O Estado de São Paulo, n. 44.689, 24/02/2016 Metrópole, p. A19

País liga 67 casos de microcefalia ao zika; OMS elogia ações

Governo recua e volta a divulgar associações com vírus; suspeitas sobem 4,3%. Margaret Chan fala em ‘transparência’ do governo

Por: Lígia Formenti

 

Depois da polêmica, o Ministério da Saúde voltou a incluir no boletim sobre microcefalia o número de casos de bebês que tiveram a má-formação associada ao zika: 67. O dado havia sido retirado do informe na semana passada.

Ontem, no primeiro dia de visita ao Brasil,a diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margaret Chan, elogiou o desempenho das autoridades.

Boletim divulgado nesta terça-feira mostrou que o número de casos suspeitos subiu 4,3% em uma semana. Até o momento, foram relatados 4.107 bebês com a má-formação. Semana passada, eram 3.935. Do total de casos até o momento, foram confirmados 583 e outros 950 foram descartados. Isso significa que, dos casos notificados, 37% foram esclarecidos - número ainda considerado baixo pelo governo.

Os casos confirmados ocorreram em 235 municípios de 15 Estados e no Distrito Federal. Já os casos suspeitos foram registrados em 1.101 municípios de 25 unidades da federação. Só Amapá e Amazonas não têm registros. Houve 120 óbitos por microcefalia ou por alterações no sistema nervoso logo depois do parto ou durante a gestação. Desse total, foi confirmada microcefalia e outras alterações em 25% dos casos.

O ministro da Saúde, Marcelo Castro, não explicou o recuo. Questionado, afirmou que a retirada das associações com zika tinha sido motivada para evitar “erros” de interpretação. O número de casos de bebês relacionados ao vírus, avaliou, seria muito maior do que o confirmado por exames. Ao Estado, neste mês, já havia ponderado que até 40% dos registros podem estar associados ao zika.

 

Visita internacional. Ontem, no primeiro dia da visita oficial da OMS ao País, a diretora-geral Margaret Chan disse que o País assumiu um papel de liderança e procurou passar uma mensagem tranquilizadora sobre eventuais riscos para turistas e atletas da Rio-2016. Depois de se encontrar com a presidente Dilma Rousseff, a diretora disse estar bem impressionada com as ações para mobilizar a sociedade civil,setores religiosos e empresariado. “Nunca tinha visto uma liderança atacar o problema com tamanha velocidade e seriedade”, disse.

Referindo-se ao Aedes aegypti como “grande inimigo”, a diretora ressaltou a importância de se compartilhar informação, sobretudo com apoio da mídia, e de se trabalhar no combate aos criadouros. “Dois terços estão em residências, daí a necessidade de se informar a população.” Margaret elogiou também a transparência do governo brasileiro.

A afirmação foi vista como uma defesa do Brasil em relação às críticas da comunidade científica internacional – alegando que o País estaria resistindo em repassar amostras do zika. “O governo está sendo transparente, compartilhando todas as informações que tenham sido obtidas.”

 

Olimpíada. “Muita gente me pergunta sobre a Olimpíada”, destacou a diretora-geral da OMS em Brasília. “O governo brasileiro está trabalhando de forma constante. Posso assegurar que teremos um plano muito bom e as pessoas vão ter o máximo de proteção. Estou confiante.” Hoje, a missão da OMS deve ir para Pernambuco.