Valor econômico, v. 16, n. 3968, 22/03/2016. Política, p. A4

Em sua primeira fase internacional, Lava-Jato prende foragido em Portugal

Por André Guilherme Vieira e Letícia Casado | De Curitiba e Brasília

 

O Ministério Público Federal e a Polícia Federal deflagraram ontem a "Polimento", 25ª fase da Operação Lava-Jato, cujo alvo foi o suposto operador de propinas Raul Schmidt. Em conjunto com investigadores do Brasil, a Polícia Judiciária de Portugal cumpriu mandados de busca e apreensão e prendeu Schmidt em Lisboa. Foi a primeira fase da operação no exterior e também a mais discreta: em todas outras houve entrevistas coletivas à imprensa, o que não foi o caso de ontem.

Schmidt é investigado pelo pagamento de propinas aos ex-diretores da Petrobras Renato Duque (Serviços), Nestor Cerveró (Internacional) e seu sucessor Jorge Zelada. Eles estão presos no Paraná, acusados de participar de esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Raul Schmidt estava foragido desde julho de 2015, quando foi expedida a ordem de prisão contra ele. Seu nome foi incluído no alerta de difusão da Interpol em outubro do ano passado.

Além de atuar como operador financeiro no pagamento de propinas aos agentes públicos da Petrobras, Schmidt também aparece como preposto de empresas internacionais na obtenção de contratos de exploração deplataformas da Petrobras, de acordo com o MPF. A operação foi deflagrada em conjunto entre Brasil e Portugal. As diligência foram cumpridas pela polícia judiciária portuguesa e pelo Ministério Público português comacompanhamento de autoridades brasileiras do MPF e da PF.

O Brasil dará início ao processo de extradição de Schmidt. Ele é brasileiro, possui cidadania portuguesa, e morava em Londres, onde mantinha uma galeria de arte. Ele se mudou para Portugal depois do início da Operação Lava-Jato, em virtude da dupla nacionalidade. A expectativa das autoridades brasileiras é que o processo na justiça portuguesa seja sumário e Schmidt seja enviado para o Brasil ainda esta semana.

Em outra frente da Lava-Jato, o tesoureiro da campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2010, José de Fillipi Júnior, disse à PF que seu taxista de "confiança", João Henrique Worn, foi à sede da UTC em São Paulo "buscarbrindes". O ex-tesoureiro é investigado pelo suposto recebimento de propina da empreiteira, por meio de contratos firmados com a Petrobras.

Worn teria recebido cerca de R$ 750 mil em nome de Fillipi, entre 2010 e 2014, afirmam os investigadores. As retiradas teriam sido feitas na sede da UTC e constam de tabela entregue pelo dono da empresa e delator, Ricardo Pessoa. A empreiteira é apontada como envolvida em suposto esquema de cartel e corrupção instalado na Petrobras entre 2004 e 2014, segundo a Lava-Jato.

Em depoimento no dia 4 de março, Fillipi disse que mantém relação com a UTC desde 2006 e que a empreiteira fez doações para as campanha presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva (2006) e de Dilma em 2010. O PTnega irregularidades e informa que todas as doações de campanha foram legais e registradas pela Justiça Eleitoral.

Segundo Fillipi, todas as doações foram feitas por transferências eletrônicas. Ele negou qualquer transação envolvendo dinheiro em espécie.