O Estado de São Paulo, n. 44.689, 24/02/2016 Política, p. A4

Lobista fez repasses a Santana na Suíça durante a campanha de Dilma

Marqueteiro e a mulher dele, Mônica, se apresentaram ontem à PF, em Curitiba, onde foram presos; tabela em poder da força-tarefa da operação aponta US$ 1,5 mi em depósitos, entre julho e novembro de 2014, em conta atribuída a ele no país europeu
Por: Ricardo Brandt / Ricardo Chapola / Fausto Macedo

 

A conta atribuída pela Operação Lava Jato na Suíça ao marqueteiro João Santana recebeu três depósitos que totalizaram US$ 1,5 milhão em 2014, período em que ele cuidava da campanha da presidente Dilma Rousseff. Houve um pagamento em 10 de julho, um em 6 de setembro e um terceiro em 4 de novembro daquele ano. Os pagamentos foram feitos por uma offshore, a Deep Sea Oil Corp, de Zwi Skornicki.

Os repasses constam de uma tabela em poder da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, montada com dados enviados pelo Citibank North America, de Nova York, com base em um pedido de cooperação internacional. O período em que foram efetuados os três pagamentos põe em xeque a defesa de Santana. Segundo o marqueteiro, os valores recebidos no exterior foram relativos a serviços prestados por ele fora do Brasil.

Em 2014, Santana se dedicou prioritariamente a atender Dilma. Naquele ano, a campanha começou oficialmente em julho e terminou em novembro, com a reeleição dela.

Santana, a mulher e sócia dele, Mônica Moura, e Skornick estão presos em Curitiba - todos são alvo da Operação Acarajé - 23.ª fase da Lava Jato deflagrada anteontem. O casal estava no República Dominicana e se apresentou ontem à PF. Skornicki, apontado como operador de propina, foi preso anteontem.

 

Pagamentos. Na tabela em poder da Lava Jato estão débitos e créditos da conta mantida no Banque Heritage, na Suíça, em nome da offshore Shellbill Finance, que, segundo a força-tarefa, é de Santana - e que passaram pela agência do Citibank em Nova York. Ao todo, foram identificados nove depósitos da conta secretada de Zwi Skornicki, entre 2008 e 2015, totalizando US$ 4,5 milhões.

“Identificaram-se, ainda, ao menos nove depósitos de Zwi Skornicki e Bruno Skornicki, a partir de conta no banco Delta National Bank & Trust CO. mantida em nome da offshore Deep Sea Oil Corp., em favor da conta do Banque Heritage aberta em nome da offshore Shellbill, cujos beneficiários são João Santana e Mônica Moura, mediante a utilização da conta correspondente do Citibank North America, New York, no valor total de USD 4.500.000”, disse o delegado Filipe Hille Pace.

O primeiro pagamento da offshore para a suposta conta secreta de Santana é de 25 de setembro de 2013. Outros dois ocorrem no mesmo ano, em novembro e dezembro. Todas as nove transferências feitas pela Deep Sea Oil a Santana são de US$ 500 mil cada uma. Em 2014, os primeiros pagamentos foram feitos em fevereiro, março e abril. Os pagamentos voltaram a ocorrer em julho, quando a campanha eleitoral no Brasil já havia começado oficialmente, em setembro e novembro.

A PF apura informação de que a conta aberta em nome da offshore Shelebill recebeu bem mais do que os US$ 7,5 milhões já identificados com a ajuda dos EUA. “Não estamos apurando crime eleitoral, nosso interesse é o suposto crime de lavagem de dinheiro”, afirmou Pace. A Lava Jato mira no uso de doações como forma de ocultar propina.

 

TSE. Em manifestação protocolada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ontem, o PSDB pede que sejam acrescentados no processo em que a legenda pede a cassação do mandato de Dilma e do vice Michel Temer os documentos obtidos na Acarajé. O PSDB também pede que seja tomado o depoimento de Skornicki. “De grande importância igualmente se faz a oitiva, como testemunha, de Zwi Skornicki, apontado como o responsável pelas remessas de valores irregulares”, diz o pedido.

