O globo, n. 30125, 29/01/2016. Economia, p. 20

Empresários não se animam e cobram reformas de longo prazo

DANILO FARIELLO, JÚNIA GAMA, SIMONE IGLESIAS, GERALDA DOCA, MARIA LIMA economia@ oglobo. com. br

 

“Estamos muito atrasados e precisamos da volta do crescimento, do desenvolvimento e do emprego”
Benjamin Steinbruch
Dono da CSN

Empresários mostraram ceticismo com as medidas e alguns deixaram o evento antes do discurso de encerramento de Dilma. Para Luiz Carlos Trabuco, do Bradesco, dia foi de “depoimentos e intenções”. - BRASÍLIA- Os participantes do Conselhão apoiaram ontem as medidas apresentadas pelo governo federal, mas mostraram ceticismo quanto à vontade real do governo de implementar cortes drásticos na máquina pública e promover reformas de longo prazo. Empresários e representantes da sociedade civil reconheceram a necessidade urgente do ajuste fiscal para retomada do crescimento sustentado, mas foram críticos quanto à estratégia de recriar a CPMF.

JORGE WILLIAMPerda. Trabuco, do Bradesco, mostrou preocupação: “Todos somos perdedores, pois, na recessão, todo mundo perde”

O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, disse que o dia ontem foi de “depoimentos e intenções”, trazendo à pauta de discussão a governança orçamentária e a reforma da Previdência. CPMF, SÓ PROVISÓRIA Mas destacou ser preciso que a CPMF seja, de fato, temporária:

— O dia não foi de propostas, foi de depoimentos e intenções. A presidente trouxe uma novidade ou reafirmou algo importante: ela seria e será provisória, temporária. Evidente que o Congresso vai avaliar essa possibilidade de, pelo imposto, ter o ajuste fiscal, mas desde que seja provisório, porque a carga tributária é elevada e exaustiva.

Mais cedo, Trabuco destacara a preocupação com o crescimento econômico:

— O que nos angustia é como tirar o país da recessão. Todos somos perdedores, pois, na recessão, todo mundo perde.

Reservadamente, um conselheiro disse que a classe empresarial espera que, já na próxima semana, medidas efetivas de reforma administrativa e projetos de impacto de longo prazo sejam apresentadas oficialmente pelo governo, conforme indicou o ministro Jaques Wagner, da Casa Civil.

— O nosso medo é que tudo isso tenha sido só um palco para o governo conseguir apoio para aprovar a CPMF e a Desvinculação de Receitas da União ( DRU), deixando as reformas estruturantes pelo caminho — disse esse conselheiro.

Benjamin Steinbruch, dono da CSN, disse no fim da reunião que foi positivo o fato de o governo ter apresentado a “situação real da economia e do emprego” e que as medidas listadas pelo governo precisam ser adotadas:

— Estamos muito atrasados e precisamos da volta do crescimento, do desenvolvimento e do emprego. EMPRESÁRIOS SAEM ANTES DO FIM O presidente da Câmara da Indústria da Construção ( Cbic), José Carlos Martins, disse que o pacote de financiamentos do governo vai dar uma “irrigada” na economia, mas criticou o uso dos recursos do FGTS como garantia nos empréstimos consignados e disse que a CPMF não vai resolver o problema das contas do governo.

Dilma Rousseff não teve qualquer interação com os 92 conselheiros presentes na reunião. Em seus discursos, a presidente e os ministros ignoraram cobranças e propostas feitas minutos antes. Segundo os presentes, apesar do clima de preocupação com a saída da crise traçado pelos empresários, os ministros exaltaram realizações do governo em 2015, como a política de exportações.

Em um evento de mais de quatro horas, alguns conselheiros saíram antes do discurso de encerramento da presidente: Roberto Setúbal, do Itaú Unibanco, que não quis falar com a imprensa; Luiza Trajano, do Magazine Luiza, que alegou aniversário de uma neta; e o presidente da Central Única dos Trabalhadores ( CUT), Vagner Freitas, por causa do aniversário da esposa.