Nem zika escapa de novo panelaço

Nívea Ribeiro e Naira Trindante 

04/02/2016

Pronunciamento da presidente Dilma Rousseff em cadeia de rádio e televisão, na noite de ontem, pedindo ajuda da população no combate ao mosquito, foi recebido com panelaço em cidades como Brasília e São Paulo.

A presidente exortou a população a eliminar os criadouros do Aedes. “O mosquito que transmite o vírus zika pode estar na casa do seu vizinho. Pode estar na sua casa, desde que haja criadouros. Ou seja, água parada contida em caixas d’água, vasos de flores, piscinas, bueiros, garrafas, pneus ou qualquer recipiente descartado como lixo”, disse.

Dilma também prometeu apoio às famílias afetadas pelo vírus zika. “Quero transmitir, agora, uma palavra especial de conforto às mulheres brasileiras, principalmente às mães e às futuras mamães. Faremos tudo, absolutamente tudo, que estiver ao nosso alcance para protegê-las. Faremos tudo, absolutamente tudo, para apoiar as crianças atingidas pela microcefalia e suas famílias.”

Vacina

Durante a entrega de casas do programa Minha Casa Minha Vida em Indaiatuba, em São Paulo, a presidente Dilma Rousseff afirmou que a criação de uma vacina contra o vírus zika está sendo buscada “incansavelmente”. O desenvolvimento da vacina será debatido por especialistas brasileiros e norte-americanos ainda este mês.

“Estamos em contato com os Estados Unidos para o desenvolvimento de uma vacina contra o zika vírus. Três instituições do Brasil estão fazendo pesquisas”, disse a presidente. “Temos de provar que esse país com mais de 200 milhões de habitantes é mais forte que o mosquito”, completou.

Teste

O ministro da Saúde, Marcelo Castro, anunciou que o país terá, em março, teste que especifica qual das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti — dengue, zika ou chikungunya — ataca um paciente com sintomas de infecção. O teste será disponibilizado nos postos do Sistema Único de Saúde (SUS), segundo o ministro. “Até agora é necessário fazer testes separados. Esperamos que isso acabe em um mês”, disse Castro depois após reunião emergencial com ministros da Saúde de 12 países latino-americanos, em Montevidéu, no Uruguai, para discutir a epidemia de zika.

Mediado pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), o objetivo do evento no Uruguai foi decidir ações integradas entre as nações para combater o Aedes — na América Latina, o mosquito só não está presente no Chile. Os representantes assinaram um documento reforçando a colaboração.

O acordo enfatiza que deve haver cooperação entre os países afetados e lembra que na próxima quinta-feira virão para o Brasil representantes do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos para criar protocolos para identificação do vírus zika e de microcefalia. “O vírus, de certa forma, já se espalhou por todo o continente. O mais importante são ações conjugadas, efetivas, compartilhamento de experiências e ações conjuntas no hemisfério para combater o mosquito. É a arma de que dispomos no momento”, afirmou o ministro Marcelo Castro.

“Há um compromisso do governo brasileiro, apesar de passar por dificuldades econômicas, de não faltar recursos para ações de combate a essa virose. Principalmente para vacinas, há um compromisso público da presidente Dilma Rousseff de que não faltarão recursos públicos para o combate a essa epidemia de microcefalia causada pelo vírus zika”, emendou.

Castro garantiu, ainda, que o Brasil oferecerá treinamento para equipes dos países vizinhos para realização de testes moleculares de diagnóstico do zika, que só identificam o vírus durante a infecção, além de ceder os protocolos emergenciais relacionados à microcefalia. Ontem, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou para comercialização novos testes de diagnóstico que conseguem identificar os vírus das três doenças transmitidas pelo Aedes mesmo meses após a infecção.

Segundo Castro, a relação entre a microcefalia e o zika é incontestável, devido ao aumento exponencial no número de casos da malformação e à presença do vírus em tecidos de mães e bebês com a condição, indicada por exames realizados pelo Instituto Oswaldo Cruz. O ministério estuda, atualmente, 3.670 suspeitas de microcefalia. Do total de casos notificados, mais de 4,7 mil, 404 já foram confirmados e 709, descartados. “Temos certeza absoluta, inequívoca, desta relação. Antes tínhamos 150 em um ano”.

A Organização Mundial de Saúde (OMS), no entanto, ainda estuda a correlação. A instituição também está analisando um caso de transmissão sexual, reportado em Dallas, nos Estados Unidos. É o segundo registro de transmissão por contato sexual nos últimos anos, e a OMS se declarou “preocupada” com a notificação.

 

Correio braziliense, n. 19246, 04/02/2016. Brasil, p. 06