O Estado de São Paulo, n. 44.681, 16/02/2016. Economia, p. B1

Brasil apresentará à Argentina oferta de livre-comércio no setor automotivo

Com a crise no Brasil, governo tenta abrir mercado no exterior e levará na quinta-feira uma proposta para liberar o comércio de carros e de autopeças com a Argentina, embora saiba da forte resistência das empresas e do governo do país vizinho

Por: Renata Veríssimo / Adriana Fernandes

 

O Brasil apresentará ao novo governo argentino de Mauricio Macri, em reunião em Buenos  Aires na quinta-feira, uma proposta de acordo de livre- comércio no setor automotivo.

“Caminhamos para o livre-comércio no setor automotivo dentro do Mercosul.

As condições estão dadas”, disse ao ‘Estado’ o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro. Ele aposta na postura liberal do novo governo argentino para costurar a proposta. No ano passado, um acordo liberando o comércio automotivo foi assinado com o Uruguai.

O ministro disse que há espaço para que o comércio automotivo entre o Brasil e a Argentina possa se fortalecer, assim como em toda a região.Um acordo automotivo também foi assinado com a Colômbia em2015. A estratégia brasileira é aumentar o acesso a mercados, principalmente nesse momento em que a taxa de câmbio no Brasil está mais favorável para os produtos brasileiros.

Para Monteiro, o aumento das exportações é a saída para as empresas enfrentarem a redução da demanda doméstica, que não deve se recuperar tão cedo. Ele avaliou que a balança comercial vai surpreender este ano e apresentar um resultado maior do que a previsão de US$ 35 bilhões de superávit.

Segundo o ministro, o setor automobilístico não tem outra saída a não ser aumentar as exportações.

“Temos de combinar a questão de câmbio com ações da política comercial brasileira para melhorar as condições de acesso ao mercado.”

 

Resistência dos argentinos. A liberalização do comércio de veículos com a Argentina é uma agenda antiga que sempre enfrentou resistência do governo e dos empresários argentinos, que tem em um a invasão de carros brasileiros. Monteiro diz, porém,que a Argentina tem vendido muitos veículos para o Brasil e o livre- comércio vai beneficiar os dois lados. “Um acordo de livre-comércio foi assinado no ano passado entre Brasil e Uruguai, um mercado muito menos expressivo e com uma indústria local menos forte do que a Argentina”, lembra.

O acordo automotivo entre Brasil e Argentina já foi prorrogado várias vezes, com cotas, toda vez que se aproximava a data fixada para que o livre-comércio entrasse em vigor. A última renovação ocorreuem1.º de julhode2015, com vigência de um ano. O acordo prevê um sistema“ flex”,em que para cada dólar que a Argentina exporta ao Brasil em autopeças e veículos, sem incidência de impostos,pode importar 1,5 dólar em produtos brasileiros.

 

Oferta para a Europa. Na reunião com os argentinos, Monteiro também discutirá outro tema espinhoso: a troca de ofertas entre Mercosul e União Europeia para o início das negociações de livre-comércio. Há anos as negociações se arrastam.

Seja por resistência do Brasil e da Argentina em abrir o mercado para produtos industriais europeus, seja por parte da UE, que resiste em derrubar barreiras a produtos agrícolas brasileiros.

Monteiro espera que a troca de ofertas– que indica os produtos e serviços que terão redução das tarifas de importação até chegar a zero – seja feita no primeiro semestre.

O Brasil esperava fazer a troca de ofertas no ano passado,mas houve uma demora no fechamento da proposta do Mercosul, sobretudo por dificuldades impostas pela Argentina.

Depois foi a vez dos europeus pedirem o adiamento para este ano. Monteiro diz que uma reunião para fechar o cronograma deve ocorrer em março.

“Não tenho dúvida nenhuma que dá para avançar para viabilizar os ajustes necessários à oferta aos europeus no primeiro semestre”, disse Monteiro, que, depois da Argentina, embarca no domingo para o México para tentar fechar a negociação de acordo que pretende ampliar decercade500para2milprodutos o livre-comércio bilateral.

Na reunião com os argentinos, também será discutida a reativação de uma comissão de monitoramento do comércio bilateral, temas fitossanitários e temas setoriais para acordos de lácteos, pêssegos e carne suína.

Ainda como estratégia para ampliar mercados, o ministro espera avançar nos acordos do Mercosul com Peru e Colômbia, que ficaram congelados nos últimos anos por causa de problemas setoriais.Ao final de 2017, a expectativa é que quase todo o comércio brasileiro com esses dois países esteja livre da tarifa de importação.