O Estado de São Paulo, n. 44649, 15/01/2016. Política, p. A5

Procurador pede que Supremo casse mandato de petista

Em denúncia enviada à Corte, Janot diz que deputado Vander Loubet recebeu R$ 1 mi em propinas na BR Distribuidora; ele não comenta
Por: Ricardo Brandt / Fausto Macedo / Julia Affonso

Ricardo Brandt

Fausto Macedo

Julia Affonso

 

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao Supremo Tribunal Federal que decrete a perda do mandato do deputado Vander Loubet (PT-MS), alvo da Operação Lava Jato, por suspeita de recebimento de propinas que somaram R$ 1 milhão em esquema de corrupção instalado na BR Distribuidora.

Ao denunciar Loubet criminalmente perante a Corte por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Janot atribui ao petista ligação com “grupo criminoso” que repassava a ele valores ilícitos “em função da ascendência que o Partido dos Trabalhadores exercia sobre parte da Petrobrás Distribuidora S/A”.

“O parlamentar, em conjunto com seus auxiliares, acabou aderindo à organização criminosa preordenada à prática de crimes de peculato, de corrupção ativa e passiva e de lavagem de dinheiro no âmbito da BR Distribuidora”, diz Janot na denúncia protocolada no Supremo em 17 de dezembro de 2015.

Janot pediu ainda a decretação da perda em favor da União dos bens e valores objeto de lavagem de dinheiro no caso, judicialmente apreendidos ou sequestrados, no valor originário de R$ 1 milhão, a ser acrescido de juros e correção monetária.

O procurador quer a condenação do petista e de outros denunciados - familiares de Loubet e o ex-ministro Pedro Paulo Leoni Ramos - “à reparação dos danos materiais e morais causados por suas condutas”, fixando-se valor mínimo de cinco vezes o montante cobrado a título de propina no caso, no total de R$ 5,14 milhões.

Janot afirma que “Vander Loubet, agindo como representante do Partido dos Trabalhadores em relação à BR Distribuidora, recebeu significativas vantagens pecuniárias indevidas de Pedro Paulo Leoni Ramos, por intermédio de Alberto Youssef, entre 2012 e 2014, para deixar de exercer a função parlamentar de fiscalização sobre a administração federal e permitir a livre atuação da organização criminosa voltada à prática de crimes de peculato, corrupção de agentes públicos e lavagem de dinheiro”.

A assessoria de Loubet informou que o deputado não iria comentar a acusação porque não teve acesso à denúncia. Pedro Paulo Leoni Ramos também afirmou que não se manifestaria até ter acesso ao teor da denúncia.

‘Vantagens indevidas’

“Vander Loubet, agindo como representante do PT, recebeu vantagens pecuniárias indevidas para deixar de exercer a função parlamentar de fiscalização sobre a administração federal”

Rodrigo Janot

PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA

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Em acareação, Youssef não reconhece ex-assessor de Palocci

Por: Julia Affonso / Fausto Macedo / Ricardo Brandt / Andreza Matais

O ex-assessor da Casa Civil Charles Capella de Abreu, apontado em delação premiada como responsável pelo recebimento de R$ 2 milhões em propina para a campanha de Dilma Rousseff (PT), em 2010, negou ontem à Polícia Federal participação no suposto esquema e disse não ter tido vínculo direto com o ex-ministro Antonio Palocci durante a campanha presidencial.

Três delatores da Lava Jato – o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa, o doleiro Alberto Youssef e o lobista Fernando Baiano –disseram ter havido pagamento de propina do esquema montado na estatal para a campanha de Dilma, a pedido de Palocci – todos com versões divergentes.

Baiano diz ter participado de uma reunião em meados de 2010, em um comitê da campanha de Dilma, com Palocci e Costa.

Nesse encontro teriam sido pedidos valores para a disputa presidencial e a indicação de Charles como assessor para cuidar do recebimento de R$ 2 milhões.

Em uma hora de depoimento, o ex-assessor negou ter existido essa reunião em Brasília.

 

Acareações. Charles foi ouvido pelo delegado Luciano Flores, da equipe da Lava Jato, em Curitiba. Após a oitiva, o ex-assessor passou por duas acareações.

Pela manhã foi colocado frente a frente com Youssef e, no início da tarde, com Baiano.

Cara a cara com o doleiro, Charles não foi reconhecido.

“Não é”, disse Youssef. O delator disse que, pela foto mostrada pela PF, anteriormente, o rosto era parecido com o do homem para quem diz ter entregue, a pedido de Costa, R$ 2 milhões, em dinheiro, e mum hotel de luxo em São Paulo, em 2010.

Baiano havia dito que Palocci cobrou o repasse de Costa – que buscava apoio do PT para permanecer na Diretoria de Abastecimento da Petrobrás, caso Dilma fosse eleita.

Costa nega o pedido direto de Palocci a ele. Diz que foi Youssef quem solicitou esse valor de R$ 2 milhões, em nome do ex-ministro, e que a quantia foi autorizada.

Baiano, diante de Charles, disse não ter 100% de certeza para confirmar que o ex-assessor foi a pessoa que participou do encontro em Brasília, em 2010.

Mas confirmou que o nome Charles foi o indicado por Palocci para receber os R$ 2 milhões. / J.A., F.M., R.B. e ANDREZA MATAIS