O Estado de São Paulo, n. 44649, 15/01/2016. Política, p. A7

Sem-terra elogia Alckmin e cobra Dilma

Para líder do MST, lei sancionada por tucano é ‘exemplo’ que deveria ser seguido pelo governo federal; governador nega interesse eleitoral
Por: Ricardo Chapola / Ana Fernandes

Ricardo Chapola

Ana Fernandes

O líder do Movimento dos Trabalhadores rurais Sem Terra (MST), Gilmar Mauro, afirmou ontem, que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) elaborou a “melhor lei de terras do Brasil” e cobrou a mesma postura da presidente Dilma Rousseff. O dirigente do MST elogiou o governo paulista em evento no Palácio dos Bandeirantes no qual o tucano sancionou uma lei que beneficia quase 7 mil famílias, ao permitir a transmissão de lotes de assentamentos aos herdeiros do titular e facilitar o acesso a linhas de financiamento.

“A melhor lei de terras do Brasil foi aprovada no Estado de São Paulo e nós esperamos que o exemplo daqui sirva também em nível nacional”, afirmou Mauro, em evento acompanhado por deputados, prefeitos e líderes do movimento agrário.

Alckmin se mostra publicamente mais próximo do MST num momento de críticas a Dilma por falta de diálogo com os movimentos sociais, historicamente mais próximos do PT. O governador é um dos nomes do PSDB que pretendem disputar a Presidência em 2018. Os outros pré-candidatos tucanos são os senadores Aécio Neves (MG), que disputou as eleições de 2014, e José Serra (SP).

Em seu discurso na cerimônia, Mauro disse que a lei tem um efeito simbólico nacional. “Essa lei representa muito politicamente em nível nacional, porque é a lei que nós queremos que o governo federal também aprove”, disse o líder sem-terra.

Questionado sobre sua aproximação ao MST, Alckmin afirmou que “quem ouve mais, erra menos”. “É importante estar aberto ao diálogo. Quando a gente ouve mais erra menos”, disse o governador aos jornalistas, após a solenidade.

 

Sem partido. O tucano negou qualquer conotação eleitoral na iniciativa que beneficiou o aliado histórico do PT. “A aproximação não é com o MST, é com todos aqueles que se dedicam à área de política agrícola. O assentado não tem filiação partidária, ele quer trabalhar.”

A costura entre o governo e o MST começou ainda em 2014 e se intensificou no ano passado. O governador promoveu três reuniões com líderes do movimento - na primeira, Alckmin participou pessoalmente e levou consigo todos os 27 secretários. Desde então, o tucano escalou o secretário da Casa Civil, Edson Aparecido, para administrar o andamento das conversas com o MST.

Mauro evitou falar em alinhamento político para a disputa presidencial de 2018. O líder sem-terra disse que a aproximação com Alckmin faz parte do dever do movimento. “É da nossa característica fazer pressão, mobilizar e ao mesmo tempo negociar. Temos que resolver problemas objetivos da nossa base. Independentemente de quem for o governo, qual partido for, evidentemente vamos ter que negociar”, afirmou.

O líder sem-terra indicou que não há impedimento em apoiar um candidato do PSDB se ele tiver propostas alinhadas com as do MST. “Há uma orientação política de que queremos avanços, de votar em setores progressistas. Se dentro de setores progressistas tiver alguém do PSDB...”.

 

Demanda

Segundo o governo estadual, 95% das 7 mil famílias pediam garantia de sucessão hereditária dos lotes

 

PARA LEMBRAR

Diálogo teve início em 2014

Desde o ano passado o tucano Geraldo Alckmin vive uma lua de mel com os sem terra, historicamente ligados ao PT. Como mostrou o Estado em setembro, o governador havia se aproximado do movimento ainda em 2014 – o que lhe ajudou a vencer a eleição pela primeira vez em regiões paulistas com assentamentos –, o que resultou em uma “relação política boa”, como disse na época o líder sem-terra Gilmar Mauro.

Senadores relacionados:

  • Aécio Neves
  • José Serra