Vice-presidente do TSE, Gilmar Mendes disse ontem que é possível incluir novas provas da Lava Jato no processo em curso no tribunal. “Os fatos são pré-existentes. As provas é que são novas. E o momento (de incluir novas provas) é esse. Agora que abriu para instrução processual, encerrou essa fase de defesa.” / COLABORARAM ANDREZA MATAIS, ERICH DECAT e BEATRIZ BULLA

 

A 23ª FASE E A JUSTIÇA ELEITORAL

As suspeitas da Lava Jato

Bilhete

A investigação sobre João Santana começou com a apreensão de uma carta enviada por sua mulher e sócia, Mônica Moura, ao operador Zwi Skornicki. Na carta, Mônica faz alusão a “sua” conta mantida em nome da offshore Shellbill, aberta no Panamá. A offshore, diz a Lava Jato, é controlada pelo casal e foi usada para receber valores no exterior.

 

Repasses

O juiz Sérgio Moro afirma que Zwi Skornick, apontado como operador de propinas, e a empreiteira Odebrecht pagaram ao casal US$ 7,5 milhões no exterior, via Shellbill. Os pagamentos de Skornicki somaram US$ 4,5 milhões entre 2013 e 2014. Os efetuados por meio de conta utilizada pela Odebrecht somaram US$ 3 milhões entre 2012 e 2103.

 

Campanhas

Segundo a força-tarefa da Lava Jato, Santana recebeu valores no exterior por serviços prestados ao PT – ele foi marqueteiro de Lula, Dilma e Fernando Haddad. A suspeita é de que esse valor tenha sido desviado da Petrobrás e utilizado para bancar as campanhas do partido.

 

O que a oposição quer

Ações no TSE

A campanha da chapa Dilma/Temer, reeleita em 2014, é alvo de ao menos quatro ações no TSE – todas foram apresentadas pelo PSDB a apontam abuso de poder político e econômico. Uma delas menciona o financiamento de campanha mediante doações oficiais de empreiteiras contratadas pela Petrobrás como parte da distribuição de propinas.

 

‘Reforço’ no processo

Em manifestação protocolada ontem no TSE, o PSDB pede que sejam acrescentadas no processo em que a legenda pede a cassação do mandato de Dilma/Temer provas da operação Acarajé, deflagrada anteontem e que levou o ex-marqueteiro do PT João Santana para a cadeia. Presidente do PSDB, Aécio Neves convocou ontem a população para ato pró-impeachment em março.

 

Depoimento

No documento encaminhado ao TSE, o PSDB também pede que seja tomado o depoimento do empresário Zwi Skornicki, preso na mesma fase da Lava Jato na qual foi decretada a prisão de João Santana. O vice-procurador- geral eleitoral, Eugênio Aragão, que terá de se manifestar nesse caso envolvendo o marqueteiro, já demonstrou, em parecer ao TSE, ser favorável ao compartilhamento de provas da Lava Jato em ação em curso na corte eleitoral.

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Oposição tenta reacender ação do impeachment

Por: Isabela Bonfim / Erich Decat / Julia Lindner

 

Além de aproveitar a Operação Acarajé para reforçar a estratégia de cassação do mandato da presidente Dilma Rousseff e do vice-presidente Michel Temer no TSE, a oposição decidiu ontem tentar retomar o debate do impeachment no Congresso.  A ideia vem em três frentes: acelerar o julgamento do recurso do rito do impedimento no Supremo Tribunal Federal; convocar a população para uma manifestação nas ruas no dia 13 de março e criar um comitê suprapartidário em defesa do impedimento da dupla.

As ações foram todas deflagradas ontem no Congresso Nacional. “Conclamamos nossos companheiros em todas as regiões do País, para que se façam presentes neste momento de profundo agravamento da crise política, econômica, social e moral que vem devastando o Brasil”, disse o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG).  Acompanhado de outros líderes da oposição, o senador tucano divulgou uma nota de convocação da população para os protestos contra Dilma, agendados para o próximo mês.

Para acelerar o processo, a oposição também vai pedir ao presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Ricardo Lewandowski, uma audiência para cobrar celeridade na análise dos recursos apresentados no processo que trata sobre o rito de impeachment.

“Decidimos fazer uma visita da oposição ao presidente do Supremo para pedir agilidade na votação dos embargos para que a gente possa voltar a funcionar”, disse o presidente do Solidariedade, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força.

Líderes dos partidos de oposição na Câmara também anunciaram a criação de um comitê pró-impeachment para sair às ruas em defesa do afastamento da presidente Dilma Rousseff. Segundo o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), a ideia é fazer eventos por cidades, como foi feito no movimento Diretas-Já, na década de 1980, e no impeachment de Fernando Collor.

 

Mobilização

“Conclamamos nossos companheiros neste momento de profundo agravamento de crise”

Aécio Neves

SENADOR (MG) E PRESIDENTE DO PSDB

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