O globo, n. 30123, 27/01/2016. País, p. 6.

Dilma vai defender união contra crise na reunião do Conselhão

Simone Iglesias

Júnia Gama

Martha Beck

Antes de embarcar ontem para Quito, onde participaria da cúpula da Comunidade de Estados Latino- Americanos e Caribenhos, a presidente Dilma Rousseff reuniu em seu gabinete oito ministros para discutir como será a reunião de retomada do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o chamado Conselhão, amanhã à tarde. Dilma está preparando um discurso pródiálogo, com convocação à unidade nacional como forma de superar a crise. Ela deverá fazer uma referência à necessidade de os interesses do país estarem acima das questões pessoais e vai reforçar a importância do ajuste fiscal e de medidas para recuperar a economia.

— Queremos discutir a realidade sem ufanismo. Vivemos uma realidade difícil e desafiadora. A presidente tem que fazer uma fala harmoniosa e de chamamento caloroso a pontos de convergência. Será uma reunião de debate, sem censura — disse ao GLOBO um ministro que está participando da elaboração da reunião.

Segundo um dos elaboradores do encontro, a ideia é proporcionar um ambiente de maior interação do governo com os vários setores da economia e “dividir a responsabilidade” pela recuperação do país. Há uma constatação de que o governo, sozinho, não tem fôlego para sair da crise e, por isso, é preciso estimular as parcerias entre o setor público e o privado, tanto na formulação de soluções, quanto na execução de medidas.

Entre os auxiliares presidenciais, a expectativa é que Dilma esteja, de fato, aberta a ouvir opiniões e críticas dos 90 integrantes do Conselho. A presidente tem acenado sistematicamente com o diálogo, mas isso acaba não se concretizando. Há otimismo em relação ao formato do encontro porque os discursos dos integrantes do governo serão abreviados para garantir a palavra a representantes dos empresários, trabalhadores e da sociedade civil.

Entre os ministros que falarão estão Nelson Barbosa ( Fazenda), Kátia Abreu ( Agricultura), Armando Monteiro ( Indústria e Comércio), Valdir Simão ( Planejamento) e Alexandre Tombini ( Banco Central). Os discursos irão variar de cinco a 20 minutos para a reunião não se transformar num monólogo governamental.

— Não queremos passar a mensagem de que o governo só quer falar. Temos que passar a mensagem de que o governo quer ouvir a sociedade para poder recuperar o instinto animal dos empresários — disse um integrante da equipe econômica.

 

REFORMA DA PREVIDÊNCIA EM PAUTA

A ideia do governo é que o Conselhão se reúna quatro vezes neste ano, e que ocorram ainda outros encontros de grupos de trabalhos divididos por setores da economia. A intenção do Planalto é fazer com que todas as principais medidas econômicas a serem adotadas daqui para a frente passem pelo colegiado, rompendo com o receituário de Dilma de anunciar medidas sem discussão prévia, o que só ampliou seu desgaste e a crise que seu governo enfrenta.

A reunião deverá ser dividida em dois momentos: no primeiro, Barbosa anunciará medidas de curto prazo para tentar aquecer a economia, entre elas, novas linhas de crédito a microempresários e exportadores pelos bancos públicos, e a agilização da liberação do uso do FIFGTS por empresas para obras. Entre as linhas de crédito, haverá uma específica para o embarque de produtos que serão exportados.

Na segunda etapa, alguns dos 90 conselheiros convidados, entre eles os empresários Luiz Trabuco, Abílio Diniz, Josué Gomes e Jorge Paulo Lemann, deverão ser ouvidos sobre os rumos do país. Apesar dos anúncios de Barbosa, o governo quer evitar a percepção de que chegará ao encontro com um “prato pronto” de medidas.

Ideias mais complexas, como a Reforma da Previdência e a recriação da CPMF, por exemplo, serão colocadas para debate. Segundo interlocutores da presidente, há uma percepção de que os empresários estão preocupados com os rumos do país e que melhor do que assistir passivamente à ampliação da crise, os que aceitaram integrar o Conselhão buscarão ajudar na adoção de medidas que melhorem as perspectivas.

A fala de Barbosa está sendo costurada para que o ministro faça uma análise do quadro econômico atual, ressaltando seus desafios, mas passando a mensagem de que o crescimento pode ser retomado no último trimestre de 2016. O ministro também voltará a falar na reforma fiscal de longo prazo e na importância de avanços na reforma da Previdência.

Na mesma linha de ampliação do diálogo, ministros próximos a Dilma estão defendendo que a presidente vá ao Congresso para a abertura dos trabalhos na próxima semana. Dilma, porém, ainda não decidiu se irá comparecer. Mais que levar um pacote fechado de medidas que o governo gostaria de ver aprovadas, a presidente deveria, na avaliação de seus auxiliares, aumentar sua exposição para reforçar a imagem de que está empenhada no enfrentamento da crise.

— Neste momento, a presidente Dilma tem que ser expor ao máximo. Não adianta levar propostas fechadas, como uma reforma da Previdência, sem negociar antes. E ela deve mostrar que está aberta ao diálogo — afirma um assessor presidencial.

O núcleo do Palácio também defende que Dilma faça acenos mais significativos à oposição. Há uma série de nomes citados por pessoas próximas à presidente com quem ela poderia iniciar esse diálogo. Entre eles, o ex- presidente Fernando Henrique Cardoso e os governadores tucanos Beto Richa ( PR) e Geraldo Alckmin ( SP).