O Estado de São Paulo, n. 44.682, 17/02/2016. Política, p. A5

Ministro deixa cargo para votar em Picciani

Marcelo Castro se afasta temporariamente da pasta da Saúde para participar da escolha entre o atual líder da bancada do PMDB e Hugo Motta
Por: Tania Monteiro / Daniel Carvalho

 

Em meio a uma das maiores crises de saúde pública dos últimos anos, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, licencia-se hoje do cargo para retomar seu mandato na Câmara e votar pela recondução do líder da bancada do PMDB na Casa, Leonardo Picciani (RJ). Ontem, Castro compareceu a um jantar em apoio ao correligionário.

O deputado fluminense, apoiado pelo Planalto e com postura anti-impeachment, enfrenta Hugo Motta (PB), apoiado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( RJ), responsável por deflagrar o processo de impedimento da petista na Casa.

A liberação de Castro ocorre a despeito do discurso do governo de não interferência na disputa. Sua licença deve durar poucas horas, uma vez que ele tem uma agenda prevista com a presidente no fim do dia. Os dois peemedebistas vão para o enfrentamento com uma conta que não fecha – Picciani diz ter entre 42 e 45 votos; Motta afirma contar com 36 a 41 deputados. A bancada tem atualmente 69 deputados.

Na véspera da disputa, o dia foi de reuniões dos dois lados. Picciani recebeu outros três reforços que voltaram à Câmara na tentativa de reeleger o líder. O secretário estadual do Rio Marco Antônio Cabral (Esportes) e municipal do Rio Pedro Paulo (Coordenação de Governo) reassumiram seus mandatos e o vereador carioca licenciado Átila Nunes (ex-PSL) foi reconhecido ontem como membro do PMDB fluminense.

No fim do ano passado, a posse de Nunes como deputado federal foi articulada por Picciani, com apoio do comando do PMDB do Rio, para ampliar o apoio ao atual líder. Cunha se negou a dar posse a Nunes sob a alegação de que ele não podia ser empossado por exercer mandato de vereador no Rio.

O caso foi parar no Supremo Tribunal Federal que garantiu a posse de Nunes, mas como filiado ao PSL – ele estava filiado ao PMDB-RJ desde 1.º de outubro do ano passado. A Câmara alegou que o partido precisava fazer uma comunicação formal para realizar a alteração. O comunicado da Executiva Nacional, comandada pelo vice-presidente Michel Temer, chegou à Câmara na segunda-feira e foi acatado por Cunha no início da tarde de ontem.

Apoiador da candidatura de Hugo Motta, Cunha criticou as trocas promovidas por Picciani e seus aliados. “Manobra está sendo feita na tentativa de liderança do PMDB, que está trazendo titular, mas não para sair suplente do PMDB e sim para nomear deputados provisoriamente de outros partidos para crescer a bancada. Isso aí é que é a manobra”, afirmou Cunha.

 

Constrangimento. Para tentar constranger o ministro, líderes do PSDB, DEM, PPS e Solidariedade apresentaram ontem um requerimento para convocá-lo à Câmara. O motivo oficial era prestar esclarecimentos no plenário sobre as ações de combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor dos vírus da dengue, da zika e da febre chikungunya. A convocação pode ser votada hoje.

Embora tenha reconhecido que Castro tem direito de assumir o mandato temporariamente Cunha voltou a criticar a possibilidade de o ministro deixar o cargo para apoiar Picciani, em meio à epidemia de microcefalia – doença que, segundo especialistas, é causada pelo vírus zika. Sobre Castro, seu desafeto desde as desavenças no texto da reforma política relatada então pelo atual ministro, o presidente da Câmara afirmou: “O problema é o desgaste que ele está provocando por ser um ministro emblemático neste momento com a crise da saúde que está”. O ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, fez questão de destacar ontem que a saída do ministro não afetará em nada as ações de combate ao mosquito Aedes aegypti. “Vai sair num dia e voltar no outro.” / COLABORARAM CARLA ARAÚJO e IGOR GADELHA

 

Críticas

“O problema é o desgaste que ele (Marcelo Castro) está provocando por ser um ministro emblemático neste momento com a crise da saúde que está”

Eduardo Cunha

PRESIDENTE DA CÂMARA

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