O Estado de São Paulo, n. 44649, 15/01/2016. Política, p. A6

‘Compadre do Lula ’me indicou, diz agrimensor

Lava Jato investiga se OAS pagou, a pedido do ex-presidente, reforma de sítio em Atibaia
Por: Ricardo Brandt /Fausto Macedo / Andreza Matais / Fábio Fabrini

O agrimensor Claudio Benatti, identificado pela Polícia Federal como responsável pelas medições e plantas do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP) - frequentado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva -, afirmou que o advogado Roberto Teixeira, compadre do petista, era o responsável por determinar os serviços a serem prestados na propriedade, no ano de 2011. A Operação Lava Jato investiga se uma reforma feita no local, no mesmo ano, foi executada pela OAS - uma

das líderes do cartel que fatiava obras na Petrobrás - a pedido do ex-presidente, como compensação por contratos da empreiteira no governo.

“Quem indicou tudo, quem arrumou para eu fazer o serviço lá foi o Roberto Teixeira. Que é o advogado, que é o compadre do Lula”, afirmou Benatti ao Estado. “Eu fui lá fazer um serviço. Eu fiz a topografia do sítio, fiz o levantamento.”

O advogado amigo do ex-presidente não aparece nos registros de propriedade do sítio. Oficialmente, o imóvel está em nome de dois empresários ligados à família de Lula. Ambos compraram a propriedade - que têm duas matrículas no Cartório de Registro de Imóveis de Atibaia - em 29 de outubro.

A PF determinou na terça-feira que Benatti seja ouvido no inquérito da OAS. Ele foi identificado pela Lava Jato após o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) de São Paulo localizar registro de seus serviços no sítio. O órgão localizou a Anotação de Registro Técnico (ART) da medição, assinada por Benatti, após ser intimado a buscar dados sobre obras no local.

Pelo documento, os serviços do agrimensor foram contratados em 18 de dezembro de 2010, com início de vigência dos serviços em 20 de janeiro de 2011 - logo após a compra do imóvel. “Todos os serviços que foram executados, meus, de topografia, sempre foram o Roberto Teixeira.”

Benatti mora em Monte Alegre do Sul (SP). É de lá que ele diz conhecer o compadre de Lula. O topógrafo afirma que guarda os mapas do serviço prestado. “Eu faço serviço para o Roberto Teixeira há uns 40 anos. Conheci ele de muito tempo, acho que bem antes dele conhecer o Lula.”

 

Suspeita. A Lava Jato passou a investigar a obra no Sítio Santa Bárbara após a informação de que a propriedade teria passado por grande reforma, em 2011, executada supostamente pela OAS. Os serviços atenderiam a um pedido de Lula ao ex-presidente da empreiteira José Adelmário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro, segundo reportagem da revista Veja de abril de 2015. Pinheiro foi preso em novembro de 2014 e solto em abril de 2015.

Na cópia da ART enviada pelo Crea para a Lava Jato, com data de 4 de janeiro, o contratante dos serviços é o empresário Jonas Leite Suassuna Filho - dono do Grupo Gol de editoras e ligado a um dos filhos do ex-presidente Lula.

Ele e o outro proprietário do sítio, Fernando Bittar, não foram localizados pela reportagem. O advogado Roberto Teixeira, por meio de sua assessoria de imprensa, não se manifestou sobre o assunto. A OAS informou que “não tem nada a declarar sobre esses temas”. Procurado via assessoria do Instituto Lula, o ex-presidente também não comentou o caso. / RICARDO BRANDT, FAUSTO MACEDO, ANDREZA MATAIS e FÁBIO FABRINI

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Delação de Cerveró deixa de fora Dilma e ex-presidente, diz jornal

Reportagem do ‘Valor’ mostra que, antes de fechar colaboração, ex-diretor havia citado petistas à Lava Jato

O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró mudou em sua delação premiada a versão sobre um suposto pagamento de US$ 4 milhões à campanha de reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006. O montante, segundo publicou ontem o jornalValor Econômico, teria vindo de obras da refinaria de Pasadena.

A informação se baseia em documento obtido pelo Valor no qual constam o resumo da delação que seria feita por Cerveró, caso o acordo fosse fechado, e parte do depoimento prestado posteriormente pelo ex-diretor.

A versão inicial cita que “foi acertado que a Odebrecht faria o adiantamento de US$ 4 milhões para a campanha do presidente Lula, o que foi feito”.

De acordo com o jornal, essa menção não aparece no depoimento. “Na reunião também se acertou que a contrapartida da UTC pela participação nas obras do Revamp (Renovação do Parque de Refino de Pasadena) seria o pagamento de propina; que se acertou que a UTC adiantaria uma propina de R$ 4 milhões, que seriam para a campanha de 2006, cuja destinação seria definida pelo senador Delcídio do Amaral”, diz o documento.

Segundo a reportagem, menções à presidente Dilma Rousseff também sumiram na delação. No documento prévio, Cerveró a citava três vezes; no depoimento posterior, nenhuma. Uma das menções originais era que “Dilma incentivou Nestor Cerveró para acelerar as tratativas sobre Pasadena. Sempre esteve a par de tudo que ocorreu na compra daquela refinaria, e realizou diversas reuniões com Nestor durante todo o trâmite”.

Ao Valor, o Instituto Lula disse que “sobre arrecadação de campanha eleitoral, o assunto é do tesoureiro responsável pela campanha ou do partido”. O Palácio do Planalto afirmou que a compra de Pasadena foi autorizada com base em resumo executivo “tecnicamente falho”feito por Cerveró. A UTC Engenharia disse ao jornal que “nunca foi contratada e não executou obras na refinaria de Pasadena, Texas (EUA)”.

CORREÇÃO

A reportagem “Lula indicou WTorre à Petrobrás, diz Cerveró” (pág. A5 de ontem) foi ilustrada erroneamente com uma foto da sede original da estatal, no centro do Rio.Oedifício mencionado na reportagem, construído pela empreiteira e alugado pela Petrobrás, é o da imagem abaixo.

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