O globo, n. 30122, 26/01/2016. País, p. 3

EX- MINISTRO CONFIRMA ENCONTRO COM LOBISTA, MAS NEGA FAVORES

Gilberto Carvalho conta ter devolvido adega que ganhou de empresa
Por: ANDRÉ DE SOUZA

 

ANDRÉ DE SOUZA

andre.renato@bsb.oglobo.com.br

 

BRASÍLIA - Após depoimento ontem na Justiça Federal, em Brasília, como testemunha no caso do lobista Alexandre Paes dos Santos, réu na Operação Zelotes, o ex- ministro Gilberto Carvalho confirmou que se encontrou no Palácio do Planalto com Mauro Marcondes, representante da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores ( Anfavea), mas negou ter recebido pedido de favores. Marcondes é um dos réus na Zelotes e está preso. Carvalho também disse desconhecer pagamento de propina a parlamentares na discussão de medidas provisórias.

A Operação Zelotes começou investigando irregularidades no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais ( Carf ), ligado ao Ministério da Fazenda. Conselheiros receberiam propina para reduzir e anular multas aplicadas aos contribuintes pela Receita Federal. Depois, os investigadores também passaram a analisar possível venda de trechos de medidas provisórias para beneficiar algumas montadoras.

Ao confirmar que se encontrou com Marcondes no Planalto, Carvalho disse ter olhado a agenda do ex- presidente Lula e verificado que ele se encontrou uma vez com o lobista, numa reunião em que havia outros dirigentes da Anfavea.

— Nunca Mauro dirigiu a mim nenhum pedido. A única coisa pessoal foi quando adotei as duas meninas em 2009 e ele mandou um presentinho, bonecas. E nunca me encontrei com Mauro fora da minha sala. Não tinha relação social com ele — afirmou o ex- ministro.

Carvalho negou ter recebido qualquer “proposta diferenciada” para favorecer interesses de empresas quando foi ministro nos governos de Lula e Dilma Rousseff e citou os presentes que recebeu. O Código de Ética da Presidência estabelece que os servidores só podem receber presentes de até R$ 100.

— Quando houve a adoção das minhas filhas, chegaram ao gabinete alguns presentes: vestidinhos, brinquedos. Ficou público na imprensa que eu tinha adotado duas meninas. Chegaram por meio das minhas secretárias. Nada indecente, nada fora do padrão. Nós devolvíamos presentes que excedessem o teto da lei. Eu devolvi por exemplo uma geladeira de vinhos ( adega) que ganhei de uma empresa — contou.

O ex- ministro afirmou que a Operação Zelotes visa atingir o ex- presidente Lula e enfraquecê- lo na disputa presidencial para 2018.

— Não há dúvida nenhuma de que o presidente Lula virou alvo preferencial. Há um medo de que o presidente Lula volte em 2018. Há uma vontade deliberada de tentar destruir esse projeto que ajudou a mudar o país — disse Carvalho, que completou: — Na verdade, a Zelotes deveria estar preocupada em restituir os cofres públicos por aquelas empresas que fraudaram o Carf. Só espero que essa mesma intensidade se aplique na questão das grandes empresas, que ninguém fala mais e que, ao que tudo indica, praticaram crimes fiscais .

O procurador da República Frederico Paiva informou ontem que documentos envolvendo a compra dos caças suecos Gripen estão sendo analisados pela PF, que, na semana passada, ouviu Lula também sobre esse assunto. O ex- presidente negou que repasses de R$ 2,5 milhões feitos a seu filho Luís Cláudio fosse por serviços prestados pelo petista à Saab, fabricante das aeronaves.

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