Título: Golpe no coração do terrorismo
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 01/10/2011, Mundo, p. 24

Avião não tripulado mata Anwar Al-Awlaqi, líder operacional da Al-Qaeda na Península Arábica. Extremista esteve envolvido em vários complôs contra os Estados Unidos. Barack Obama comemora a nova façanhaNotíciaGráfico

O ataque foi planejado, preciso e coordenado. Primeiro, um avião fez um disparo contra o grupo que fazia uma refeição no chão da casa onde viviam, a 8km da cidade de Khasehf, na província de Al-Jawf, e a apenas 140km de Sanaa, capital do Iêmen. Assustados, todos correram em direção a uma camionete Toyota. Às 10h (4h em Brasília), uma aeronave não tripulada (drone) da CIA ¿ a agência de inteligência dos Estados Unidos ¿ lançou um míssil Hellfire que pulverizou o veículo. Entre os sete mortos, estão os norte-americanos Anwar Al-Awlaqi e Samir Khan, líderes da Al-Qaeda na Península Arábica.

Considerado pela Casa Branca um extremista tão perigoso quanto Osama bin Laden, Al-Awlaqi havia assumido o cargo de chefe operacional da organização. Nos últimos anos, mantinha obsessão em realizar atentados contra os EUA: foi ele quem recrutou o nigeriano Umar Faruk Abdulmuttallab, o homem que tentou detonar uma bomba escondida na cueca, a bordo do voo 253 da companhia Northwest Airlines, em 25 de dezembro de 2009. Al-Awlaki, de 40 anos, também teria influenciado o major norte-americano Nidal Hassan a executar 13 pessoas na base de Fort Hood (Texas), um mês antes. O paquistanês Faisal Shahzad confessou ter se inspirado nele ao pretender explodir um carro-bomba em plena Times Square, em Nova York.

A ordem para eliminá-lo partiu do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ainda no ano passado. "A morte de Anwar Al-Awlaqi é um golpe muito duro contra o braço mais ativo da Al-Qaeda", comemorou ontem o mandatário, em uma base militar perto de Washington. "Esse sucesso é um tributo à nossa comunidade de inteligência, e aos esforços do Iêmen e de suas forças de segurança, que têm trabalhado conosco ao longo dos últimos anos", emendou. Segundo Obama, o clérigo radical Al-Awlaqi e sua organização foram responsáveis pelas mortes de muitos cidadãos iemenitas. "Sua ideologia odiosa tem sido rejeitada pela vasta maioria dos muçulmanos", disse. "Não se enganem: isso é uma prova a mais de que a Al-Qaeda e seus associados não encontrarão abrigo seguro em nenhum lugar do mundo."

Em entrevista ao Correio, Magnus Ranstorp ¿ especialista em terrorismo pelo Colégio de Defesa Nacional Sueca ¿ admitiu que Obama obteve importantes sucessos na luta para degradar a liderança da Al-Qaeda. "Oito de 20 líderes, incluindo Bin Laden, foram mortos. Os americanos preveem uma derrota da rede em até 24 meses", afirmou, por e-mail. O analista crê que os ataques com aviões espiões contra líderes da Al-Qaeda não somente foram decisivos, como mudaram o jogo nos esforços dos EUA para destruir a rede. "É impressionante que as autoridades iemenitas, em coooperação com os EUA, tenham sido bem-sucedidas, apesar do levante nas ruas de Sanaa."

Internet Segundo Ranstorp, Al-Awlaqi incorporou a importância da internet na radicalização de muçulmanos no Ocidente. "Suas palestras e sermões eram populares nos círculos extremistas. As autoridades ocidentais estavam preocupadas", lembra. Al-Awlaqi publicou sete edições da revista online Inspire ("Inspirar", em inglês), por meio das quais estimulou o recrutamento de terroristas e ensinou como fabricar bombas e se proteger dos serviços secretos.

Apesar de considerar a importância de Al-Awlaqi, o norte-americano Brian O"Neill ¿ especialista em Iêmen baseado em Chicago ¿ explica que ele não era o comandante do grupo. "A liderança consiste nos iemenistas Nasir Al-Wahayshi e Qasim Al-Raymi e no saudita Said Al-Shiri. São bem mais cruéis, mas não se pode dizer que Al-Awlaqi representasse pouco perigo", comentou, por e-mail. O"Neill aposta que o "braço de alcance ocidental" da Al-Qaeda na Península Arábica poderá agonizar. "A entidade é a mais séria ameaça da militância islâmica. Com uma liderança sólida, esperta e paciente, terá um campo de operações quase perfeito no caso de uma guerra civil e da deposição do presidente Ali Abdullah Saleh."