O Estado de São Paulo, n. 44.681, 16/02/2016. Política, p. A5

Se crise persistir, o ‘povo’ não defenderá o governo, diz Lula

Ex-presidente afirma a petistas que se economia não se recuperar até junho, avanços sociais de seu governo estarão comprometidos

Por: Ricardo Galhardo / Ana Fernandes

 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em reunião do conselho consultivo da presidência do PT, que o governo tem até junho para mostrar sinais de recuperação da economia. Segundo relatos de participantes da reunião, Lula afirmou que a partir do segundo semestre indicadores econômicos e sociais que avançaram durante sua gestão podem regredir aos índices do final do governo Fernando Henrique Cardoso caso a economia não melhore, apagando o legado de seus oito anos no Planalto.

“Aí não vai ter povo para defender”, disse Lula, de acordo com integrantes do conselho.

Segundo relatos de conselheiros petistas, o ex-presidente pediu empenho do partido para pressionar governo e ministros no sentido de adotar medidas econômicas menos conservadoras e mais em sintonia com as demandas da base histórica do PT, contrária ao ajuste fiscal proposto pelo governo Dilma Rousseff.

 

 

Plano emergencial. Como parte da estratégia de pressão, o PT apresentou internamente um documento intitulado Plano Nacional de Emergência, cujo objetivo é propor, paralelamente ao governo, sugestões para retomada imediata do crescimento econômico.

O texto, que não foi divulgado para a imprensa, ainda será submetido do diretório nacional do partido, que se reúne no dia 26, no Rio de Janeiro. Entre seus autores está o economista Márcio Pochmann, professor da Unicamp e presidente da Fundação Perseu Abramo, o braço intelectual do PT.

Em setembro do ano passado, Pochmann coordenou a elaboração do documento Por um Brasil Justo e Democrático, no qual faz críticas ao ajuste econômico e propõe medidas como redução da taxa de juros, flexibilização das metas fiscais e mudança no cálculo da inflação.

Na reunião a portas fechadas do conselho, sobraram críticas à política econômica do governo Dilma, mesmo depois da substituição de Joaquim Levy por Nelson Barbosa no Ministério da Fazenda, principalmente à proposta de reforma da Previdência que aumenta a idade mínima para aposentadoria.

“Eu falei que sou contra (a reforma). O (sistema previdenciário do) setor privado, que é o que está em questão, é superavitário. Não precisa de ajuste. É um erro do governo dar tanta ênfase à reforma da Previdência neste ambiente. Já reclamamos com o ministro (Miguel) Rossetto (da Secretaria-Geral da Presidência)”, disse o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques.

Segundo eles, alguns participantes também se queixaram que a paralisia de obras públicas por causa do ajuste fiscal, o que tem sido alvo de reclamação de muitos prefeitos do PT e de partidos aliados que vão disputar a reeleição ou tentar eleger seus sucessores nas disputas municipais deste ano.

Em outro documento apresentado também na reunião de ontem e ainda sujeito a alterações, o presidente do PT, Rui Falcão, também cobra urgência na adoção de medidas para retomar o crescimento.

“Não se pode aguardar mais para inaugurar medidas que retomem o crescimento econômico sustentável, com inclusão social, geração de empregos, distribuição de renda, controle da inflação, melhoria dos serviços públicos, investimentos em infraestrutura”, diz o texto do presidente do PT.

 

Bases. Em uma linha semelhante à de Lula, Falcão afirmou que a demora na melhoria do ambiente econômico e a falta de diálogo sobre as propostas do governo dificultam a relação com as bases petistas.

“Se demorar mais a obtenção de resultados concretos, capazes de reacender expectativas otimistas, a histeria golpista encontrará sempre suas fontes de alimentação no pessimismo, no descontentamento e nas frustrações de toda uma população brasileira que, uma vez despertada para a consciência de seus direitos - também por obra de nossos governos -, não se contentará com pouco, nem aplaudirá, às cegas, medidas adotadas sem o devido debate junto à sociedade civil”, diz o texto que também será submetido à direção do PT.

Além de Lula e Falcão, participaram da reunião os governadores do Ceará, Camilo Santana; do Acre, Tião Viana e do Piauí, Wellington Dias; os prefeitos de São Paulo, Fernando Haddad, e de São Bernardo, Luiz Marinho e o ex-ministro Gilberto Carvalho, além de professores, sindicalistas e economistas ligados ao PT.

 

 

Erro

“O (sistema previdenciário do) setor privado, que é o que está em questão, é superavitário. Não precisa de ajuste. É um erro do governo dar tanta ênfase à reforma da Previdência neste ambiente”

Rui Falcão

PRESIDENTE NACIONAL DO PT

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'Não aguento mais falar disso', afirma petista

De acordo com relatos, ex-presidente fez ontem desabafo sobre apurações contra ele na reunião partidária
Por: Ricardo Galhardo / Ana Fernandes

 

Alvo de investigações do Ministério Público Estadual e da Operação Lava Jato sobre um apartamento no Guarujá e um sítio em Atibaia (SP), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem um desabafo durante reunião do conselho consultivo da presidência do PT.

