Dilma deve levar mensagem ao congresso

Andrea Jubé e Lucas Marchesini

02/02/2016

A presidente Dilma Rousseff está disposta a entregar pessoalmente hoje a mensagem do Executivo ao Congresso Nacional pelo início do ano legislativo. O compromisso está previsto em sua agendaCom o processo do impeachment em compasso de espera, Dilma quer aproveitar o final de trégua para se reposicionar politicamente e fazer um aceno de diálogo aos deputados e senadores, que estão na iminência de votar o seu afastamento, ou não.

O presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), elogiou a iniciativa da presidente Dilma de comparecer à sessão inaugural. Segundo o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), Dilma convidou todos os ministros para acompanhá-la.

Para Renan, que havia convidado a presidente, a ida dela ao Congresso "significa uma mudança de patamar na relação. Ao vir, a presidente demonstra que quer conversar e o papel do Congresso é preservar o interesse do país", disse. "É um gesto significativo e é sobretudo uma oportunidade para que possamos discutir os rumos do país neste ano, que se apresenta com as mesmas dificuldades do ano que passou", apontou Renan.

Até o fim da semana passada, era certo no Palácio do Planalto que a incumbência de levar a mensagem presidencial seria do ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner. Mas ontem, o próprio Wagner disse em entrevista coletiva que Dilma pode ser a portadora do documento.

Há uma semana, o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto - uma das poucas vozes respeitadas por Dilma na economia - cobrou da presidente, em entrevista ao Valor, que ela levasse o documento ao Congresso: "Ou a presidente assume a responsabilidade e vai no dia 2 de fevereiro [hoje] ao Congresso Nacional com os projetos de reforma constitucional e infraconstitucional, ou será o caos."

Segundo auxiliares da presidente, Dilma encontrou mais prós do que contras em seu retorno ao Legislativo. A epidemia do vírus zika é uma oportunidade para a presidente compartilhar com o Legislativo a mensagem de alerta que repassou a todos os seus auxiliares, no contexto do decreto de emergência da Organização Mundial de Saúde (OMS). A crise na saúde acaba setransformando numa brecha para retomar o diálogo com os parlamentares, que terminaram o ano passado em pé de guerra com o Executivo e em clima de impeachment.

Outro episódio que influenciou a decisão de Dilma foi o comparecimento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), à sessão de abertura do ano judiciário no Supremo Tribunal Federal (STF). A Corte está prestes a decidir sobre seu afastamento do cargo, mas esse fato não impediu Cunha de prestigiar, como presidente de uma Casa legislativa, a retomada dos trabalhos da Corte.

Outro sinal da determinação de Dilma de se reposicionar politicamente é a volta ao rádio e à televisão. Ontem a presidente gravou um pronunciamento oficial, a ser transmitido em cadeia nacional de rádio e televisão, sobre a epidemia do vírus zika e da microcefalia, que têm o mosquito Aedes aegypti como agente transmissor.

A última vez que ela convocou cadeia nacional para se dirigir à população foi em 8 de março de 2015, Dia Internacional da Mulher. Mas a fala de 15 minutos em defesa do ajuste fiscal, e pedindo "paciência" com a crise, levou milhares de brasileiros às ruas e janelas de suas casas para bater panelas e gritar "Fora Dilma". Desde então, ela substituiu os pronunciamentos por mensagens gravadas para as redes sociais.

Enquanto coexistem as crises política e econômica, Dilma transformou o combate ao vírus zika em bandeira de governo. Ontem ela convocou uma reunião com seus 31 ministros e os presidentes de empresas e bancos públicos para cobrar empenho de todos no enfrentamento à epidemia. Dilma pediu ações para o combate à proliferação do mosquito e o extermínio de criadouros de larvas do inseto. "Foi um chamamento à mobilização" contra o vírus zika, definiu Wagner.

 

Valor econômico, v. 16, n. 3935, 02/02/2016. Política, p. A8