Educação dos filhos é cara e exige disciplina

Mariana Areias 

14/02/2016

O maior patrimônio que um país pode ter é um povo bem educado. Não há como falar em crescimento econômico sustentado e em distribuição de renda sem um sistema escolar de qualidade e eficiente. Mas, para as famílias que buscam dar o melhor ensino aos filhos e, para isso, recorrem ao sistema privado, a educação se tornou um fardo do ponto de vista financeiro. No ano passado, em média, os custos aumentaram 9,24%, a maior alta desde 2004.

Dependendo da escola escolhida, os gastos com a educação de uma única pessoa ao longo de 23 anos de vida podem passar de R$ 1,2 milhão a valores de hoje (mais de R$ 52 mil por ano). Essa quantia não inclui futuras correções, como as das mensalidades escolares que, em 2015, foram reajustadas entre 15% e 17%. Leva em conta o que uma família de classe A, com renda mensal de R$ 25 mil, gasta para formar um filho, desde seu nascimento. O cálculo considera, além das mensalidades, alimentação na escola, cursos diversos, como de línguas, material, transporte e a mesada que muitos recebem.

Entre famílias da classe B, os gastos por filho, também ao longo de 23 anos, podem chegar a R$ 617,9 mil (quase R$ 27 mil anuais). Um filho da nova classe C custa, em média, quase R$ 300 mil, supondo que não haverá despesas no período da pré-escola. Segundo o Instituto Nacional de Vendas e Trade Marketing (Invent), que monitora tais despesas, sem um bom sistema de controle nos gastos, a educação pode ficar ainda mais cara, chegando a R$ 2 milhões por pessoa das classes mais abastadas, R$ 948 mil no caso de um integrante da classe B e R$ 407 mil entre aqueles da classe C. Nesses casos, o ensino se dá em tempo integral.

Por isso, é preciso muito cuidado ao administrar as finanças da família. Se uma gravidez planejada significa plenitude e amor, os adoráveis bebês podem conquistar corações, mas esvaziar a carteira dos pais. O momento exige organização. Pensar no futuro requer tirar a calculadora da gaveta e colocar os gastos na ponta do lápis. Em média, as despesas com educação consomem 34% da renda das famílias da classe A, 39% dos ganhos dos lares de classe B e 45% dos orçamento da classe C.

Ajuste

Mãe de Maria Luísa Medeiros, 9 anos, e grávida dos gêmeos Helena e José, a professora Talyta Medeiros, 28, explica como investe na educação da mais velha. Ela gasta cerca de R$ 1.500 por mês com a educação da pequena. “A Malu foi a primeira filha e, claro, tem muitas coisas que os gêmeos, infelizmente, não terão”, diz. Maria Luísa já possui um plano de previdência privada feita por Talyta e pelo marido Taunay Junior, 30, servidor público. “Temos um apartamento alugado. Com o dinheiro do aluguel, investimos no futuro de Malu. Não abro mão disso. Para os gêmeos, penso em seguir o mesmo caminho”, afirma Talyta.

A surpresa de que a gravidez geraria duas vidas assustou Talyta e o marido. “Não havíamos pensado em gastos em dobro e que teríamos que nos esforçar para manter o padrão de estudos da Maria Luísa, além de oferecer o mesmo para os gêmeos”, frisa Talyta. Ela admite que será difícil que os caçulas estudem em escolas tão boas e façam tantas atividades extracurriculares quanto a mais velha.

“Além de frequentar uma das melhores escolas de Brasília, a Malu fazia balé e natação. Mas tivemos que tirá-la dessas atividades extras por conta dos gastos com a gravidez”, comenta Talyta. A menina, por sinal, já entendeu que as coisas vão mudar e que terá que ajudar a família na educação dos irmãos. “Os gêmeos começarão os estudos em escolas menores. Assim, conseguiremos nos manter sem muito sufoco”, conclui.

Futuro

Colégios muito caros não são sinônimos de futuro brilhante, diz Mauro Calil, educador financeiro e fundador da Academia do Dinheiro. Para ele, a forma como os pais investem na educação dos pequenos precisa ser avaliada de acordo com o padrão da família e com as expectativas de futuro da criança. “Há pais que optam por colocar os filhos em colégios mais baratos, pois, assim, podem pagar bons cursos de inglês, de informática e intercâmbios. Isso pode ser muito positivo e saudável. Agora, não existe uma regra única. É preciso pensar de forma mais ampla, analisar todas as condições para que se garanta uma boa educação e equilíbrio financeiro da família”, explica.

Quando pensa em escola, cursos e atividades complementares, a recepcionista Regilene Carvalho, 36, não esconde a preocupação. Mãe de Daniel, 7, e de Lorena, 16, ela conta que os primeiros passos escolares da mais velha foram em colégio particular e que não pensava em recorrer ao ensino público. Mas, depois do nascimento do caçula, os planos mudaram. “Já consegui inscrever a Lorena em aulas de inglês em uma escola pública, pois, assim, consigo pagar. Penso muito na educação dos meninos. Acho importante que façam muitos cursos”, afirma.

Regilene lamenta nunca ter conseguido fazer uma reserva financeira para melhorar a qualidade do ensino dos filhos, mas diz que é capaz de tirar o básico dela para atender às necessidades escolares dos jovens. Com renda familiar de R$ 2 mil, a recepcionista se diz frustrada por não conseguir arcar com todas as expectativas escolares dos filhos “Neste ano, quero me organizar melhor financeiramente para dar mais oportunidades aos meninos. É triste quando eles me pedem um curso e eu não consigo bancar.”

 

Opção

No entender de Maurco Calil, diante do custo que se tem hoje com a educação privada, cada vez mais cara, é preciso cogitar a possibilidade de transferir os filhos para o ensino público, de forma a preservar as finanças da família. Para muitos brasileiros, essa troca se tornou rotina desde o ano passado, devido ao aprofundamento da recessão econômica e à disparada da inflação, que fizeram o desemprego crescer e provocaram queda na renda média dos trabalhadores.

 

Correio braziliense, n. 19256, 14/02/2015. Economia, p. 7