer crime e disse ter comprovantes de quitação do imóvel. Ele disse que, apesar de ter pagado pelo apartamento “há três ou quatro anos”, ainda não tomou providências para alterar o registro em cartório. Diante da divulgação do caso, disse que pretende fazer a transferência de registro nesta segunda-feira.

Em despacho da Operação Lava-Jato na última quarta-feira, chamada de “Triplo X", o juiz Sérgio Moro atendeu o pedido do Ministério Público Federal ( MPF) de determinar a apreensão, nas sedes da OAS e da Bancoop, de documentos referentes a quatro empreendimentos, entre eles o Altos do Butantã, onde Vagner tem seu apartamento, e o Mar Cantábrico, atual condomínio Solaris, no Guarujá, onde a família do ex-presidente Lula era dona de apartamento que atualmente está em nome da OAS e foi o único a passar por uma reforma bancada pela construtora.

Segundo os procuradores da Lava-Jato, o objetivo é “verificar se houve ou não algum tratamento desigual em relação aos ex- cooperados” vinculados aos imóveis. O alvo inicial da força- tarefa eram imóveis relacionados ao expresidente da Bancoop e extesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que está preso desde abril de 2015 e foi condenado a 15 anos de prisão na LavaJato. A investigação deve ser ampliada com base no material colhido nesta semana.

No passado, Vagner dividiu com Vaccari funções na Bancoop; em 2007, o atual presidente da CUT assinou pareceres na condição de conselheiro fiscal da cooperativa. A Polícia Federal investiga um imóvel adquirido pela mulher do extesoureiro petista, Gilselda Rousie de Lima, no condomínio Solaris, no Guarujá. Ela declarou o apartamento no imposto de renda, embora ele esteja registrado em nome de uma funcionária da OAS. A suspeita da força-tarefa é que o imóvel tenha sido usado para lavagem de dinheiro e que o ex-tesoureiro o teria recebido como suborno da empreiteira.

Uma cunhada de Vaccari também é investigada sob suspeita de ter usado um imóvel no Guarujá para receber propina da OAS no Solaris. Em 2011, Marice Corrêa de Lima comprou um apartamento por R$ 150 mil. Dois anos depois, a OAS recomprou o imóvel por R$ 432,7 mil. A construtora o revendeu em seguida, amargando prejuízo, por R$ 337 mil.

Também estão sob investigação outros apartamentos em nome da OAS e da offshore Murray Holdings, criada pelo escritório Mossack Fonseca, alvo da operação. Presa na operação, a publicitária Nelci Warken seria responsável pela offshore, embora não tivesse patrimônio suficiente para realizar os negócios operados pela Murray, conforme detectaram os investigadores. O GLOBO perguntou à assessoria da OAS por que o apartamento de Vagner Freitas continua em nome da empreiteira, mas ela não respondeu. (Colaborou Sérgio Roxo)

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Integrante do Conselhão e aliado fiel de Dilma e Lula

Filiado ao PT, presidente da CUT já ameaçou pegar em armas para combater impeachment
Por: VAGNER FREITAS
 

Crítico da política econômica adotada pelo governo da presidente Dilma Rousseff no segundo mandato, o bancário Vagner Freitas, de 49 anos, é um interlocutor frequente do expresidente Lula. Filiado ao PT, o presidente da CUT faz parte do grupo que o líder petista reúne rotineiramente em seu instituto para discutir a conjuntura política do país e tentar encontrar saídas para a crise.

Apesar de ter sido um dos líderes dos ataques ao exministro da Fazenda Joaquim Levy, Vagner chamou a atenção, em agosto do ano passado, ao ameaçar pegar em armas para defender o mandato de Dilma, durante um encontro promovido pela presidente no Palácio do Planalto com líderes de movimentos sociais.

— Somos defensores da unidade nacional, da construção de um projeto de desenvolvimento para todos e para todas. E isso implica, neste momento, ir para as ruas entrincheirados, com armas nas mãos, se tentarem derrubar a presidenta — disse o sindicalista, na ocasião.

No mesmo dia, Vagner tentou amenizar a fala, alegando que não teve intenção de incitar a violência e que usou a palavras apenas como uma “figura de linguagem”.

Dois meses antes, no Congresso do PT, realizado em Salvador, Vagner ajudou a produzir um manifesto com as mais duras críticas à gestão de Levy. Apesar do apoio dos sindicalistas, a cúpula partidária conseguiu tirar os ataques do texto final do encontro.

No segundo semestre do ano passado, Vagner foi um dos líderes que viabilizaram a criação da “Frente Brasil Popular", união de movimentos de esquerda idealizada por Lula para se contrapor aos grupos que desde o começo de 2015 têm saído às ruas para pedir o impeachment de Dilma. A Frente também reúne, entre outros, representantes do Movimento dos Sem Terra (MST) e da União Nacional dos Estudantes (UNE).

Vagner faz parte ainda do novo Conselhão de Dilma. Antes de presidir a CUT — cargo que assumiu em 2012—, foi presidente da Confederação Nacional dos Bancários (CNB). A carreira de bancário teve início aos 21 anos, como caixa do Bradesco. (Sérgio Roxo)

Órgãos relacionados:

  • Congresso Nacional