O Estado de São Paulo, n. 44.686, 21/02/2016. Política, p. A10

Tucanos já traçam estratégias para 2018

Alckmin e Aécio medem forças por definição dos critérios para indicação do nome tucano'
Por: Erich Decat

 

Os grupos do presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), e do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), já começam a travar o que tem sido chamada internamente de “guerra surda” pelos critérios que deverão decidir o nome da legenda para a sucessão presidencial de 2018.

Os dois lados não descartam a possibilidade de o senador José Serra (SP) também chegar com forte capital político em 2018, mas avaliam que, neste momento, ele está mais distante da candidatura.

Do lado dos alckmistas, é crescente a defesa de que a indicação não deverá passar por pesquisas eleitorais, critério em que Aécio tem se despontado, mas que, para os paulistas, trata-se de mero recall da última eleição presidencial.

Na avaliação de integrantes do grupo do governador de São Paulo, a escolha deve se basear principalmente em dois fatores. O primeiro é o potencial de cada um em agregar o maior número de partidos na chapa presidencial. A avaliação parte do pressuposto de que um dos pontos de desequilíbrio na próxima eleição, que não poderá contar com doações empresariais, será o tempo de TV e a estrutura partidária dos aliados. Dentro desse contexto, parte da estratégia passa pela busca de uma aliança de partidos de porte médio como o DEM e o PSB.

O partido socialista é comandado em São Paulo pelo vice-governador Márcio França, que assumiu a frente das negociações para levar a legenda para Alckmin. Segundo integrantes da cúpula nacional do PSB, uma contrapartida estudada é um possível apoio dos tucanos à candidatura de França na disputa pela sucessão de Alckmin no governo estadual. Além das alianças, integrantes do grupo do governador também consideram que a gestão à frente do Estado de São Paulo, maior colégio eleitoral do País, servirá como uma “boa vitrine” para Alckmin na conquista de eleitores.

 

Urna. Um segundo fator, para os paulistas, deve ser o potencial de votos a ser alcançado. Alckmin comanda o maior colégio eleitoral do País – onde há grande resistência ao petismo. No 2.º turno das eleições de 2014, o PT teve sua menor votação das quatro últimas eleições presidenciais, com pouco menos de 8,5 milhões de votos (35,7% dos válidos). Aécio teve 15,3 milhões de eleitores. Alckmistas dizem que Aécio não se elegeria sem o apoio do governador em São Paulo e que o ideal para o mineiro é tentar reconquistar Minas Gerais, perdido para Fernando Pimentel (PT) nas últimas eleições e onde o tucano não tem um candidato forte para enfrentá-lo na reeleição.

Um dos primeiros embates entre as duas alas deverá ocorrer no primeiro semestre de 2017, quando será realizada a convenção de escolha dos principais cargos da Executiva Nacional do partido. Os paulistas dizem que Aécio, pelo estatuto, não pode ser reconduzido à presidência do partido. “A aliança num sistema presidencialista é importante para tempo de TV, para capilaridade de estrutura, mas o que ganha uma eleição é o candidato e suas circunstância”, ressaltou o presidente do PSDB em Minas Gerais, deputado Marcus Pestana.

Para o mineiro, a realização de uma disputa no voto não está descartada. “A gente pode fazer uma prévia. Isso tem o efeito negativo, que pode semear divisões, mas quem participa da prévia deve se comprometer com o resultado”. Pestana destaca, contudo, que um racha poderá tirar uma possível vitória nas próximas eleições. “Não podemos ter um raciocínio linear. Não podemos perder São Paulo. Tem que ser um processo de ganhos múltiplos e não de quem anula o outro. Não pode ser um processo autofágico, a disputa é legítima, mas não se pode ser um harakiri partidário”, pontuou.

Para o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), ligado a Aécio, o embate deverá se intensificar após a eleição municipal de outubro. “Essa disputa tentará ser evitada, mas ela pode acontecer. Ela só vai acontecer depois das eleições municipais, depois que você olhar o tabuleiro das eleições. E é claro que a disputa pelos espaços na convenção do partido antecipa isso”, disse.

O grupo de Aécio enxerga a oportunidade de ele consolidar o apoio das principais lideranças do PSDB nas eleições municipais deste ano e influenciar na formação da Executiva.

 

‘Haraquiri’

“Não podemos ter um raciocínio linear. Não podemos perder São Paulo. Tem que ser um processo de ganhos múltiplos e não de quem anula o outro. Não pode ser um processo autofágico, a disputa é legítima, mas não se pode ser um haraquiri partidário”

Marcus Pestana

PRESIDENTE DO PSDB EM MINAS GERAIS

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Com bandeira propositiva, Aécio quer estreitar laços com Renan

Por: Isabela Bonfim

 

O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), busca aproximação com o Presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), após ver perder força o impeachment da presidente Dilma Rousseff no Congresso e a estratégia de aproximação levada a cabo em 2015 com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e com o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP).

Nesta semana, das oito propostas apresentadas a Renan para tentar mostrar uma agenda propositiva, cinco já estavam inseridas na chamada Agenda Brasil do peemedebista, documento divulgado por ele no ano passado com propostas para a retomada da economia.

Oficialmente, os tucanos defendem a importância dessas negociações para promover a recuperação do País. Entretanto, interlocutores apontam que a aliança com Renan deve ajudar Aécio a manter o protagonismo dentro do seu partido.

Além disso, com o PT fragilizado, senadores de oposição entendem que a proximidade com Renan cria uma “janela de oportunidade” para se aprovar matérias que são consideradas “dogmáticas” para o partido da presidente Dilma. O projeto do senador José Serra (PSDB-SP), que põe fim à obrigatoriedade de a Petrobrás ser operadora única na exploração do pré-sal, é um exemplo de matéria trazida pela oposição, apoiada por Renan, e fortemente combatida pela bancada do PT. De acordo com o líder do PSDB, Cássio Cunha Lima (PB), “a formação política mais liberal de Renan dá mais empatia aos projetos da bancada do PSDB”.

Outras propostas do PSDB que já faziam parte da lista de Renan são a Lei das Estatais, o projeto de autoria de Aécio – que limita a quantidade de cargos comissionados na administração pública – e o projeto de Serra que cria um limite para a dívida da União.

Em fevereiro do ano passado, os dois senadores bateram boca, com direito a dedo em riste de Renan, no processo de escolha dos cargos da Mesa Diretora do Senado. A bancada tucana apoiou o peemedebista Luiz Henrique (SC) na disputa à presidência da Casa. O alagoano chamou Aécio de “estrela”.

 

Distância. Por outro lado, a bancada do PT demonstrou distância de interesses com Renan. Segundo o senador Lindbergh Faria, o grupo vai buscar projetos que promovam a arrecadação de tributos, mas vai focar a taxação nos contribuintes mais ricos. Os senadores do PSDB teorizam publicamente que essa falta de sintonia do PT com Renan se deve ao fato de que as pautas do partido são alheias ao momento emergencial vivido pela economia do País.

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