Mais 603 casos de microcefalia

Nívea Ribeiro 

03/02/2016

Mais de 600 casos de microcefalia foram notificados na última semana no país. Segundo boletim do Ministério da Saúde, 4.783 suspeitas da malformação foram registrados desde outubro de 2015. No boletim anterior, havia 4.180 notificações. O incremento foi de 603 registros em uma semana.

Do total, 709 casos já foram descartados e 404 bebês tiveram o diagnóstico confirmado —17 deles relacionados ao vírus zika, transmitido pelo Aedes aegypti. Seguem em investigação 3.670 suspeitas, 76,7% das notificações.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou a criação de uma unidade global de resposta ao zika, diante do surto da malformação possivelmente relacionado ao vírus. O receio é de que o zika se espalhe por mais continentes além da América, como Ásia e África, locais com os mais elevados índices de nascimento. “Nos preocupa que isso se propague a outras zonas do mundo, onde a população não é imune, e sabemos que os mosquitos portadores do zika estão presentes na maior parte da África, em áreas do sul da Europa e em muitas partes da Ásia, em particular no sul daquele continente”, afirmou Anthony Costello, diretor do Departamento de Saúde Materna da OMS.

Ele lembrou, em entrevista à Rádio ONU, que “o zika não é uma infecção que ameaça a vida das pessoas como o HIV ou o ebola”, portanto, “as pessoas que queiram viajar para a região e que possam estar grávidas ou pensando em engravidar, devem considerar o que vão fazer”. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) solicitou US$ 9 milhões (cerca de R$ 36 milhões) para programas de controle do vírus e apoio às famílias das crianças nascidas com microcefalia na América.

Após a organização declarar emergência em saúde pública de interesse internacional devido ao surto de microcefalia, a expectativa é de que os investimentos em pesquisa aumentem e que seja comprovada a ligação entre o aumento no número de casos da malformação e a epidemia do vírus zika. O laboratório Sanofi Pasteur anunciou ontem que vai iniciar pesquisas para elaboração de uma vacina contra o zika — a empresa é a mesma que fabricou a vacina contra a dengue. Segundo os especialistas brasileiros, a elaboração de uma vacina deve demorar entre três e cinco anos.

Mundo

Segundo boletim epidemiológico da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), até o último sábado, 26 nações e territórios das Américas já haviam registrado circulação autóctone (no próprio local) do vírus zika. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos informou a notificação de casos em Samoa e Samoa Americana, na Oceania, e em Cabo Verde, na África.

Há algumas semanas, o CDC já havia recomendado que as gestantes do país, em qualquer estágio da gravidez, adiassem as viagens para os países listados, se possível. A OMS, mesmo afastando a possibilidade de proibir turismo internacional, fez a mesma indicação a mulheres grávidas que puderem cancelar ou postergar as viagens. Desde a última semana, diversas companhias aéreas internacionais oferecem às mulheres alternativas de cancelamento ou reembolso de bilhetes.

O Comitê Organizador do Jogos Rio 2016 informou que não vai desaconselhar a vinda de turistas para as Olimpíadas e que seguirá as recomendações da OMS, referentes somente às gestantes. A previsão do comitê é que, em agosto, quando ocorrem os jogos, os índices de contaminação serão baixos, já que o país estará no inverno.

Em Dallas, no estado do Texas (EUA), as autoridades locais de saúde comunicaram ontem que uma pessoa foi infectada com o zika por contato sexual — o parceiro estaria doente e teria contraído o vírus durante viagem para um país com circulação do vírus. Ainda não foram notificados casos de transmissão pelo Aedes no estado.

US$ 9 milhões

Quantia que o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) solicitou para programas de controle do vírus e apoio às famílias das crianças nascidas com microcefalia na América.

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Correio braziliense, n. 19245, 03/02/2016. Brasil, p. 7