“Não aguento mais falar disso. O Luiz Marinho vai lá em casa e só quer falar disso. Chego no Instituto para trabalhar e só falam disso. Não aguento mais”, disse Lula, segundo relatos de conselheiros.

A “escalada de ataques ao companheiro Lula” foi incluída pelo presidente nacional do PT, Rui Falcão, na lista de temas prioritários da reunião. Diante do desabafo do petista, o assunto acabou ficando em segundo plano. Na semana passada, durante reunião do conselho do Instituto Lula, o ex-presidente já havia evitado o assunto e chegou a interromper uma convidada que insistiu na pauta.

O PT e o Palácio do Planalto esperam uma resposta definitiva de Lula sobre o sítio que utiliza em Atibaia. Segundo o Instituto Lula, o ex-presidente e seus advogados preparam uma “resposta cabal”.

Durante a reunião, Rui Falcão apresentou um texto “em defesa de democracia” no qual conclama o partido a sair em apoio a Lula. “Tarefa muito especial e prioritária neste início de 2016 é a montagem de uma poderosa bateria de ações, recursos, debates e mobilizações de solidariedade a Lula”, diz o texto.

“O ataque a Lula é um ataque a determinado projeto de Nação, a todo projeto de Nação que se assente na busca de justiça, igualdade, liberdade, inclusão e participação de todos. O ataque a Lula é a confissão maior, pelas elites golpistas, de que não conseguirão impor o retorno de uma dominação excludente através de qualquer disputa que seja pautada pelo respeito às regras do jogo democrático.”

Hoje, movimentos sociais que integram a Frente Brasil Popular vão fazer uma manifestação em defesa do ex-presidente na frente do Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, onde está marcado depoimento de Lula para falar sobre o tríplex no Guarujá. / R.G. e A.F.

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Terreno tem antena de celular a 150 metros de distância

O sítio Santa Bárbara, que fica em Atibaia (SP) e é frequentado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, possui uma torre de cobertura de celular praticamente exclusiva, de acordo com o jornal Valor Econômico. Segundo a publicação, a operadora Oi instalou uma antena a menos de 150 metros da propriedade. Os moradores do local a descrevem como “a torre do Lula” e “a antena do Lula”. Ainda de acordo com a reportagem, o eixo onde foi instalada a antena não segue o padrão das outras 18 torres que a operadora mantém no município. Ao jornal, a assessoria do Instituto Lula afirmou que ele não possui um aparelho de celular.Procurada pelo Valor, a operadora Oi não quis comentar o caso.

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Sócio de sítio pede para ser ouvido na Lava Jato

Procuradores marcam depoimento de Jonas Suassuna após defesa do empresário divulgar petição e abrir sigilos
Por: Luciana Nunes Leal

 

A defesa de Jonas Suassuna encaminhou ontem à força-tarefa da Operação Lava Jato que investiga o sítio Santa Bárbara, em Atibaia, no interior de São Paulo, uma petição para que o empresário seja ouvido o mais cedo possível. Suassuna é um dos proprietários do sítio, que é frequentado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua família. No fim da tarde, os procuradores responsáveis pelo caso marcaram o depoimento de Suassuna para o próximo dia 25.

Os advogados do empresário também tornaram disponíveis os sigilos bancário e telefônico de Suassuna, a partir da data que os investigadores julgarem conveniente.

A Lava Jato investiga obras feitas na propriedade por empreiteiras como Odebrecht e OAS e apura se as benfeitorias foram alguma forma de compensação às empresas por contratos firmados com o governo federal. Também investiga a ligação do ex-presidente com o sítio, que também tem como proprietário formal o empresário Fernando Bittar. Suassuna e Bittar são sócios de um dos filhos de Lula, Fábio Luís, o Lulinha.

“Nos antecipamos porque tivemos notícia pela imprensa de que o inquérito foi desmembrado (para uma investigação específica sobre o sítio). Como algumas informações estão distorcidas, Jonas Suassuna tem interesse em prestar todos os esclarecimentos à força-tarefa”, afirmou o advogado do empresário, Ary Bergher.

No depoimento à força-tarefa, Suassuna vai reiterar informação já apresentada por outro advogado do empresário, Wilson Pimentel, de que é proprietário de parte do sítio, mas que o ex-presidente Lula não tem participação no investimento.  O advogado disse que Suassuna não fez qualquer tipo de obra no terreno que está em seu nome. Segundo a defesa, Suassuna esteve “algumas vezes” no sítio Santa Bárbara, mas não foi esclarecido se o ex-presidente Lula estava presente nessas ocasiões.