O globo, n. 30.150, 23/02/2016. País, p.4

Marqueteiro virou conselheiro e homem de confiança de Dilma

Bem- sucedido no marketing político, Santana ajudou a eleger seis presidentes no Brasil e no exterior. Como jornalista, ele foi crucial para o impeachment de Fernando Collor

Ele trabalhou com Duda Mendonça, abatido pelo mensalão, e em seis anos foi de marqueteiro a conselheiro político de Dilma. Ao longo dos últimos seis anos, João Santana tornouse mais do que o marqueteiro da presidente Dilma Rousseff, passando a conselheiro político e uma das poucas pessoas a quem a petista ouvia. Além de fazer as duas campanhas presidenciais de Dilma e de redigir os discursos mais importantes, Santana era chamado ao Palácio da Alvorada em momentos de crise, como as manifestações de junho de 2013. Pesquisas qualitativas e quantitativas feitas pelo marqueteiro eram utilizadas pelo governo para traçar estratégias políticas.

ERBS JR./ FRAME PHOTO/ AE/ 02- 10- 2014Em ação. João Santana orienta a presidente Dilma, então candidata à reeleição, antes de debate da TV Globo: marqueteiro foi alvo de críticas de petistas

Desde o ano passado Santana está afastado do governo e do PT, fazendo campanhas no exterior, como na Argentina. Ele passou a dar contribuições pontuais. Em abril do ano passado, por exemplo, quem fez o programa de TV do PT foi Maurício Carvalho, marqueteiro da campanha derrotada de Alexandre Padilha ( PT) ao governo de São Paulo.

Desde 2006, Santana ajudou a eleger seis presidentes: Luiz Inácio Lula da Silva; Mauricio Funes, de El Salvador; Dilma; Danilo Medina, da República Dominicana; José Eduardo dos Santos, de Angola; e Hugo Chávez, na Venezuela.

Antes de se tornar marqueteiro, ainda como jornalista, Santana foi importante para o impeachment de Fernando Collor com a reportagem “Eriberto, testemunha- chave”. Ele dirigia a sucursal da revista “IstoÉ”, em Brasília, e ganhou o Prêmio Esso de Reportagem em 1992, junto com os jornalistas Augusto Fonseca e Mino Pedrosa.

No marketing político, após trabalhar com Duda Mendonça, com quem rompeu posteriormente, Santana o substituiu na campanha de Lula à reeleição, em 2006. Mendonça havia saído de cena no escândalo do mensalão, após admitir em 2005, em CPI, ter recebido do PT dinheiro de caixa dois no exterior.

Baiano da cidade de Tucano, a 250 quilômetros de Salvador, Santana é filho de um fazendeiro, beneficiador de sisal. Na escola, ganhou o apelido de Patinhas, quando era tesoureiro do grêmio estudantil. Foi com essa alcunha que, nos anos 1970, fundou e foi um dos letristas da banda Bendegó.

Santana já se casou sete vezes e sua atual mulher, Mônica, é sua sócia. O marqueteiro é apreciador de vinhos e, quando não está trabalhando, um de seus destinos preferidos é Paris.

Considerado um “gênio” desde a campanha de 2006, quando reelegeu Lula no auge do mensalão, Santana tem sido alvo de críticas, inclusive no PT, depois da difícil campanha de 2014. O discurso adotado para reeleger Dilma é apontada como responsável por parte das dificuldades enfrentadas pela petista em seu primeiro ano do segundo mandato.

Ao discursar em reunião do Diretório Nacional do PT, em outubro do ano passado, Lula admitiu que o PT reelegeu Dilma com um discurso diferente do que está sendo praticado.

Na campanha, Dilma disse que não mexeria em direitos trabalhistas “nem que a vaca tussa”, mas ao ser reeleita mudou as regras de acesso a benefícios como o seguro- desemprego, o que foi considerado quebra de palavra pelas centrais sindicais.

Santana também criou o boneco “Pessimildo” para rebater as previsões do candidato do PSDB, Aécio Neves. O país, no entanto, enfrenta recessão econômica e aumento do desemprego. A principal tarefa de Dilma tem sido um ajuste fiscal para tentar amenizar os efeitos da crise.

Essa não foi a primeira vez que Santana foi alvo de críticas. Em 2008, a propaganda da então candidata do PT à prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy, perguntava ao eleitor se ele sabia se o então prefeito Gilberto Kassab ( DEM), candidato à reeleição, era casado ou tinha filhos, insinuando que ele seria homossexual. A peça foi um tiro no pé de Marta, que acabou derrotada.

O marqueteiro também causou polêmica, em outubro de 2013, ao afirmar à revista “Época” que Dilma seria reeleita em primeiro turno porque ocorreria uma “antropofagia de anões”. Ele se referia aos então pré- candidatos Marina Silva, que tentava criar a Rede; Aécio Neves ( PSDB) e Eduardo Campos ( PSB).

Marina acabou disparando nas pesquisas após a morte de Campos. Dilma investiu no ataque a Marina, e foi para o segundo turno com Aécio.