Em mais uma manobra para tentar salvar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de quem é aliado, o líder do PTB na Casa, Jovair Arantes (GO), indicou o deputado Nilton Capixaba (RO) para a vaga a que o partido tem direito no Conselho de Ética. A indicação foi feita após o deputado Arnaldo Faria de Sá (SP) renunciar ao posto, em troca da promessa de ser indicado por Arantes para a presidência da comissão de Seguridade Social da Casa.

Alvo de processo por quebra de decoro parlamentar no conselho, Cunha será favorecido com a mudança, pois Faria de Sá foi um dos 11 deputados que declararam voto a favor da cassação do mandato do peemedebista, enquanto Nilton Capixaba deve seguir orientação do líder e votar a favor do presidente da Câmara no caso. Com isso, o placar da votação do processo deve empatar em 10 a 10.

“O líder do meu partido me pediu a vaga e eu estou disponibilizando”, justificou Faria de Sá. Arantes deve indicá-lo para a presidência da comissão de Seguridade Social, posto já ocupado pelo PTB em 2015 e que tem relevância especial neste ano, quando está prevista a discussão da reforma da Previdência Social.

Manobra. Declaradamente favorável à cassação de Cunha, o presidente do Conselho de Ética, deputado José Carlos Araújo (PSD-BA), criticou a substituição feita pelo PTB. “Ele está usando a máquina para pressionar seus aliados e passar por cima do processo”, criticou o presidente, que só votará no processo em caso de empate.

Araújo lembrou que Nilton Capixaba, que está em seu quarto mandato de deputado, já foi alvo de processo no Conselho de Ética. O processo correu em 2006, por acusação de envolvimento com o caso da “máfia dos sanguessugas” - escândalo de compra de ambulâncias superfaturadas com emendas parlamentares. O processo, contudo, não teve continuidade, porque a legislatura terminou e o deputado não foi reeleito.

O líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy (BA), também criticou a decisão do PTB. O PSDB já defendeu publicamente o afastamento de Cunha da presidência da Câmara.  Imbassahy já anunciou, inclusive, que não pretende participar de reuniões da oposição com o peemedebista na residência oficial da presidência da Câmara.

Vista. Na tarde de hoje, o Conselho de Ética voltará a se reunir. Na ocasião, o presidente do colegiado deverá formalizar a concessão de vista feita por aliados de Cunha.

Araújo foi obrigado a conceder o pedido de vista após o vice-presidente da Câmara, Valdir Maranhão (PP-MA), aliado de Cunha, atender a recurso apresentado pela “tropa de choque” do peemedebista e anular a votação do parecer preliminar que pedia a cassação de Cunha.

Aliados do presidente da Câmara argumentaram que, como houve troca de relator do processo - mudança também determinada por Valdir Maranhão -, um novo pedido de vista deveria ser concedido pela presidência do conselho. Na época, contudo, Araújo negou a solicitação, o que levou os aliados de Cunha a recorrerem à Mesa Diretora. Com o novo pedido de vista, a nova votação do parecer do processo de Cunha deve ficar para a próxima semana.

Sem sigilo

O ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, revogou o sigilo da denúncia oferecida contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).