O globo, n. 30123, 27/01/2016. País, p. 9

Preocupado, Comitê Olímpico cobra medidas preventivas

Roberto Maltchik

Célia Costa

Preocupado com o noticiário internacional sobre a propagação do vírus zika no país, o Comitê Olímpico Internacional ( COI) passou a fazer consultas sistemáticas ao Comitê Rio- 2016 a respeito das medidas que estão sendo adotadas para evitar que a doença atinja atletas, integrantes das delegações, espectadores, voluntários e trabalhadores envolvidos nas Olimpíadas, que ocorrerão em agosto. Protagonistas na competição, países como os Estados Unidos até mesmo já emitiram alerta a turistas para reconsiderar a decisão de visitar o Brasil ou outros lugares com surto de infestação.

Além das medidas de saúde pública, coordenadas pelo Ministério da Saúde, o comitê organizador informou ao COI que está ocorrendo um trabalho preventivo de inspeção e eliminação de focos em todas as instalações, hoje sob responsabilidade da prefeitura. Até o fumacê poderá ser utilizado, se houver recomendação sanitária para sua utilização. Estão sendo eliminados pontos de água parada dentro das instalações olímpicas.

O trabalho de prevenção deve ocorrer até julho, um mês antes do início das competições. A Rio- 2016 afirma ainda que agosto, o mês das Olimpíadas, tem o clima seco como característica, o que reduziria a incidência do mosquito Aedes aegypti. Este vem sendo um dos principais argumentos utilizados para tranquilizar os representantes do COI.

Ainda assim, os organizadores dos Jogos explicam que o monitoramento de focos continuará durante o evento. Em caso da existência de risco, a Rio- 2016 informa que adotará, mesmo durante as Olimpíadas, todas as medidas necessárias. E, se for a orientação das autoridades sanitárias, também vai usar o fumacê nos dias de evento esportivo. Não há restrição alguma para que o produto seja borrifado horas antes dos jogos.

NOVOS VEÍCULOS PARA A BAIXADA

Enquanto isso, municípios da Baixada Fluminense e São Gonçalo receberam ontem 30 novos carros para o trabalho de combate ao Aedes aegypti. Ao todo, foram 170 carros adquiridos com verbas repassadas pelo Ministério da Saúde para serem distribuído no estado, restando 20 a serem entregues.

Os veículos serão usados nos deslocamentos dos agentes de saúde, no transporte de amostras laboratoriais, no apoio às ações de controle de vetor, ente outras ações de vigilância epidemiológica. Os agentes vão esclarecer as gestantes e ainda farão um rastreamento ainda maior no entorno das casas onde estão essas mulheres grávidas.

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Comoção no Reino Unido

Alexandre Rodrigues

A epidemia de zika no Brasil ganha destaque na imprensa internacional e preocupa organizadores das Olimpíadas do Rio. Aepidemia de zika no Brasil, que poderia ser considerada só mais uma doença tropical distante da realidade do Reino Unido, vem ganhando destaque na imprensa britânica desde que seis de seus cidadãos foram diagnosticados com o vírus ao retornar de viagens a países da América Latina. Nenhum deles passou pelo Brasil, mas o país virou um dos principais focos da imprensa no Reino Unido nos últimos dias não apenas por registrar o maior número de casos entre as mais de 20 nações atingidas pela epidemia. A aproximação das Olimpíadas do Rio, em agosto, aguça o interesse dos britânicos sobre como o Brasil vai lidar com mais uma crise, agora de saúde pública.

“Fique longe do Rio se estiver grávida”, alertava ontem o título de reportagem do jornal “The Independent” sobre o medo provocado pela proliferação do vírus zika. A chamada se refere ao comunicado do Departamento de Saúde Pública do Reino Unido recomendando que mulheres grávidas ou que tenham planos de engravidar nos próximos meses adiem planos de viajar ao Brasil e outros países afetados. A recomendação, similar à feita pelos Estados Unidos, ficou restrita a esse grupo de risco por causa da provável relação entre a zika e bebês nascidos com microcefalia. Mesmo assim, as autoridades britânicas recomendam cuidados como o uso de repelente para quem “a viagem for inadiável”. O sistema público de saúde do Reino Unido também divulgou orientações semelhantes.

A epidemia de zika foi parar ontem na primeira página do diário “The Guardian”, que afirmou que o Brasil enfrenta apenas os primeiros efeitos de uma doença que pode colocar em risco uma geração de bebês que ainda está para nascer. A reportagem narra casos dramáticos de mães que foram surpreendidas pela microcefalia de recémnascidos em Pernambuco, um dos estados mais atingidos. O jornal expressa dúvidas sobre a capacidade das autoridades brasileiras de lidar com a epidemia, ao afirmar que não poderia vir em pior momento: a crise econômica limita os recursos financeiros dos governos locais e federal. O tabloide britânico “The Sun” classificou a situação de “pânico”. O escocês “The Scotsman” destacou evidências de possível transmissão do vírus em relações sexuais.

Embora as autoridades e os especialistas ouvidos pela imprensa informem a ausência de óbitos ou de sintomas graves entre os infectados pela zika até agora — ou ainda a impossibilidade de uma epidemia acontecer no Reino Unido devido à ausência do mosquito vetor —, as imagens de bebês com microcefalia comovem os britânicos. O canal de notícias da BBC, rede de TV estatal, tem dedicado espaço crescente aos desdobramentos da crise no Brasil. Mães se queixam da falta de preparo de médicos. Ontem, o canal abriu espaços durante todo o dia para responder dúvidas dos telespectadores sobre o vírus, quase como se a epidemia acontecesse no Reino Unido.

Na última sexta- feira, um virologista brasileiro ouvido pela BBC chegou a comparar a epidemia de zika à do ebola, que atingiu a África há dois anos, pelo fato de ser uma doença ainda desconhecida, cuja evolução dos sintomas ainda é imprevisível. Além da memória recente do ebola, contribui para o tom de alarme no Reino Unido o fato de o Brasil falhar há décadas no controle do mosquito transmissor. Há também a suspeita de que o vírus chegou ao Brasil em meio ao fluxo de viajantes da Copa de 2014. A Olimpíada do Rio atrai novamente a atenção do mundo, que aguarda do Brasil uma solução para conter a epidemia a tempo de não estragar a festa.