No dia em que a oposição intensificou a mobilização pró-impeachment da presidente Dilma Rousseff, deputados do PT e do PC do B pediram ontem ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que a Polícia Federal investigue o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) por supostos crimes de evasão de divisas, corrupção passiva e crime contra a ordem tributária.

Para embasar o pedido, os deputados citam a entrevista da jornalista Mirian Dutra, com quem Fernando Henrique teve um relacionamento extraconjugal nos anos 1980 e 1990, na qual ela diz que o ex-presidente teria usado a empresa Brasif Exportação e Importação para enviar ao exterior remessas de dinheiro para ela entre 2002 e 2006, por meio de contrato fictício.

Em nota divulgada na semana passada, FHC afirmou nunca ter utilizado “qualquer empresa, exceto bancos, para a remessa de recursos a pessoas no exterior”. Segundo ele, todas as remessas internacionais que realizou obedeceram estritamente à lei, e foram feitas a partir de contas bancárias declaradas e com recursos próprios resultantes de seu trabalho.

A Brasif, que foi concessionária das lojas Duty Free em aeroportos, confirmou ter contratado a jornalista em 2002 por meio da empresa Eurotrade LTD., mas disse que FHC “não teve qualquer participação” na contratação e “tampouco fez qualquer depósito na Eurotrade ou outra empresa da Brasif”.

No pedido de investigação feito a Cardozo, deputados do PT e PC do B citam ainda reportagens publicadas em 2000 sobre negócios entre o ex-presidente e seu então sócio e ex-ministro das Comunicações Sérgio Motta (morto em 1998). Os textos citam a compra de uma fazenda em Unaí (MG).

“As matérias mencionadas levantam dúvidas quanto a conduta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e devem, por este motivo, ser apuradas”, afirma o pedido elaborado pelo deputado Wadih Damous (PT-RJ). Segundo ele, o ministro da Justiça se comprometeu em enviar o pedido ao diretor-geral da PF, Leandro Daiello.

‘Intimidade’. No requerimento, os deputados dizem que “não se trata de adentrar na intimidade da vida amorosa do ex-presidente”. “No entanto, os fatos relatados podem ser tipificados como crime de evasão de divisas, corrupção passiva e crime contra a ordem tributária. Mas sem prejuízo a outros eventuais crimes que surjam na investigação.”

O líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA), afirmou que o pedido foi elaborado por um grupo do PT e do PC do B formado após a divulgação da entrevista de Mirian Dutra pelo jornal Folha de S.Paulo. “Ao invés de fazermos uma condenação prévia e uma espetacularização da vida pública, apresentamos uma peça jurídica pedindo a investigação”, disse Florence.

Único do PC do B a assinar o pedido, Rubens Júnior (MA) afirmou que o interesse do grupo é que haja apuração e que ela se mantenha no âmbito da Polícia Federal, não no campo político. Também assinaram o pedido os deputados petistas Bohn Gass (RS), Chico D’Angelo (RJ), Jorge Solla (BA), Henrique Fontana (RS), Moema Gramacho (BA), Paulo Pimenta (RS) e Vicente Cândido (SP).

‘Dúvidas’

“As matérias mencionadas levantam dúvidas quanto a conduta do ex-presidente (...) e devem, por este motivo, ser apuradas”

Wadih Damous (PT-RJ)

DEPUTADO FEDERAL